Steve foi um dos maiores líderes da luta contra o “apartheid”. Sindicalista e líder socialista sul-africano ‘Steve’ Biko cujo nome completo é Stephen Bantu Biko (18/12/1946-12/09/1977) foi um grande lutador é dele a célebre frase “Racismo e capitalismo são os dois lados de uma mesma moeda” slogan do Movimento Negro Socialista (MNS).
Em 2011, se vivo fosse ‘Steve’ Biko estaria completando 65 anos de idade e hoje faz 34 anos de seu impiedoso, obscuro e vil assassinato praticado pela repressão do imposto regime de minoria branca sul-africana por meio da Lei Apartheid (1948-1993).
Muita gente por aí utiliza seu nome defendendo o contrário de suas idéias e do combate político, que lhe custou a vida.
Biko nasceu em um vilarejo de população negra, Ginsberg, situado na periferia da cidade King William´s Town, na região leste da África do Sul.
A África do Sul é um rico país do continente africano cujo nome – após o fim da Lei Apartheid – chegou a ser chamado de Azânia, sem que se tornasse oficial.
Por ter nascido em um país de ampla maioria negra, Biko desde criança revelou o chamado espírito rebelde com causa, para depois abraçar uma das mais belas causas: o socialismo. Ainda menino foi expulso da escola, depois foi enviado como interno para um colégio católico na província (cidade) de Natal onde estudou até concluir o Ensino Médio. Em seguida, por causa da Apartheid, Biko matriculou-se na seção para estudantes negros da faculdade de Medicina de Natal.
Logo se engajou em atividades políticas, filiando-se na União Nacional dos Estudantes Sul-Africanos (NUSAS é a sigla em inglês). Nesta entidade Biko ficou pouco tempo, pois, considerava-a um movimento dominado por estudantes mukalas (brancos) embora fossem liberais. Em 1969 ele liderou a fundação da South African Students Organization (SASO): a Organização de Estudantes Sul-Africanos que passou a prestar serviços de assistências médicas e jurídicas gratuitas às comunidades negras. Na revista da SASO Biko utilizou o pseudônimo de Frank Talk (conversa franca) como responsável pela coluna “Escrevo o que eu quero”.
Em 1972, junto com outras lideranças e movimentos, ele participou da fundação da convenção de Povos Negros que reuniu mais 70 associações. Uma delas se tornou emblemática porque, sendo um massivo movimento estudantil, esteve no foco dos episódios mais sangrentos ocorridos durante o Apartheid, que foram os protestos protagonizados por crianças e adolescentes negros que exigiram o Ensino em suas línguas nativas e inglês, recusando-se ao idioma oficial do Apartheid, o africâner. Tais levantes ficaram mundialmente conhecidos, sobretudo os que ocorreram em Soweto. Dados extra-oficiais dão conta da morte de mais 300 menores, entre eles Hector Pieterson, 13 anos de idade.
A foto do menino Pieterson mostrando-o todo ensangüentado nos braços do irmão deu a volta ao mundo, tornando-se um dos símbolos da luta contra a racista Lei Apartheid. Em 1973, por sustentar um regime racista e segregacionista, a Lei Apartheid levou à intensificação da repressão aos opositores, com o governo passando a submeter o povo ao “banimento”, uma tentativa der calar-lhes. Naquele ano, Biko foi proibido de sair de King William´s Town assim como de falar e ou escrever sobre os seus ideais políticos. Para se ter idéia da dureza do “banimento” ele (Biko) não podia se encontrar com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Porém, ele desafiou a proibição algumas vezes.
Biko participou de reuniões políticas, inclusive proferindo pronunciamentos, e por isso foi preso e interrogado em numerosas ocasiões, a última em agosto de 1977.
Naquele agosto, já casado e pai de dois meninos, Biko voltava de um comício quando foi preso pela repressão na cidade de Port Elizabeth. Dali em diante o obscurantismo da racista Apartheid e do segregacionista regime se abateram impiedosamente sobre, Steve Biko.
Biko diferentemente do CNA (Congresso Nacional Africano) de Nelson Mandela e do Partido Comunista Sul Africano, era contrário a um governo de união nacional com os partidos burgueses. 20 anos depois (1997) a Comissão da Verdade (sic) e Reconciliação saiu com este cão: “Biko sofreu uma lesão na cabeça durante um interrogatório (tortura), depois disto, ele passou a agir de forma estranha, não cooperando mais. Os médicos que o examinaram (acorrentado, nu e deitado em uma esteira) ignoraram os claros sinais de danos neurológicos”.
Prosseguindo o martírio sofrido por Biko, em 11 de setembro de 1977 ele entrou em estado de semi-consciência, tendo o médico da polícia recomendado que fosse encaminhado para um hospital. A recomendação não foi atendida. Ao contrário, a polícia na prática o transladou 1200 km em uma viagem de 12 horas até a capital sul-africana Pretória, totalmente despido e deitado na parte traseira de um jipe caminhonete Land Rover. Horas depois da chegada, já no dia 12 de setembro, ainda nu e solitário em uma cela, Biko faleceu, por evidente dano cerebral. Seu assassinato foi condenado internacionalmente, sua saga entrou definitivamente para a história.
O governo sul-africano respondeu repressivamente sobre organizações e até sobre pessoas como o jornalista e amigo de Biko, Donald Woods, idealizador do filme inspirado na vida de Biko “Cry Freedom (Grito de Liberdade)” do diretor inglês Richard Attemborough. O intrépido jornalista arriscou a vida ante a Apartheid, disfarçado de sacerdote conseguiu fugir para Londres de onde passou a fazer um alerta mundial sobre o caso Biko e a combater aquela Lei racista e segregacionista, uma lei sustentadora do autoritário (na prática, de estilo nazi-fascista) regime capitalista sul-africano de minoria branca.
Pressionado, o governo sul-africano inicialmente alegou que Biko morrera em decorrência de greve de fome. Mas, um corajoso juiz sentenciou que a morte de Biko foi causada pelos severos danos cerebrais sofridos em um confronto com a polícia.
Assim, 20 anos depois do assassinato de Biko, em 1997, quando o anistiado Nelson Mandela assumiu o poder, é que vários policiais decidiram abrir a boca, requerendo também anistia à apelidada Comissão da Verdade e Reconciliação. Esta acabou reconhecendo que a morte sob detenção de Biko constituiu-se em “uma flagrante violação dos direitos humanos”. Por consequência, negando anistia aos policiais envolvidos.
Duas músicas intituladas “Biko” o homenageiam. Uma na voz do inglês Peter Gabriel e a outra na voz da estadunidense Joan Baez. Por fim, esta outra frase lapidar de Biko: “Se somos livres no coração, não haverá correntes feitas pelo homem com força suficiente para sujeitar-nos. Mas, se a mente do oprimido é manipulada (…) até o ponto dele se considerar inferior, não será capaz de fazer nada para enfrentar o seu opressor”.
Fica nestas poucas palavras nossa homenagem a Stephen Bantu Biko, estupenda figura entre os grandes lutadores deste mundo, por liberdade, por igualdade, um dos homens imprescindíveis, como diz o poema de Bertold Brecht.
Biko Presente!
Almir Silva é militante e membro da Coordenação do MNS- Rio de Janeiro
José Carlos Miranda é membro do Diretório do PT de Caieiras e da Coordenação Nacional do MNS- São Paulo