Estados Unidos: militante da ICR pode pegar 90 dias de prisão por distribuir panfletos aos colegas de trabalho

No dia 10 de junho, o camarada Milos Minos, membro da seção norte-americana da Internacional Comunista Revolucionária (ICR), comparecerá ao tribunal por um delito incomum: discutir salários e condições de trabalho com os seus próprios colegas de trabalho no Aeroporto Internacional de Mineápolis.

Ao enfrentar um delito menor de “discurso constitucionalmente protegido em uma área não designada”, Milos pode ser condenado a até 90 dias atrás das grades, tudo isso por distribuir panfletos contendo dados econômicos, que foram publicados no site público do próprio aeroporto.

Aparentemente, é normal que os patrões discutam estes números nas suas salas de reuniões e os divulguem em seus relatórios financeiros, mas quando os trabalhadores os discutem no trabalho, isso se converte em um delito penal. Acontece que é uma ameaça à segurança que os trabalhadores sejam informados sobre o dinheiro que estão gerando para os seus empregadores, se a discussão ocorrer além dos portões de segurança das empresas.

O Comunista recebeu mensagens de solidariedade de trabalhadores do aeroporto inspirados pelo folheto e indignados com a repressão contra Milos:

Ao reservar um tempo para ler o panfleto, os trabalhadores concordaram com tudo. Eles estão indignados com os fatos. Este aeroporto fatura enormes somas, com preços superiores de 2 a 3 vezes a média normal. Enquanto empresários imperialistas famintos caminham pelo terminal pensando no próximo lanche, a classe trabalhadora está no limite, vivendo de um dia para o outro, vendo seus colegas serem demitidos a torto e a direito, fazendo horas extras para manter um aeroporto cheio de empresas mal administradas. Quase todos os trabalhadores me perguntaram: “O que vem a seguir?

É assustador ver quão facilmente nós, os trabalhadores, podemos ser ameaçados pelo sistema legal por expressarmos as nossas ideias. É desumano comparado à distinção que eles querem que demos aos clientes. Precisamos de mudança!

Milos definitivamente deixou um impacto. Não pense que ficou em silêncio depois que eles foram escoltados para fora do aeroporto. Meus colegas de trabalho e eu estamos indignados com o fato de Milos ter sido demitido por exercer a liberdade de expressão. Tudo por causa de um panfleto? Eu realmente acredito que o aeroporto MSP não apoia os seus trabalhadores. Ao invés de tornarem as coisas justas para os seus trabalhadores, eles fazem de tudo para evitar ficarem expostos como exploradores dos seus trabalhadores.

Todos os fatos e estatísticas contidos no panfleto que circulava vieram do próprio site do aeroporto. Nós, como funcionários dos restaurantes do aeroporto, estamos com falta de pessoal e sobrecarregados. Concordo com todos os fatos que foram afirmados. Não concordo com a demissão do funcionário por utilizar seus direitos de liberdade de expressão.

Milos trabalhou no Minneapolis-St. Paul durante três anos e é um dos vários camaradas da RCA que formaram uma célula comunista lá, em um local de trabalho com 21.200 funcionários.

“Tudo começou com uma discussão sobre a economia marxista”, disse Milos. “Eu estava estudando Salário, Preço e Lucro, de Karl Marx, com camaradas do partido, e aprendi que a jornada de trabalho é dividida entre o tempo de trabalho necessário, no qual produzimos o valor que cobre nossos próprios salários, e o tempo de trabalho excedente, no qual produzimos o valor que vai para os lucros da classe capitalista.”

Isso os fez pensar sobre o seu próprio local de trabalho no aeroporto e quanto do trabalho de seus colegas vai para encher os bolsos dos patrões.

“Bastou uma rápida pesquisa na internet e, vejam só, todas as estatísticas econômicas estavam bem na minha frente.” Milos encontrou um relatório financeiro publicado no site do aeroporto. “A melhor parte foi que o próprio aeroporto divulgou publicamente esses dados.”

O relatório afirmava claramente que os 21.200 funcionários do aeroporto ganham 1,3 bilhões de dólares em salários anuais e geram 3,9 bilhões de dólares em PIB direto. O trabalhador médio gera 183 mil dólares por ano, mas só recebe 61 mil dólares em salários, ou seja, os trabalhadores recebem um terço do valorgerado pelo seu trabalho. Dito de outra forma, o funcionário médio de um aeroporto em tempo integral, que trabalha 260 dias por ano, trabalha essencialmente 173 desses dias de graça.

