O fechamento de fábricas como a Ford evidencia que os patrões sugam a riqueza produzida pelos trabalhadores e depois os descartam quando não são mais úteis a seus interesses Foto: Reprodução

Em defesa da vida e dos empregos, abaixo o governo Bolsonaro!

Um novo ano inicia e deveria trazer consigo a esperança de dias melhores. Porém, sob o capitalismo, as tragédias de 2020 prosseguem em 2021. A pandemia bate recordes de mortes, a crise econômica atinge o proletariado em todo o mundo com o aumento da miséria, da fome, do desemprego. No Brasil, a Ford anuncia o fechamento de todas as suas fábricas, o que significará, segundo a empresa, a demissão de 5 mil trabalhadores no Brasil e na Argentina, sem contar os milhares de postos de trabalho indiretos que serão afetados. Mercedes-Benz, Sony, Yoki, também anunciam fechamento de fábricas. Já o Banco do Brasil, preparando o caminho para a privatização, anuncia o fechamento de 361 unidades e um Programa de Desligamento Extraordinário que tem o objetivo de alcançar 5 mil demissões. Assim começou 2021 para a classe trabalhadora.

A vacina contra o novo coronavírus, a perspectiva de pôr fim ao horror de tantas mortes evitáveis, esbarra na lentidão para a vacinação massiva da população mundial, mais uma consequência dos entraves do capitalismo. O compartilhamento da tecnologia desenvolvida pelas vacinas mais eficazes, a cooperação, um planejamento unificado e internacional, propiciaria uma imunização muito mais ágil do que a anarquia do livre mercado, que gera gargalos na produção, na distribuição, na produção de seringas e mesmo de pessoal capacitado para aplicação em cada país. Até a última segunda-feira (11/01), cerca de 28 milhões de pessoas no mundo teriam recebido ao menos uma dose de vacina, comparando com a população mundial, estimada em 7,8 bilhões de habitantes, isso representa a vacinação de apenas 0,36% da população global.

No Brasil, as declarações negacionistas do governo Bolsonaro buscam encobrir a incompetência total em organizar a vacinação, o que enraivece ainda mais os próprios capitalistas, que apostam na vacina para uma retomada da economia. Enquanto isso, o governador paulista João Doria busca capitalizar politicamente a CoronaVac para a disputa pela presidência em 2022. Conseguir que esta vacina, atacada por Bolsonaro como “a vacina chinesa de João Doria”, seja a primeira aplicada no Brasil, certamente pode render pontos ao governador na corrida ao Palácio do Planalto. Não seria surpreendente a Anvisa buscar atrasar a liberação da CoronaVac por interesses políticos e não científicos, enquanto Bolsonaro tenta agilizar a chegada das vacinas de Oxford/Astra-Zeneca, a aposta do governo federal. Enquanto estas disputas pelo poder se desenrolam, o país ultrapassa a marca de 200 mil mortes oficiais pela Covid-19 e a média de mortes diárias volta a ultrapassar a marca de mil vítimas, o sistema de saúde entra em colapso em diversas regiões. Os governantes, seguindo os interesses do capital, não adotam medidas para garantir o distanciamento social e em vários locais, mesmo com o agravamento do quadro, anunciam o retorno das aulas presenciais. Em defesa das vidas proletárias, nós defendemos o retorno das aulas presenciais só após uma massiva vacinação da população e lutamos por vacina para todos já!

A crise no império

Na maior potência mundial, os EUA, os dados da pandemia também são trágicos. Em um único dia, 7 de janeiro, foram contabilizadas 4.112 mortes. Em Los Angeles, as ambulâncias foram orientadas a não levar aos hospitais os pacientes com poucas chances de sobreviver, diante da superlotação. A crise econômica atinge em cheio o país, os dados mais modestos, do censo governamental, mostram que 26 milhões de americanos enfrentam a insegurança alimentar, ou seja, passam fome. Outras pesquisas elevam este número para 58 milhões de americanos.

