Ensaio sobre o 1º de maio de 2020

(…) E o nosso primeiro de maio nunca foi como foi o de 2020.

Neste ano não se teve trabalhadores mobilizados reivindicando e lutando por seus interesses históricos e nem aglomeração em grandes eventos/shows com sorteios de carros, geladeiras ou motocicletas, patrocinados por sindicatos e centrais sindicais que traíram os verdadeiros interesses da classe trabalhadora. Não aconteceram passeatas com palavras de ordens pedindo melhores condições de trabalho ou pelo fim do desemprego, exceto em Brasília onde alguns trabalhadores fizeram manifestação em frente ao palácio da presidência, em homenagem aos trabalhadores da saúde. Não aconteceram reuniões para elaborar estratégias de intervenções e lutas. Manifestações aconteceram, apenas, por via virtual. Entretanto, milhares de trabalhadores estavam enterrando familiares, parentes e amigos que morreram contaminados pelo coronavírus (neste dia chegou a 6.412). Outros trabalhadores estavam nos hospitais internados (92.202 casos confirmados) infectados pelo vírus “da moda” ou estavam obtendo informações sobre o estado de saúde destes ou, ainda, estavam nas filas esperando atendimento para, daí entrar para a estatística dos infectados ou mortos.

Muitos outros trabalhadores estavam trabalhando naqueles setores considerados essenciais como nos hospitais, nos transportes, nos supermercados, nos laboratórios, nos meios de comunicação e outros setores mais. Só não havia mais trabalhadores trabalhando por causa do isolamento social colocado em prática por alguns governadores, embora com a contrariedade do presidente da república. Presidente esse, degenerado e sórdido, representante do capital financeiro e um serviçal de Donald Trump que declarou guerra aos trabalhadores. Logo no início da pandemia, Bolsonaro liberou R$ 1,3 trilhão aos bancos e já anunciou a liberação de outros três trilhões e decretou que as empresas podem demitir livremente, suspender os contratos de trabalho ou cortar até 70% do salário. Ataca o isolamento social, receita cloroquina e diz que igreja é um serviço necessário e deve ser aberta. Para ele e seus comparsas, não importa a vida dos trabalhadores, eles são descartáveis.

Outros muitos trabalhadores estavam nas filas, desde a madrugada, para sacar os míseros –  mas fundamentais R$ 600,00 – concedidos pelo governo para amenizar o sofrimento dos trabalhadores de baixa renda ou que estão entre os mais de 40 milhões que trabalham na informalidade ou, ainda, que estão entre os 13 milhões de desempregados cuja reforma trabalhista e da previdência em nada contribuiu para diminuir.

Simultaneamente a esta realidade de sofrimento, tristeza e desesperança para a classe trabalhadora, a alta burguesia brasileira efetivava seu isolamento em suas grandes mansões nos centros urbanos, rurais ou em suas ilhas particulares ou, ainda, em seus iates bem longe de qualquer ameaça da covid-19. Longe fisicamente, mas, muito perto em sonhos e desejos dessa alta burguesia, algumas pessoas da chamada classe  média ou pequena burguesia, foram para as ruas de algumas poucas cidades e em seus carros importados ou não, luxuosos e caros, em suas motocicletas e até de bicicletas, se manifestaram pelo fim do isolamento, pela reabertura total dos comércios e isso próximo a hospitais públicos e de campanha, evidenciando o total desrespeito que parte desta classe tem aos trabalhadores doentes ou não, empregados ou desempregados.

Assim, o primeiro de maio de 2020 foi muito diferente dos anteriores. Este foi marcado por internações em hospitais, mortes, sepultamentos de milhares de trabalhadores sem, entretanto, um tiro ser disparado; uma bomba ter explodido ou um prédio desabado. A classe trabalhadora, atingida em cheio pelo coronavírus e abandonada pelo Estado que efetiva propostas ultraliberais não encontrou nos sindicatos e centrais sindicais o instrumento para a superação da sua difícil situação. Suas lideranças correm para assinar acordos de diminuição de salário para salvar empregos e estão mais preocupadas em formar a unidade nacional para minimizar a crise do capitalismo e chamam para passar suas mensagens aos trabalhadores lideranças que historicamente sempre estiveram contra a classe trabalhadora tais como Fernando H. Cardoso, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre e, para que tais mensagens cheguem mais facilmente aos trabalhadores, Lula e Dilma se sujeitam ao papel. Neste primeiro de maio, juntamente com as tristezas oriundas da grande pandemia do século 21, as lideranças sindicais mostraram sua real cara, a da traição.

Os trabalhadores não mereciam essa atitude das lideranças sindicais e políticas que buscam unidade com os carrascos e exploradores da classe trabalhadora. A situação exige muito mais das lideranças sindicais. Exige ações efetivas de luta contra o capital e seus representantes. Exige luta contra as negociações individuais de trabalho; contra a redução de salário; contra as demissões. Exige, de nós, da Esquerda Marxista a efetiva organização dos trabalhadores nos comitês FORA BOLSONARO para atuar na defesa das conquistas já efetivadas pelas lutas dos trabalhadores, pelo fim do pagamento das dívidas interna e externa e pela conquista da estatização dos bancos, do sistema financeiro, do setor farmacêutico e dos serviços essenciais, principalmente, dos serviços hospitalares. Com os trabalhadores organizados pelo viés da Corrente Marxista Internacional e pela Esquerda Marxista será possível, logo que a pandemia acabar, lutar nas ruas pelo fim do capitalismo, pela realização do socialismo internacional e pela unidade dos trabalhadores em todo o mundo.