Publicamos aqui a homenagem escrita por David Rey ao camarada Ángel Perouch, membro do Comitê Executivo Internacional da Internacional Comunista Revolucionária (ICR) e dirigente da seção argentina, que nos deixou na última quinta-feira.
Ángel foi um verdadeiro comunista internacionalista. Combateu pela construção da ICR na Argentina e no mundo. Jogou um papel fundamental na constituição de nosso grupo no Chile e esteve presente em inúmeras atividades no Brasil nos últimos anos, participando com regularidade de Congressos e de reuniões do Comitê Central da seção brasileira.
Com sua simpatia e amabilidade, estabeleceu laços de amizade com muitos camaradas no Brasil. Estava sempre disposto a explicar a história da luta de classes na Argentina e a situação política no país, em reuniões internas, atividades públicas e no diálogo com camaradas.
O falecimento de nosso camarada Ángel é uma grande perda para a luta pelo comunismo na Argentina e internacionalmente. Transmitimos aqui toda nossa solidariedade e apoio à família, amigos e aos camaradas da seção argentina, que perderam seu principal e mais experiente dirigente.
Em frente camaradas! Devemos seguir o combate pelo qual Ángel dedicou toda sua vida, a construção de um mundo novo, livre dos horrores do capitalismo, um mundo comunista. Venceremos!
Camarada Ángel, presente!
Comitê Central da OCI, seção brasileira da ICR
07 de dezembro de 2024
“O corpo permanece na terra, mas as ideias permanecem de pé.” (Victor Hugo)
Com muita dor e comoção tomamos conhecimento do falecimento de nosso querido camarada Ángel Perouch, dirigente da Organização Comunista Militante, seção argentina da Internacional Comunista Revolucionária (ICR). Ángel sofreu um ataque cardíaco repentino na noite de 5 de setembro e nada se pôde fazer para salvar-lhe a vida. Sua repentina morte é ainda mais injusta porque nada podia prever este desenlace fatal e quando mais necessitávamos de sua paixão e talento para os explosivos acontecimentos revolucionários que estão por chegar, a começar pela Argentina.
O movimento revolucionário argentino, e não só a ICR, perde um camarada de valor extraordinário, cujos compromisso e abnegação com a causa dos oprimidos eram amplamente reconhecidos por todos os que compartilharam com ele sua luta militante, seja nas esferas política, social ou sindical. Da manhã à noite, dia após dia, toda a sua atenção e dedicação estavam orientadas à causa que o guiou durante toda a sua vida consciente, a luta pelo socialismo internacional.
Ángel era um trabalhador bancário e um ativista sindical destacado em seu grêmio, La Bancaria, até que se aposentou há menos de um ano. Recebeu sua aposentadoria como um ato de libertação, não para almejar descanso e ócio vazios, mas para elevar ainda mais seu compromisso militante.
Conheci Perouch, junto a sua companheira Verónica, na primavera do ano de 2005 ou no início de 2006, não me lembro exatamente, em sua casa de Granadero Baigorria, próximo de Rosario, sua cidade natal. Visitei-os em sua casa, acompanhado por um veterano militante de Rosario que se havia unido brevemente à nossa corrente, e que o havia me recomendado com entusiasmo como um militante muito capaz e conhecido em Rosario.
Eles, e um núcleo de militantes de Buenos Aires e de sua área metropolitana, tinham acabado de romper com um pequeno grupo, o POR. Este, por sua vez, havia se formado anos atrás como consequência da expulsão burocrática de mais de uma centena de militantes do Partido Obrero de Jorge Altamira. Mas a militância de Ángel podia ser rastreada desde muitos anos atrás, quando era estudante adolescente antes do golpe militar de 1976, na UES (Unión de Estudantes Secundarios), uma organização estudantil vinculada ao peronismo revolucionário. Posteriormente, já durante a ditadura, entrou em contato e se vinculou à Política Obrera, um grupo trotskista que, após a queda da ditadura, mudaria sua denominação para Partido Obrero.