A crise econômica, a gestão desastrosa da pandemia por Trump, catalisaram a explosão de fúria vista através do movimento Black Lives Matter. Tudo isso desembocou na derrota de Trump nas eleições para o democrata Joe Biden, o candidato preferido da maioria da burguesia imperialista.

Há uma profunda crise política no país e Trump joga gasolina na situação, desmoralizando ainda mais a supostamente exemplar democracia americana. A invasão do Capitólio na semana passada, longe de significar uma tentativa real de golpe, foi mais uma cartada de Trump para mostrar que o “trumpismo”, apesar de derrotado nas urnas, não está morto, preparando o terreno para ser oposição a Biden. (Leia mais sobre a situação nos EUA no artigo A “insurreição” de Trump e o caos da democracia burguesa dos EUA)

Foto: Tyler Merbler
Trump, ao mesmo tempo, não está em uma situação confortável. Derrotado, está em choque com a burguesia do país, cada vez mais isolado no próprio partido e, apesar de conservar uma base significativa, está longe, como alardeiam os impressionistas, de ter uma base unida e organizada capaz de realizar um golpe.

O perigo do fascismo na próxima esquina segue sendo um espantalho levantado por diferentes setores da própria esquerda para todo tipo de capitulação, inclusive de colocar-se a reboque do Partido Democrata. A Corrente Marxista Internacional nos EUA, por sua vez, fiel ao princípio de independência de classe, não deu nenhum apoio à candidatura de Biden e combate no movimento operário e da juventude pela construção de um partido da classe trabalhadora.

PT, PCdoB, PSOL e a conciliação de classes

A mesma adaptação ao suposto “mal menor” se dá por aqui. Vimos nas eleições municipais de 2020 a série de alianças de PT, PCdoB e PSOL com partidos da burguesia, em nome da unidade para derrotar o bolsonarismo. A mesma lógica se dá agora na disputa para a presidência da Câmara e do Senado.  PT e PCdoB integraram na primeira hora o bloco articulado por Rodrigo Maia (DEM), que lançou a candidatura de Baleia Rossi (MDB) para a presidência da Câmara contra o candidato apoiado pelo governo, Arthur Lira (PP). Se na Câmara ainda há o argumento de derrotar o candidato de Bolsonaro, toda a adaptação e traição do PT ficam evidentes na disputa no Senado, onde o partido fechou apoio ao candidato apoiado por Alcolumbre (atual presidente do Senado) e… Bolsonaro!

No PSOL, deputados e dirigentes vergonhosamente têm defendido a entrada no bloco de Maia. Alguns setores do PSOL buscam dar um verniz de esquerda à sua posição: lançar uma candidatura própria no primeiro turno, mas já com o compromisso de votar no candidato da oposição burguesa, Baleia Rossi, em um eventual segundo turno. O princípio da independência de classe é mais uma vez pisoteado e este caminho só pode levar o PSOL a aprofundar a adaptação ao regime, seguindo os passos trilhados pelo PT.

Fechamento de fábricas e luta pela estatização

Em 2019, a Ford anunciava o fechamento de sua planta em São Bernardo do Campo. Os militantes da Esquerda Marxista foram às assembleias dos operários explicando para a base o que fez o Movimento das Fábricas Ocupadas, movimento dirigido por nossa organização que ocupou dezenas de fábricas pelo país, mantendo a produção sob controle dos trabalhadores e levando o combate pela estatização das empresas. Os operários da Ford de São Bernardo tinham todas as condições de travar o mesmo combate, com milhares de trabalhadores na base, no palco de lutas históricas do proletariado brasileiro, um apelo pela solidariedade do conjunto da classe trabalhadora do país teria um grande impacto. Mas a direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, dirigido pela mesma ala que controla o PT, limitou-se a negociações com a direção da empresa, ineficazes campanhas de boicote de compra dos veículos da Ford, a convocação de alguns atos na cidade e, diante do irreversível fechamento, chegaram a se propor a ajudar a buscar um comprador para a fábrica. A planta de São Bernardo foi fechada e os trabalhadores demitidos. Agora, a Ford anuncia o fechamento das outras três fábricas no país.

