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EUA: o socialismo revolucionário e a luta contra o presidente de Wall Street

Joe Biden derrotar Donald Trump na corrida pela Casa Branca não deveria ser uma surpresa. Afinal, seu oponente era um astro incompetente de reality show que comandava uma economia devastada e uma pandemia descontrolada. Apenas alguns meses antes, o Comandante em Chefe foi forçado a se esconder em um bunker em face do movimento de protesto mais massivo da história do país.

Biden pode ter conquistado o recorde de 80,9 milhões de votos populares (uma margem de 4,4%). Entretanto, Trump recebeu mais de 74 milhões de votos – a maior votação de todos os tempos para um presidente em exercício ou um republicano. Dificilmente o resultado eleitoral foi o golpe que muitos analistas liberais esperavam. Não houve “onda azul” e nenhuma varredura Democrata no Congresso. Na verdade, os democratas perderam cadeiras na Câmara dos Representantes e ainda não está claro quem controlará o Senado. Trump pode ter sido derrotado pessoalmente, mas o trumpismo está vivo e forte.

Como podemos explicar isso? O que isso significa para o futuro da luta de classes? Como veremos, a essência e a persistência do trumpismo – conforme expresso pelas profundas divisões dentro da classe trabalhadora americana – só podem ser compreendidas de maneira adequada se adotarmos uma perspectiva de classe.

O candidato de Wall Street

Com Trump saindo da Casa Branca, é compreensível que milhões de pessoas se sintam como se um longo e surreal pesadelo tivesse terminado. Mas quase o mesmo número de milhões de outras pessoas sentem como se o pesadelo estivesse apenas começando. A resposta emocional de ambos os lados da divisão eleitoral é impulsionada por profundas ansiedade, medo, depressão, enfermidade, dívida, desemprego e desespero por uma mudança real. Mas o capitalismo não pode fornecer alívio significativo para essas misérias porque não pode fornecer empregos de qualidade, saúde, educação, segurança e dignidade para todos. A amarga verdade é que, no longo prazo, o pesadelo sistêmico do capitalismo só vai piorar para a vasta maioria dos trabalhadores, não importa em quem eles votem.

Milhões de pessoas não votaram a favor de Biden, mas contra Trump /Foto: Gage Skidmore

O programa de Biden basicamente se resumia ao seguinte: “Não sou Donald Trump e vou levar o país de volta aos ‘bons velhos tempos’ de Obama”. Mas foram aqueles mesmos “bons velhos tempos” que estabeleceram, em primeiro lugar, a base para Trump. Trump pode ser o presidente mais impopular da história dos Estados Unidos, mas, como um fiel escudeiro do establishment ao longo da vida, Biden também é profundamente odiado. Ele ficou em 4º lugar nos cáucuses de Iowa e em 5º nas primárias de New Hampshire. Esta é a medida real de quão popular ele é entre os democratas comuns. Milhões de pessoas votaram “contra Trump” em vez de “a favor” de Biden.

A maioria da classe dominante dos EUA despreza Trump por ser um fator demasiado imprevisível e desestabilizador. Pesquisas pré-eleitorais entre os principais CEOs e a trilha das grandes doações de dinheiro mostraram que Biden era claramente o candidato de Wall Street. Os bilionários investiram muito para levar seu homem à Casa Branca, com as pequenas doações respondendo por menos de um quarto do total arrecadado.

Como resultado, a eleição presidencial de 2020 foi de longe a mais cara da história dos Estados Unidos. Estima-se que US$ 14 bilhões foram gastos – mais do que as duas eleições presidenciais anteriores combinadas – e os democratas gastaram quase o dobro dos republicanos. Apesar dessa enorme vantagem de gastos, Biden mal conseguiu obter a mesma margem do Colégio Eleitoral que Trump recebeu em 2016. No entanto, nos dias após a eleição do ex-vice-presidente, o mercado de ações disparou para níveis recordes, apesar do coronavírus que ainda se propaga, do massivo deslocamento econômico e do tsunami de despejos e desabrigados.

Trump “quebrou as grades de proteção” da presidência. A tarefa de Biden é recuperar a legitimidade da instituição e do sistema como um todo, em nome da classe dominante. Mas ele vai presidir um país profundamente dividido e herdou uma convergência de catástrofes sem precedentes.

Apesar do número recorde de votos contra ele, Biden afirma ter recebido um mandato para estabelecer um governo de “reconciliação”, de “cura” e “unidade nacional”. Mesmo que esta seja uma mensagem que milhões de pessoas desejam ouvir, devemos deixar claro que este é um código para subordinar os interesses dos trabalhadores aos interesses dos capitalistas. Essa unidade é impossível em uma sociedade dividida em exploradores e explorados.

O novo presidente pode muito bem implementar medidas de alívio de curto prazo para os pobres, desempregados e pequenas empresas. Mas o principal impulso de suas políticas será sustentar Wall Street. De uma forma ou de outra, a classe trabalhadora acabará por pagar pela crise do capitalismo, seja por meio de austeridade direta ou indireta, de pressões inflacionárias ou alguma outra combinação de ataques aos salários e às condições de trabalho.

Portanto, mesmo que haja alguns ajustes cosméticos que aparentem aliviar um pouco o peso dos grilhões no curto prazo, decepções ainda maiores estão reservadas para aqueles que têm ilusões de que uma mudança real pode vir por meio do Partido Democrata. Se o que se seguiu a Obama pareceu inimaginável, a ressaca da Escola 2.0 dos democratas será ainda mais dura. A menos e até que as estruturas, instituições e partidos do capitalismo sejam derrubados, as coisas sempre podem piorar – e muito.

