A Organização Comunista Internacionalista (OCI) reuniu seus militantes em Joinville nos dias 22 e 23 de novembro para a Escola Nacional de Quadros 2025. O tema debatido nesta edição foram os erros cometidos pela direção da 4ª Internacional após a Segunda Guerra Mundial, que a impediram de cumprir a sua tarefa histórica.
Neste primeiro dia de atividade, Luz Bicalho explicou os erros cometidos por Michel Pablo sob a perspectiva das razões políticas da pressão da luta de classes que se abateu sobre a direção da 4ª Internacional.
Bicalho iniciou sua intervenção demonstrando a importância dessa discussão, uma vez que o que se passou na crise da direção da 4ª Internacional foi a origem teórica de elementos que aparecem na teoria burguesa e na esquerda atualmente.
Para fazer essa análise, é preciso considerar alguns aspectos importantes da política revolucionária. Primeiro, que o marxismo é uma ciência e um guia para a ação revolucionária, ou seja, uma ciência aplicada. Em segundo lugar, que partimos de uma base teórica expressa concentradamente no “Manifesto do Partido Comunista”, que reconhece que a história da humanidade é a história da luta de classes e que, no modo de produção capitalista, o antagonismo de classes está reduzido a duas classes: a burguesia e o proletariado. E, por fim, que, apesar de vivermos uma época revolucionária, os antigos partidos da classe operária passaram para o lado da ordem burguesa, deixando de defender os interesses dos trabalhadores e a necessidade de construir uma direção internacional da classe trabalhadora. Nesse contexto está a importância do “Programa de Transição” ao compreender que a tarefa estratégica do período atual consiste em superar a contradição entre a maturidade das forças produtivas e a imaturidade política do proletariado e de sua vanguarda. Essa é a tarefa que cabe à 4ª Internacional. Por que ela não foi cumprida? O que aconteceu no meio do caminho?

O mundo no contexto de fundação da 4ª Internacional
Para responder a essas questões, Bicalho reconstituiu o mundo do período em que a 4ª Internacional foi fundada. A Segunda Guerra Mundial foi o produto de uma disputa entre países imperialistas que só conseguiram levar a cabo o conflito por um conjunto de derrotas impostas à classe trabalhadora. Na Alemanha, o esmagamento da classe trabalhadora pelo nazismo permitiu a Hitler armar o país para a guerra. Na Inglaterra, a derrota aos trabalhadores veio de um acordo firmado entre os conservadores e a social-democracia. E, na URSS, o massacre da antiga direção do Exército Vermelho e os acordos da burocracia stalinista com o nazismo. Ou seja, a guerra não foi apenas uma disputa entre potências, mas uma expressão da luta de classes, e o resultado do conflito deve ser analisado também sob esse aspecto.
As conferências de Yalta e Potsdam representaram um acordo de Stalin com o imperialismo, dividindo o mundo, e a classe trabalhadora, sob diferentes forças de influência. E, mesmo tendo a oportunidade de expandir a URSS para toda a Europa, o aparato stalinista preferiu criar Estados independentes, com o fim de evitar a revolução. Tanto que, imediatamente após o conflito, surgem revoluções na Grécia, Iugoslávia e Albânia. Enquanto nos dois últimos ocorreu a implantação de um Estado operário burocratizado, na Grécia a guerra civil entre 1945 e 1948 só chegou ao fim porque o Partido Comunista stalinizado impôs a deposição das armas pelos trabalhadores. Também uma série de revoluções ocorreu na Ásia nos anos posteriores à guerra.
A falência da 4ª Internacional se deu em razão da incapacidade da direção de interpretar os acontecimentos sob a perspectiva da luta de classes. A direção da 4ª Internacional capitulou diante dos impressionistas que defendiam que o mundo estava dividido em zonas de influência.
Revisão teórica e os erros políticos
Dessa incompreensão política deriva um grande processo de revisão teórica pela direção da 4ª Internacional. A luta de classes é substituída pela luta entre potências; o papel histórico do proletariado é substituído pela URSS. Ou seja, o Estado operário degenerado que era a URSS é que se oporia ao capitalismo, e não o proletariado.
Outra conclusão equivocada de Michel Pablo foi a de que haveria frações regeneráveis no stalinismo e, a partir disso, o papel da 4ª Internacional seria o de mapear e se somar a essas correntes. Bicalho esclareceu que, mesmo que houvesse diferenças nas frações da burocracia stalinista, as divergências entre elas eram no sentido de competir para ver quem melhor poderia negociar com o imperialismo. Em comum, essas frações tinham a defesa do Estado operário burocratizado, ou seja, dos seus privilégios. O objetivo da disputa era buscar transitar para se tornar uma burguesia. Ao propor aliar-se a essas correntes, Pablo deixa de lado a revolução política na URSS, ou seja, a necessidade de derrubar a burocracia como parte da revolução operária no mundo todo.
Pablo também errou ao deixar de lado a revolução política, ainda que falasse do tema em abstrato. Uma expressão prática disso foi o abandono da luta pelas revoluções proletárias. O programa proposto por Pablo dividia a ação da 4ª Internacional em três caminhos diferentes: revoluções coloniais, revoluções proletárias nos países imperialistas e reformas políticas nos Estados operários burocratizados ou deformados. Assim, a unidade mundial do proletariado e da luta de classes é colocada de lado.
Michel Pablo e a direção da 4ª Internacional começaram revisando o Programa de Transição e acabaram construindo uma política que levou à sua liquidação. O partido da 4ª Internacional deixou de ser um partido que faria a revolução para ser um partido auxiliar da burguesia nacionalista ou dos stalinistas — seja por revoluções coloniais ou reformas da burocracia. É para aprender com esses erros e reconstruir uma Internacional digna do seu nome, com base no legado de Trotsky, que realizamos esta escola de quadros.
Organização Comunista Internacionalista (Esquerda Marxista) Corrente Marxista Internacional


