O governador da Bahia, Rui Costa, do PT, seguindo a linha dos dirigentes sindicais de São Bernardo, diante do fechamento da planta da Ford em Camaçari, adota como grande medida oferecer a montadoras da China, Japão e Coréia do Sul o investimento no Estado. Para completar, ao jogar a culpa para o governo federal, inclui entre as críticas o atraso da Reforma Tributária, ou seja, a contrarreforma que prevê desonerações para as empresas.

Diante do avanço do fechamento de fábricas, a luta consequente em defesa dos postos de trabalho nada tem a ver com a busca por novos patrões, ou reivindicar melhores condições para o investimento de empresas no país. Só a luta independente da classe trabalhadora pode abrir uma saída.

A reivindicação do Movimento das Fábricas Ocupadas, de estatização das fábricas, foi negada pelo governo Lula, que disse na época que a estatização estava fora do cardápio e reprimiu o movimento. Agora, o ex-deputado federal e ex-presidente do PT, José Genoíno, está propondo para a CUT e os parlamentares petista que apresentem um projeto de lei para nacionalizar a Ford e diz ainda que as fábricas devem ser ocupadas pelos operários para lutar por essa medida. Ou seja, a mesma posição defendida pelo movimento que a Esquerda Marxista dirigiu e que continuamos defendendo como método de luta e bandeira para avançar no combate em defesa dos postos de trabalho. (conheça mais sobre o Movimento das Fábricas Ocupadas)

Movimento das Fábricas Ocupadas apontou luta pela estatização como uma saída para os trabalhadores

O fechamento de fábricas evidencia uma vez mais que os patrões sugam a riqueza produzida pelos trabalhadores e descartam friamente estes mesmos trabalhadores quando não são mais úteis a seus interesses. Burgueses e proletários são duas classes com interesses antagônicos, a conciliação de classes é o caminho para a derrota dos trabalhadores.

Abaixo o governo Bolsonaro!

Partidos ditos de esquerda e direções sindicais buscaram bloquear durante 2019 o “Fora Bolsonaro”, lançado pela Esquerda Marxista, pressionados pela base, aderiram e agiram para desvirtuar seu conteúdo em 2020, dando o sentido de Fora Bolsonaro em 2022, nas próximas eleições, em aliança com setores da burguesia. Nós seguimos dizendo que não é possível suportar mais dois anos deste governo ultraliberal que, obviamente, não se colocará a estatizar fábricas ocupadas pelos trabalhadores. Para defender a vida, os empregos e direitos do proletariado,  é preciso pôr abaixo agora o governo Bolsonaro com a mobilização e a luta de massas e abrir caminho para um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais.

A luta de classes é o motor da história e ela segue a todo vapor, no Brasil, nos EUA, no mundo. A situação trágica segue seu curso, fruto de um sistema em decadência. Mas tudo isso eleva também o ódio das massas, a consciência de que algo radical precisa ser feito para pôr fim a tanta dor e sofrimento, ou seja, cada vez mais pessoas chegam a conclusões revolucionárias. Os trabalhadores têm força e capacidade de lutar e vencer, abrir uma saída, atropelando os dirigentes que se colocam em seu caminho, forjando sua organização e sua liderança. O socialismo não é um sonho utópico, ou uma boa ideia a ser saudada em dias de festa, é uma necessidade para o progresso da humanidade, para impedir a caminhada em direção à barbárie. Com confiança em nossa classe, no futuro socialista, vamos ao combate em 2021! Junte-se à Esquerda Marxista e à Corrente Marxista Internacional!