EUA e Brasil: eleições em meio à crise

Editorial do jornal Foice&Martelo Especial nº 17, de15 de outubro de 2020. Confira outros editoriais aqui. Você também pode conhecer nosso jornal eletrônico quinzenal e assinar por este link.

O capitalismo é o responsável pela dor e sofrimento que se espalha pelo mundo. Mais de 1 milhão de mortes oficiais pela Covid-19, sem contar as subnotificações. Somam-se a essas vítimas os que morrem cotidianamente por fome, falta de saneamento, por doenças curáveis e tratáveis que continuam matando pelo insuficiente atendimento de saúde e de medicamentos, as vítimas da violência do crime organizado e das polícias, das guerras. As cenas cotidianas da atualidade parecem saídas do hospital narrado por George Orwell no ensaio “Como morrem os pobres”. Outra tragédia são os impactos sobre a saúde mental, com aumento dos casos de depressão, ansiedade e dos suicídios, que, aliás, já vinham aumentando desde antes da pandemia. Vivemos em um sistema decadente, que é incapaz de trazer esperança para a juventude e para os trabalhadores. Ao contrário, o capitalismo só pode oferecer como perspectiva mais desemprego, mais retirada de direitos e conquistas, mais guerras e refugiados, mais tristeza, mais barbárie.

Com razão, o sentimento dominante entre os povos ao redor do mundo é o ódio ao sistema, aos políticos, aos ricos que estão ficando mais ricos em plena crise. Este ódio, que se aprofunda desde a crise que explodiu em 2008, alimenta a polarização social. Trump e Bolsonaro buscaram surfar neste sentimento, mas são demagogos de direita, como sabemos. Servos do sistema que dizem combater. Suas máscaras vão caindo com a experiência concreta das massas e o aprofundamento da crise.

Nos EUA, vimos recentemente a maravilhosa explosão de lutas com o movimento Black Lives Matter e as greves em apoio ao movimento (ver mais no artigo “Aumenta a temperatura da luta de classes nos EUA”). No próximo dia 3 de novembro ocorrerão as eleições presidenciais, o majoritário sentimento anti-Trump traz vantagem ao candidato democrata, Joe Biden.

A tentativa de Trump de reavivar o discurso de 2016, de tornar a América grande de novo, esbarra no fato de que ele está no poder há 4 anos e os EUA atravessam agora uma crise econômica brutal, com recordes de desemprego e uma gestão desastrada da pandemia, que já provocou mais de 215 mil mortes no país. Ele poderia ter usado o fato de ter se contaminado com coronavírus para justificar uma mudança no discurso, trazer alguma moderação e racionalidade, mas, ao contrário, ele insiste em declarar logo após sair do hospital que a gripe comum é mais letal que a Covid-19.

Para Trump e para os ricos em geral, que têm atendimento médico de qualidade, com os tratamentos mais avançados (que não incluem nem a hidroxicloroquina, nem a ivermectina) contrair o coronavírus pode não ser muito preocupante. Mas para a maioria da população, levada a se expor ao vírus para manter a roda da economia girando, garantindo o lucro dos capitalistas, o risco de contrair coronavírus e morrer, ou ficar com graves sequelas, é bem maior.

Já o democrata Biden não é um “mal menor”. É o representante de uma ala da burguesia imperialista americana, mesmo que Trump tente atacá-lo acusando-o de “socialista”, o que é uma farsa igual a de bolsonaristas acusando a Globo e a Folha de São Paulo de comunistas. Biden, ex-vice de Obama, senador por mais de 30 anos, não tem nada de esquerda. Votou a favor da Guerra do Iraque e é contra a demanda de integrantes do movimento Black Lives Matter de redução do financiamento público à polícia, mesmo que esta já seja uma demanda limitada. Democratas e republicanos podem ter táticas distintas, mas há décadas se revezam no poder para preservar os interesses gerais do imperialismo americano. A seção norte-americana da CMI, Socialist Revolution, combate Trump, mas não chama voto em Biden. Nossa luta é pela construção de um partido da classe trabalhadora nos EUA.

Independente do resultado das eleições americanas, nada estará resolvido. Uma alternativa de esquerda, sem ilusões no Partido Democrata, precisa ser construída com urgência para canalizar e organizar a revolta presente na sociedade. Se a classe trabalhadora toma o poder nos EUA, em pouco tempo revoluções derrubariam o regime capitalista em um país após o outro.

No Brasil, também teremos eleições em novembro, eleições municipais marcadas pelo sentimento geral de nojo aos políticos tradicionais e a conclusão, correta, de que estas eleições não vão mudar nada de substancial na vida real dos trabalhadores. Ainda mais com a pandemia, podemos esperar a continuidade do crescimento de votos nulos, brancos e de abstenções.

Os bolsonaristas tentam manter o seu discurso contra corrupção, contra a esquerda e que são diferentes de tudo o que está aí, mas não são tão convincentes depois de quase 2 anos de governo Bolsonaro com tudo de ruim continuando como está e o resto piorando. Assim como Trump, perderam o trunfo do ineditismo. Já o PT, segue em sua adaptação, fechando aliança com o PSL em cerca de 145 municípios. Enquanto o PSOL, ao invés de se construir como uma alternativa de esquerda revolucionária, contra a conciliação de classes, fecha alianças eleitorais com PT e PCdoB, e também com partidos burgueses (PSB, PDT, Rede, PV), aprofundando assim a linha de frente ampla com setores da burguesia para, supostamente, defender a democracia.

A Esquerda Marxista lança candidatos nestas eleições pelo PSOL, sem nenhuma ilusão no processo eleitoral ou no parlamento, não defendemos a podre democracia burguesa, regime de dominação da minoria privilegiada sobre a maioria explorada. Nossos candidatos denunciam os crimes do capitalismo e, suas campanhas, têm o objetivo central de dialogar e ganhar mais jovens e trabalhadores para a luta pelo socialismo. (Conheça os candidatos da Esquerda Marxista na presente edição do Foice&Martelo)

Independente das eleições, no Brasil ou nos EUA, o que faz falta para que todo o ódio que se acumula se converta em luta para pôr fim ao atual regime, é um partido revolucionário que ganhe a confiança das massas, uma Internacional Revolucionária. O socialismo não é uma utopia, não é uma palavra bonita para ser repetida formalmente por militantes de esquerda que não acreditam no que dizem. O socialismo é uma necessidade histórica para libertar a humanidade. A Corrente Marxista Internacional, como tendência do movimento operário, armada com a teoria marxista, combate pela reconstrução de uma verdadeira Internacional Revolucionária, o partido da revolução mundial, instrumento fundamental para que grandes lutas, grandes revoluções, culminem com a vitória do proletariado e não com amargas derrotas. Convidamos todos os indignados, todos os que querem lutar por um futuro feliz para os explorados e oprimidos por este sistema, a darem um passo a mais, a vir discutir com a Esquerda Marxista e a CMI, a entrarem na luta organizada pela revolução socialista no Brasil e no mundo.

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