Agora, tal qual em 1929, o imperialismo dos EUA é o centro da crise e se encontra debilitado, não podendo repetir o que fez ao final da I Grande Guerra.
Li um artigo de um jornalista do New York Times no final de agosto que me chamou muito a atenção. Hoje, quando a Europa é sacudida por greves que ameaçam o velho mundo capitalista e as batalhas em torno de medidas protecionistas se aprofundam junto com a competição, por meio das chamadas guerras de moedas (na verdade tentativas tíbias de controle do cambio para salvar as exportações de cada um), retomo aqui o artigo de Thomas L. Friedman pois ele ilustra de modo claro e direto o que hoje ocorre nos EUA.
Diz Thomas: “No decorrer das últimas semanas eu tive a oportunidade de conversar com autoridades econômicas importantes nos Estados Unidos e na Alemanha, e creio que descobri em que situação nós nos encontramos. Nós nos encontramos mais ou menos no seguinte pé: as coisas estão melhorando, exceto onde elas não estão melhorando. Os bailouts (operações de resgate financeiro de empresas em dificuldades) estão funcionando, exceto onde eles não estão funcionando. Devagar, as coisas melhorarão, a menos que elas, devagar, piorem. E nós deveremos saber o que acontecerá em breve, a menos que não venhamos saber” .
Ao final da I Grande Guerra, as burguesias estavam feito baratas tontas, menos uma: A burguesia dos EUA. Trotsky explica isso em seu artigo de 1921 (Europa e América) onde demonstra que a Europa entrara em declínio e os EUA emergiam como força principal no mundo imperialista.
Agora, tal qual em 1929, a crise começa nos EUA
Trotsky explicava que, em um primeiro momento, depois de um colapso (no caso a primeira grande guerra) a burguesia tem que arranjar antes de tudo sua própria casa. Ou seja, colocar seus negócios em ordem, recuperar o que foi destruído, e ao mesmo tempo controlar as massas.
Isso normalmente é precedido de um período onde cada burguesia fica girando em um redemoinho de incertezas. Depois da I Guerra, por ter acumulado forças produtivas e por ter ficado fora da guerra, quem reuniu forças para se impor sobre novas bases, foi os EUA, que emprestavam capitais aos países arruinados e impunham a eles suas condições.
Agora, tal qual em 1929, o imperialismo dos EUA é o centro da crise e se encontra debilitado, não podendo repetir o que fez ao final da I Grande Guerra.
Basta dar uma simples olhadela nas manchetes dos jornais ligados a assuntos econômicos e veremos o que se passou e o que está por vir. Em 2009 PIB dos EUA fechou o ano com queda de 2,4%, a maior desde 1946. Foi a primeira queda anual registrada pelo PIB dos Estados Unidos desde 1991, quando a contração foi de 0,2%. A queda, no entanto, foi a mais acentuada desde 1946, quando a economia se reduziu em 10,9%.
Hoje é comum ver uma quantidade enorme de pessoas dormindo nas ruas de várias cidades dos EUA, dependendo da caridade pública. Um cenário que faz lembrar aspectos da vida na década de 1930-40.
Desde o início da recessão, em dezembro de 2007, a economia dos Estados Unidos perdeu mais de 8,4 milhões de postos de trabalho, e embora o crescimento tenha sido retomado timidamente desde a segunda metade de 2009 não houve criação de empregos.
O índice de desemprego esteve igual ou acima de 9,5% durante 14 meses consecutivos, superando o período de 13 meses entre 1982 e 1983, até então o espaço de tempo mais longo de alto desemprego desde 1948. Somando-se a isto o subemprego e os que deixaram de procurar emprego, chega-se a um número de aproximadamente 20% da força de trabalho.
Agora os EUA estão metidos em guerras no Iraque e Afeganistão, com um pé no Paquistão. A Europa não se recompõe e as greves preocupam inclusive os reformistas que já não podem mais manter a balela de que o capitalismo seria o reino dourado dos céus na terra.
O problema estrutural se chama capitalismo
Segundo o jornalista já anteriormente citado os EUA acabaram de encerrar mais de uma década de crescimento alimentado por dívidas, “durante a qual nós tomamos dinheiro emprestado da China para que pudéssemos nos presentear com uma redução de impostos e outras regalias, sem que tivéssemos, entretanto, reduzido os gastos ou feito investimentos de longo prazo em novos catalizadores de crescimento”.
Segundo Thomas: “O governo está mais endividado e tem mais obrigações futuras do que nunca” . E necessita ampliar o sistema de saúde, ampliar os recursos destinados à manutenção das guerras. O jornalista informa ainda que . “os membros da geração nascida entre 1946 e 1964, estão prestes a se aposentar” e não há crescimento econômico real para cobrir todos esses custos.
Ainda segundo o jornalista, seria necessário que os EUA iniciassem uma nova onda de inovação tecnológica, criando novas opções de empregos com maiores salários, para não perder mão de obra para outros países e estimular sua própria economia. Isso demanda tempo, investimentos. Ao meio de um tufão, no máximo dá para pregar as janelas e as portas e torcer para que a casa não seja destelhada ou levada pelo vendaval.
A economia global necessita também de uma Europa saudável. Mas para desgraça geral a União Européia, um mercado que os EUA babam para abocanhar, segundo o embaixador dos gringos na Alemanha: “…a União Européia depara-se com a possibilidade de entrar em colapso” .
Ao que parece os Estados Unidos e a Europa, precisam urgentemente concertar as bases, as fundações da suas moradas. Tudo necessita de grandes consertos estruturais. Mas o diabo é que os trabalhadores são os que manuseiam as rodas das engrenagens da produção e parecem que não estão muito dispostos a meterem a mão em cumbuca para arrumar as casas dos patrões. A conclusão é inevitável: ou a classe operária avança na direção da construção de suas organizações revolucionárias e na direção do socialismo ou teremos pela frente um longo e duradouro período em que a crise continuará, com momentos de subidas suaves na economia, marasmo ou quedas, pequenas e grandes.