Esta Popular Crise Econômica Mundial

Desemprego nos EUA já é o maior em 25 anos.

Não se tem notícia de uma crise econômica mundial tão popular como a atual. No pequeno estado das Alagoas, no coração do nordeste brasileiro, ela é noticiada em ensolaradas bancas de revistas como uma coisa incrivelmente familiar à população: “Em protesto aos efeitos da crise econômica mundial, que teve como principal impacto a redução no Fundo de Participação dos Municípios, as 102 prefeituras do Estado fecham as portas hoje. O ato também prevê a suspensão dos serviços de secretarias e escolas” (O Jornal de Alagoas, 02 abril 2009).

Não existia nada parecido em nenhum ciclo anterior mais recente (o último foi em 2000-2001). Essa surpreendente popularidade é uma coisa nova. Coisa da globalização? Em parte. Mas o principal determinante é a própria crise, quer dizer, sua particular profundidade, extensão, e perspectivas sombrias que já assombram o dia-a-dia da população.

É sempre bom lembrar que os ciclos não se repetem monotonamente, no ritmo de intermináveis bolhas especulativas, como querem os economistas do sistema. Em geral, o impacto de um determinado ciclo periódico (que se repete atualmente, em média, a cada seis anos) sempre é mais geral e destrutivo do que o anterior. Nesta dinâmica, as crises parciais acumulam fatores constitutivos de possível crise geral (catastrófica) a se manifestar em determinado ciclo à frente.

Estaríamos então adentrando neste ciclo atual em uma crise geral, catastrófica? Talvez. O certo é que essa possibilidade (por enquanto apenas possibilidade) é a melhor explicação para a incrível popularidade desta crise atual. Se essa explicação for verdadeira, repetimos, o cenário de uma crise geral, catastrófica (até agora o menos provável, em nossa avaliação) desloca perigosamente o cenário de crise parcial, ainda o mais provável.

“VOCÊ PODE SER O PRÓXIMO”

A despeito da inaudita parafernália de pacotes dos capitalistas com dinheiro público para salvar o capital fictício global, quer dizer, o capital produtor de juros e outras rendas, o que tem mantido Wall Street e outras importantes praças financeiras mundiais respirando por aparelho, o cenário mais provável de crise parcial está cada vez mais ameaçado por movimentos do capital real, quer dizer, o capital industrial produtivo de mais-valia e capital.

A taxa de desemprego nos Estados Unidos, por exemplo, pulou em Março para o nível mais elevado desde 1983, de acordo com relatório divulgado em 03 de Abril de 2009 pelo Departamento do Trabalho (BLS). A taxa de desemprego saltou de 8,1% em Fevereiro para 8,5% em Março. É uma sanguinária velocidade.

Importante observação: esta taxa de desemprego, escolhida pelo BLS como parâmetro oficial de desemprego, teria que ser multiplicada por dois (marcando desemprego algo em torno de 16% da população economicamente ativa) se fosse computado também o desemprego oculto, quer dizer, aquela parte da população empregada “precariamente” ou “marginalmente”: tempo parcial involuntário, atividades informais, estrangeiros ilegais, etc.

Como notam rapidamente os economistas do BLS no relatório citado, o número de trabalhadores envolvidos nessas formas “precárias” e “marginais” de trabalho dobrou de tamanho nos 12 últimos meses. Calcularemos com mais detalhe em outro boletim essa taxa real de desemprego, com a qual trabalhamos para nossos cenários de crise. Como salientamos em boletins anteriores, essa taxa real de desemprego nos EUA deve situar-se em torno de 25% na virada de 2009 para 2010. Seria socialmente ingovernável, e corresponderia ao cenário de crise geral que falamos acima.

A população trabalhadora mundial já sente de maneira prática, em todos os poros do planeta, essa realidade de devastadores fundamentos do mais potente choque periódico de superprodução de capital dos últimos setenta anos. A manifestação mais concreta (e mais popular) dessa percepção do perigo é a situação do emprego e do desemprego.

Nos Estados Unidos, economia de ponta e coração do sistema, onde a coruja da crise catastrófica global faz o ninho, a popularidade da crise chega principalmente pelo pavor ao desemprego: “Para muitos americanos, este desabamento do emprego tem sido uma estranha experiência. Sarah Opple, 42 anos, foi despedida em Fevereiro do emprego de vendedora no Gaylord Hotels de Chicago depois de ter se mantido com vários empregos na área hospitalar desde os 17 anos de idade. “É muito mais real para mim agora”, disse ela em entrevista no dia 26 de Março. “Esta crise é muito mais concreta que as outras. Ela faz todo mundo sentir que você pode ser o próximo!” (Bloomberg News, 03/04/2009).

* Este texto foi publicado no boletim Crítica Semanal da Economia.

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