EUA: De onde vem o apoio a Donald Trump?

Candidato mais parecido com um grande palhaço reacionário tem ganho o apoio de grandes porcentagens de vários setores do eleitorado norte-americano.

O espalhafatoso candidato do Partido Republicano à presidência dos EUA, o bilionário Donald Trump, impressiona e indigna milhões ao redor do mundo com suas declarações contra imigrantes, muçulmanos, desempregados e até colegas de partido. O descaramento é tal que entre seus críticos já se incluem tradicionais figuras da direita americana, inclusive pessoas que não pensam muito diferente dele.

Mas mais do que as falas desse grotesco personagem, o que realmente dá calafrios no mundo são as pesquisas nacionais de intenção de voto para presidente. Em todas, Trump aparece muito próximo à sua rival, a democrata Hillary Clinton. Embora esteja atrás dela a nível federal, por pequena diferença, em muitos estados importantes do país o republicano aparece empatado e até à frente da ex-secretária de Estado do governo Obama.

Independente dos números, é indiscutível o enorme apoio que Trump recebe do eleitorado norte-americano. E não são apenas brancos de classe média ou ricos que declaram apoio à essa figura. Milhões de pobres e desempregados não apenas vão votar nele, como participam de sua campanha em suas cidades e bairros. E muitos desses indivíduos não são brancos…

Essas notícias soam surpreendentes aos leitores acostumados com os estereótipos da realidade dos EUA que chegam até nós através do cinema, séries de TV e da mídia. De fato, muitos deles tinham um fundo de verdade até alguns anos atrás. Mas basta uma crise econômica e a consequente polarização social para que tudo o que nos parece sólido se desmanche no ar, ainda mais quando se trata de antigos conceitos e valores.

Em primeiro lugar, é importante destacar que Donald Trump, que antes de ser candidato fez fama pelo estilo de vida extravagante e por ser apresentador de um péssimo programa de TV, não traz consigo nenhum elemento novo e original. Na verdade, ele segue a mesma cartilha de tantos outros políticos de direita que proliferam ao redor do mundo, desesperados em defender o sistema a todo custo.

A xenofobia, por exemplo, está na moda entre conservadores e reacionários de todo o mundo, não apenas nos EUA. O discurso contra os imigrantes ilegais, em sua maioria mexicanos, que estariam “roubando” os empregos dos americanos natos, faz sucesso em um momento de desemprego elevado e crônico. E para desespero dos simplistas de plantão, pesquisas recentes mostram que 26% dos negros e até 16% dos latinos apoiam a proposta de construir uma muralha na fronteira com o México.

A islamofobia, outra das táticas favoritas de Trump, também encontraram surpreendente apoio na população. Cerca de 45% dos norte-americanos apoiam a proposta do candidato de barrar a entrada de muçulmanos do país. Nessa porcentagem, se incluem um terço das minorias. Novamente, nenhuma novidade em relação ao que se vê em outras partes, sobretudo na União Europeia “cosmopolita”.

Outra fonte considerável de apoio ao republicano é a ampla rejeição à candidatura de Hillary Clinton. E não é a toa. Hillary esteve a frente da política externa do governo Obama em seu primeiro mandato. Ou seja, a democrata foi responsável por medidas extremamente impopulares, como o uso de drones ao redor do mundo e a manutenção da presença americana no Afeganistão. Além disso, a relação íntima com Wall Street e o lobby de Israel faz com que muitos americanos comuns expressem sua rejeição a ela de forma distorcida, apoiando seu rival.

A desilusão de milhões de jovens e trabalhadores com a postura derrotista de Bernie Sanders, que declarou apoio à candidatura de Clinton, é um outro elemento importante. Milhões de pessoas esperavam que ele continuasse o combate pelas ideias apresentadas em seus discursos, independente do resultado das primárias. Muitos defendiam a sua saída do Partido Democrata e a construção de uma terceira alternativa na política americana. Esses jovens e trabalhadores se recusam a votar em Hillary, e agora a estatística dos que não votam promete ser recorde nesta eleição.

Com a deserção de jovens e trabalhadores do partido, a candidatura de Hillary perdeu força, o que permitiu que Trump subisse nas pesquisas. Ainda assim, a democrata é a favorita nas eleições deste ano. De qualquer forma, a vitória de um ou outro não faz diferença. Trump não passa de um oportunista que mistura o pessimismo atual dos americanos com os manjados discursos de ódio nacional e religioso. Tudo para defender o capitalismo americano e naturalmente, aproveitar as benesses de ser presidente dos EUA.

Na Casa Branca, as diferenças entre um governo democrata e republicano, quando houveram, não passaram de retórica. E isso não vai mudar porque agora há um candidato que ignora o “politicamente correto” e fala o que todos os seus colegas pensam, mas tomam o cuidado de esconder. Não é o discurso que determina o governo de fulano ou sicrano, e sim sua base social, e a de Trump e Clinton é a mesma: o grande capital. A única solução é a construção de uma alternativa de classe aos dois partidos da burguesia, que tenha um programa claro de defesa da classe trabalhadora e luta contra o grande capital. Somente isso pode melhorar a situação dos trabalhadores nesse país, sejam eles americanos ou imigrantes.