Depois de semanas de conversas e debates, Ángel, Vero e um par de seus camaradas, decidiram ingressar na Corrente Marxista Internacional (CMI), a antecessora da ICR, na primavera de 2006. Isto foi muito valioso, porque sendo o nosso grupo muito pequeno então, e circunscrito a Buenos Aires, muitos ativistas que se aproximavam de nós e que compartilhavam nossas ideias e programa, evitavam a se comprometer ao ver um aparato tão modesto como o nosso.
Eles se uniram pelas ideias e não pela atração de um aparato, o que deu ao seu compromisso político uma força granítica que se manteve até o final. Passamos por bons e maus momentos, numa situação de extraordinária fermentação na sociedade argentina dentro de um nível de atividade e luta incomuns. Não era fácil abrir caminho naquelas circunstâncias, com dezenas de grupos revolucionários de todos tipos e tamanhos, marcados pelo sectarismo e pela ausência de políticas de frente única, que era a nossa principal bandeira de agitação.
Ángel tinha personalidade, defendia suas ideias com convicção; não aceitava sem discussão uma proposta, uma ideia, havia que trabalhar duro, exigia ser convencido e se propunha a convencer. Era o primeiro militante, dava o exemplo (dedicando tempo à causa, à distribuição de material político, à obtenção de recursos econômicos, a desenvolver o trabalho combinado) e inspirava os demais a segui-lo. Essa força de caráter era imprescindível para se dar coesão a um grupo pequeno e isolado em difíceis circunstâncias. Não obstante, não seria justo não mencionar aqui o papel de sua companheira de toda a vida, Vero, que não ficava para trás em termos de compromisso, personalidade e entrega. Na realidade, ambos formavam uma equipe e se estimulavam mutuamente, arrastando aos demais com sua determinação.
Por razões políticas, voltei ao Estado espanhol na primavera de 2013 para continuar minha militância, e Ángel, sem trabalhadores liberados pela organização, incrementou o seu compromisso ainda mais com a responsabilidade de coordenar e dirigir o grupo. Seu espírito militante não fraquejou por um só momento. Conseguiram com notável esforço comprar uma máquina impressora para publicar o jornal mensal e inclusive panfletos e livros.
Depois de um dedicado trabalho, conseguiram estender a organização a novas áreas que hoje estão presentes em Rosario, na Grande Buenos Aires, em Córdoba, Santiago del Estero e também em Misiones.
Internacionalista até a medula, Ángel participou de reuniões e debates da Internacional como parte de sua liderança eleita e, ademais, apoiando o desenvolvimento do trabalho no Chile.
Após sua aposentadoria há alguns meses, neste curto período de tempo até sua morte repentina, ele trabalhou incansavelmente ao lado de seus camaradas para relançar a organização, que foi renomeada como Organização Comunista Militante.
Nos últimos 10 anos, desde que saí da Argentina, via a ele e a Vero 2 ou 3 vezes por ano: em reuniões internacionais da ICR e também na Argentina, onde costumo viajar todos os anos por motivos familiares. Assim nunca perdemos o contato, o tratamento e o carinho que sempre tivemos um pelo outro ao longo dos anos.
Longe está de minha intenção pintar um Ángel sóbrio e espartano. Nada mais longe da realidade. Por ser tão grande, o Ángel militante não era sequer a metade da personalidade do homem. Sobretudo, Ángel amava a vida e dela desfrutar. Como “bon-vivant”, gostava de uma boa comida, de viajar, das tertúlias com amigos e camaradas. Ángel se destacava por sua vitalidade, por seu extraordinário senso comum e também por seu humor, e compartilhava com todos os trabalhadores argentinos uma enorme generosidade e amabilidade pessoal.
Nestes momentos tão difíceis, queremos enviar todo o nosso carinho e solidariedade a Vero, ao filho de Ángel, León, a sua irmã Patricia e aos demais familiares, e a todos os camaradas argentinos.
Despedimo-nos comovidos e doloridos pela partida injusta e prematura de nosso camarada, de nosso amigo Ángel Perouch. Lutador incansável desde a adolescência até o último suspiro. Ele continuará animando e alentando nossa luta revolucionária a partir da memória de seu exemplo militante. Nunca o esqueceremos!