A crise do sistema capitalista, que se aprofunda com a pandemia da coronavírus, demonstra o quanto a burguesia continua insaciável pelos lucros, expondo grande parte dos operários em jornadas de trabalho desgastantes, independente da crise sanitária e das recomendações de ficar em casa, apontadas pelos infectologistas.
Em Santa Catarina, as medidas de mitigação através de uma quarentena extremamente curta não foi suficientes para conter os números de infectados. Acada dia cresce o número de contaminados. No dia 17 de maio, quando editamos esta entrevista, eram 4776 casos e 83 mortes decorrentes do Covid-19. Esses números não refletem os dados com precisão, pois não são realizados testes suficientes para coletar dados.
O Comitê de Ação Fora Bolsonaro que integra estudantes e trabalhadores de Joinville, Itajaí e Rio Negrinho vem realizando entrevistas com trabalhadores sobre sua realidade concreta em meio à pandemia. A entrevista que segue foi com Ângelo Vitar, de 22 anos, trabalhador da construção civil, que continua trabalhando normalmente, exposto ao risco.
Ângelo, há quanto tempo você está no local onde trabalha?
Faz um pouco mais de um ano que presto serviço para essa empresa, como funcionário registrado são seis meses.
Como está a rotina no seu local de trabalho durante a pandemia provocada pelo novo coronavírus?
Não houve uma mudança em si na rotina de trabalho. Nós continuamos fazendo nossos horários e trabalhando normalmente. Durante a primeira semana de quarentena, até chegamos a parar por um breve período, mas logo voltamos antes mesmo da categoria ser liberada para voltar a ativa. As pequenas e médias obras espalhadas pela cidade nem sequer pararam.
O seu local de trabalho orientou sobre o vírus e as formas de prevenção? A empresa cedeu equipamentos de proteção individual, máscaras, álcool gel, luvas ou outros necessários?
Sim, fizeram uma breve orientação genérica sobre o que estava acontecendo e disponibilizaram álcool em gel e máscaras para todos. A questão é que não existe ainda um convencimento sobre a gravidade das coisas. Por isso, se torna fácil ver trabalhadores abrindo mão das recomendações para prevenção, é comum ver o desapego que as pessoas têm no que está acontecendo e substituir por teorias absurdas para justificar o que está aí fora.
Qual o número de funcionários, mais ou menos, do seu local de trabalho? Houve demissão ou afastamento?
São entre 15 e 20 funcionários ligados à empresa, entre fichados, autônomos e terceirizados para determinadas funções. Não houve afastamento ou demissão nesse período, mas existe uma preocupação: se as atividades forem paralisadas todos os trabalhadores terão seus salários e garantia de emprego afetados.
Você sabe de alguém no seu local de trabalho que ficou doente?
No meu local de trabalho não, mas nem todo mundo trabalha no mesmo lugar o tempo todo, então é difícil de saber ao certo. Outra coisa preocupante é o aumento nos casos de acidente de trabalho, parece que as pessoas, com tudo o que está acontecendo, passaram a se preocupar menos com a própria segurança, começaram a desligar e cometer erros que colocam por fio a vida.
Você se sente seguro em relação ao seu emprego? Qual o clima na sua empresa?
Eu acho que não existe mais segurança em relação a nada. Nós levantamos todos os dias e vamos trabalhar pela necessidade de sobreviver, pagar nossas contas e parece que mais nada importa. Não foram aderidas políticas públicas para beneficiar e garantir a nossa segurança e saúde, o que eles fazem hoje é o que eles vem fazendo há muito tempo, enchendo os bolsos e jogando migalhas para os trabalhadores.
Qual tem sido a postura do sindicato que abrange sua categoria em relação à pandemia?
Nosso sindicato não é ativo na luta e não nos representa. Mas com a proporção que a pandemia alcançou ele foi forçado a se mexer, passou a acompanhar obras fazendo a checagem dos funcionários através de termômetro. Isso apenas em obras pré selecionadas.
Como você avalia as ações do governo do estado de Santa Catarina no combate à pandemia?
Temos que entender que o governador e sua camarilha não estão ao nosso lado. Em nenhum momento ele tomou medidas que confrontassem os interesses dos ricos, grandes empresários e banqueiros. Um exemplo é a própria quarentena, defendida inicialmente pelo governador Moisés, mas que não precisou de muita “pressão” para que fosse flexibilizada. E onde isso nos levou? A um salto nos casos de contágio e, consequentemente, de mortes. O que podemos perceber é a ruptura desse governador e de tantos outros com o governo federal, o reflexo da crise na burguesia tentando se manter no poder.
Como você avalia as ações do governo Bolsonaro no combate à pandemia?
O Bolsonaro é a cara da barbárie e da decadência do capitalismo. Os ataques que ele vem realizando nós já sofremos há muito tempo, mas hoje é feito de uma forma mais direta, afinal, ele não se preocupa em colocar uma máscara (o que já vimos que ele não sabe fazer) para garantir isso. Mesmo com toda a sua imbecilidade, ele ainda consegue concretizar o que se propôs a fazer desde o início, defender os interesses dos ricos e aprofundar a submissão do país ao imperialismo internacional.
Tem outras informações que queira nos dar?
Precisamos nos organizar. Nos organizar porque o mundo que está aí fora não serve para nós trabalhadores e povo pobre, cada dia isso fica mais evidente. Não temos acesso à educação e saúde de qualidade e muito menos garantia de emprego e salário dignos para todos. A crise que vivemos deixa claro as contradições da nossa realidade, enquanto quem está no poder faz seus churrascos, nós temos que colocar ainda mais nossas vidas em risco para tentar sobreviver. Por isso, apenas a união dos de baixo contra os de cima é capaz de enfrentar quem nos explora todos os dias, fazer uma mudança radical na sociedade e atender as necessidades básicas da classe. Não temos mais tempo, em breve teremos que escolher entre o socialismo ou a barbárie!