Em Janeiro de 2009, o número de soldados americanos que se suicidaram superou o número de soldados americanos mortos em combate nas guerras imperialistas.
Em 2008, o número de suicídios nas forças armadas estadunidenses aumentou uma vez mais: foram confirmados 128 suicídios e outros 15 estão sob investigação. Os números vêm aumentando desde 2004. Como assinalamos anteriormente, um grande número desses suicídios não é considerado de fato suicídio, e sim mortes sob suspeita (como o caso de LaVena Johnson e outros). Contudo, mesmo desconsiderando essas mortes, os números continuam alarmantes.
Tudo leva a crer que as coisas vão piorar em 2009. Como Paul Rieckhoff, diretor dos Veteranos do Iraque e do Afeganistão, assinalou: “Em Janeiro, perdemos mais soldados devido a suicídios do que pela Al-Qaeda”. Por “Al-Qaeda” ele quer dizer, naturalmente, mortos em combate. E ele está certo! Como a Associated Press divulgou recentemente, “A contagem provavelmente superará o número de mortos em combate no mês passado, mesmo somando-se todos os batalhões das forças armadas no Iraque, Afeganistão e em outros lugares na luta contra o terrorismo”. Em apenas uma base, Fort Campbell, foram registradas quatro tentativas de suicídio.
O que talvez seja mais desconcertante é o que disse o Coronel Mike Moose, porta-voz do exército para os recursos humanos: “não identificamos nenhum problema em particular”. Eles poderiam ter iniciado sua “pesquisa” considerando o fato de que jovens, homens ou mulheres, sofrem extrema tensão quando se encontram em turbulentas zonas de guerra mundo a fora, matando ou sendo mortos por seus companheiros de trabalho, muitas vezes submetidos a demorados períodos em serviço, sendo forçados a abandonar os amigos, família, estudos, emprego etc. Contudo, para fazer esta análise seria necessário que o Coronel Moose e seus superiores questionassem a legitimidade da aventura imperialista por si mesma, algo que eles obviamente não podem fazer.
Em resposta ao aumento das altas taxas de suicídio, o Exército anunciou que implantará treinamentos para ajudar os soldados a reconhecer comportamentos suicidas entre seus companheiros, seguido de um programa de prevenção de suicídios que será aplicado entre as fileiras.
A insatisfação entre as fileiras está freqüentemente encontrando expressão através de atos de desespero, em suicídios, que se apresentam para muitos destes soldados como a única saída para o pesadelo da guerra e dos constantes combates. Contudo, a solução para a crise não é encontrada somente em campanhas de educação ou por visitas de psiquiatras; isto pode ter resultados no curto prazo, mas melhor seria acabar com a fonte do problema, as próprias guerras imperialistas.
Depois de anos de declínio nos números de recrutamento, principalmente devido ao descontentamento com a Guerra do Iraque, estamos vendo, hoje, um incremento no alistamento nas forças armadas. Isto se deve ao aumento do desemprego, com os jovens batalhando para encontrar um emprego estável. Com a intensificação dos conflitos no Afeganistão e no Paquistão, o tema da guerra imperialista e da necessidade de lutar contra ela não se acabará.
Precisamos ter em mente que estes novos recrutas não são os mesmos jovens que se alistaram voluntariamente, logo após os ataques de 11 de Setembro. Em muitos casos, aquela onda de alistamento se deveu a um comprometimento honesto a uma vaga missão patriótica de “aniquilar o terrorismo”. Hoje, os crescentes números de alistamento se devem a causas econômicas. Estes novos recrutas fazem parte de uma geração que cresceu na sombra e cuja consciência foi brutalmente modelada pela chamada “Guerra contra o Terror”. Muitos deles, pessoalmente, se opõem a tais guerras, mas não encontram alternativas, e precisam se alistar. Em certo momento, tudo isto levará inevitavelmente ao aguçamento da luta de classes dentro das próprias forças armadas.