O camarada não perdeu tempo. “Na verdade, eu estava no trabalho quando descobri esses números.” Ali mesmo, na sala de descanso, Milos arrancou uma página de um caderno, fez um primeiro rascunho do folheto e foi até alguns colegas de trabalho. Um deles, cozinheiro, trabalha em dois empregos no aeroporto, das 4h às 21h, todos os dias.

“Você trabalharia de graça?” Milos perguntou a ele. “Claro que não!” o cozinheiro respondeu. Milos entregou-lhe o folheto: “bem, você já trabalhou”. À medida que os trabalhadores liam as informações na página, seus queixos caíam. Imediatamente, começaram a fazer planos para distribuir o folheto por todo o aeroporto.

“Meus colegas de trabalho ficaram furiosos ao ler o rascunho do folheto”, disse Milos. “Levei cerca de uma semana para preparar e imprimir centenas de cópias do folheto. Toda vez que eu aparecia para trabalhar naquela semana, meus colegas de trabalho me perguntavam: ‘Então você já tem o folheto?’ Eles estavam muito entusiasmados para tê-lo em mãos”, completou.

Só quando o panfleto começou a circular entre os trabalhadores é que o seu verdadeiro poder se tornou claro.

“Quando eu entregava um folheto a um trabalhador e dizia: ‘isto é sobre você’, eles viam o título da capa que dizia ‘A exploração dos trabalhadores do Aeroporto MSP’, sorriam e me agradeciam de forma calorosa e sincera, e imediatamente o abriam.” O sorriso divertido nos rostos dos trabalhadores transformou-se em expressões de indignação à medida que os trabalhadores processavam o que liam.

“Eles olhavam para mim e diziam: ‘isso é verdade? O que vamos fazer sobre isso?’ Todos os trabalhadores sabem que estamos sendo ferrados, mas raramente temos os números expostos diante de nós em preto e branco.”

Muitos trabalhadores ficaram tão entusiasmados com o folheto que se ofereceram para ajudar a distribuí-lo aos demais colegas de trabalho. Eventualmente, os folhetos foram distribuídos por atendentes de bares, bagageiros, cozinheiros e até gerentes.

“Um dia, um dos meus supervisores me disse que precisávamos conversar. Vi meu folheto em sua mão e meu estômago embrulhou. Mas depois ele me disse: ‘este folheto é incrível, é uma ideia tão boa!’ e tornou-se um dos distribuidores! Mais tarde, eu o vi distribuindo-os a todos os funcionários atrás do balcão de seu restaurante, e todos começaram a lê-los na hora.”

Milos descreveu a distribuição de panfletos aos funcionários do aeroporto que viajavam de trem para o trabalho. “Eu passava por um vagão de trem, entregando-o a qualquer pessoa com crachá do aeroporto. Quando chegava ao fim do vagão, olhava para trás e via todos eles lendo atentamente.”

Os trabalhadores também distribuíam os folhetos entre si, independentemente de Milos ou dos outros distribuidores. “Eu entregava um folheto a alguém e eles me diziam: ‘meu colega de trabalho já me deu um. É uma bagunça estarmos sendo explorados dessa forma.’”

Em tempo real, os panfletos estavam se tornando uma sensação, mas também traziam consciência de classe para o local de trabalho. Os trabalhadores, que nunca tinham encontrado um comunista antes, estavam aprendendo em termos concretos o que é a luta de classes. “Estávamos planejando fazer pausas para descanso ao mesmo tempo a fim de discutir marxismo com os trabalhadores que queriam saber o que podemos fazer sobre isso. Vários trabalhadores manifestaram interesse na RCA.”

Um dia, dois detetives do aeroporto apareceram no local de trabalho de Milos, com o folheto nas mãos. Eles acusaram Milos do delito de “discurso constitucionalmente protegido além do portão de segurança” e procederam ao confisco do crachá do camarada no aeroporto. “Eles me escoltaram fisicamente para fora do aeroporto na frente de todos os meus colegas de trabalho. Meu telefone começou a explodir com mensagens de texto de preocupação e apoio.” Milos recebeu uma ligação do RH informando que eles haviam sido demitidos. Não está claro quem exatamente chamou os detetives, mas um gerente informou mais tarde ao camarada que o folheto havia chegado ao Diretor de Operações do Centro-Oeste do aeroporto e que os executivos do aeroporto consideraram o folheto “ofensivo”.

Aconteça o que acontecer no tribunal em 10 de junho, os patrões não nos viram pela última vez.

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.