Polarização

A ausência de um partido político de massas viável para a classe trabalhadora é um fator objetivo que pesa muito na perspectiva subjetiva dos trabalhadores. Como resultado, a polarização extrema da sociedade é refratada pelo prisma trincado dos dois principais partidos capitalistas.

Depois de quatro anos muito incômodos, os liberais querem voltar ao que consideram normalidade. Com algumas ordens executivas, eles tentarão encobrir a era Trump como se ela nunca tivesse acontecido. Mas o trumpismo aconteceu, e aconteceu por alguma razão.

As linhas de falha que fraturam a classe trabalhadora começaram a se cristalizar em 2016, como evidenciado pela derrota de Clinton no cinturão da ferrugem. Após oito anos de “esperanças” e “mudanças” fracassadas e da capitulação de Bernie Sanders ao establishment do Comitê Nacional Democrata, muitos trabalhadores em busca de soluções radicais optaram por dar uma chance a um outsider ousado e atrevido. O resultado foi a eleição de um bilionário anti-trabalhador chamado Donald J. Trump.

A ausência de uma liderança independente de classe lutadora deixou um vácuo que Trump e seus aliados identificaram e preencheram, muitas vezes usando uma retórica corajosa e pró-trabalhador /Foto: Marc Nozell

A culpa pela confusão e divisão que dilacerou a classe trabalhadora recai diretamente sobre os líderes dos trabalhadores, cujo princípio norteador é “o que é bom para o patrão é bom para o trabalhador“. Mas o que é bom para os patrões não é bom para os trabalhadores – na verdade, nossos interesses são irreconciliáveis.

Essas pessoas estão à frente de milhões de trabalhadores organizados em dezenas de setores essenciais. Eles não só têm o poder de fechar a economia, mas também os meios para mobilizar seus membros e recursos para um esforço de construir um novo partido de massas sobre uma nova base de classe. Em vez disso, eles colaboram, conciliam e fazem concessões aos patrões no local de trabalho e nas urnas, o que levou a uma espiral descendente de piora dos salários reais, condições e benefícios. A ausência de uma liderança independente da classe lutadora deixou um vácuo que Trump e seus comparsas identificaram e preencheram, muitas vezes usando uma retórica audaz a favor do trabalhador.

Como resultado, os líderes sindicais começaram a perder o controle sobre as bases. Biden pode ter ganho 57% dos votos entre os eleitores sindicais, com apenas 40% votando em Trump. Mas, se antes esses eram blocos eleitorais democratas confiáveis, hoje já não é mais tão claro assim. Os que trabalham nos sindicatos do setor público e de serviços ainda tendem a votar nos democratas, enquanto muitos nos sindicatos industriais e, não surpreendentemente, nas associações policiais, apóiam em grande parte Trump. Embora seja um exagero, não é à toa que Trump declarou que os “republicanos se tornaram o partido do trabalhador americano“.

Sem dúvida, entre seus apoiadores está a escória da sociedade: os racistas sem remorso, os supremacistas brancos, os Proud Boys e assim por diante. Esses elementos estão sendo levados ao frenesi. Eles estão “de prontidão” para serem mobilizados como um aríete ideológico e físico contra a esquerda e os trabalhadores em um determinado estágio. Mas não é apenas a pequena burguesia enfurecida e os elementos desclassificados que o apoiam. Sua base também inclui milhões de trabalhadores furiosos e desesperados.

É verdade que, no espectro político atual, esses trabalhadores se deslocaram ainda mais para a direita. Mas isso ocorre apenas porque só existem disponíveis opções políticas de direita. Muitos deles apóiam Trump pela mesma razão por que apoiaram Obama e os democratas no passado – porque não há alternativa viável e independente de classe. Só depois do fracasso da chamada bota esquerda do capitalismo é que decidiram dar uma chance à bota direita. Mais do que uma guinada para a direita, representa uma busca frenética por uma saída do impasse.

No fundo, sua raiva e frustração com a elite liberal é uma raiva distorcida de classe, que está sendo cinicamente manipulada por Trump e pelos republicanos. Na maior parte de seu mandato, Trump teve sorte quando se tratava da economia e reivindicou todo o crédito por isso. Isso lhe deu muita credibilidade entre os trabalhadores. Dada sua autoridade pessoal e a falta de confiança na mídia liberal, ele teve sucesso em se servir da China e do coronavírus como bodes expiatórios para seus problemas econômicos.

Por várias décadas, devido a presidentes como Franklin Delano Roosevelt e Lyndon Johnson, os democratas foram considerados o partido mais “amigo dos trabalhadores” ou o “mal menor”. Mas depois de décadas de fracassos e traições, milhões de trabalhadores mudaram sua fidelidade política. Os democratas não podem mais contar com uma camada de trabalhadores que podiam, mais ou menos, dar como garantidos no passado: um segmento da classe trabalhadora branca sindicalizada e, acima de tudo, aqueles do cinturão da ferrugem e das áreas rurais.

Embora ele próprio seja um burguês, Trump conseguiu aproveitar a raiva crua contra o status quo, e o Partido Republicano agora está em dívida com ele porque, ao controlar essa raiva, ele deu ao partido outro sopro de vida. Isso explica a bajulação aparentemente inexplicável diante de cada uma de suas palavras e proclamações ridículas.

A ênfase de Trump em reabrir a economia e fazer com que as pessoas voltassem ao trabalho, independentemente do risco, repercutiu em milhões de pessoas que vivem de salário a salário e estão imbuídas de uma ética de trabalho “de se levantar pelas próprias botas“. Ele habilmente pintou os democratas como um bando de liberais chorões que podiam se dar ao luxo de esperar o fim da pandemia com conforto – enquanto todos os outros estão arriscando suas vidas, lutando para chegar ao fim do mês.

Quando os trabalhadores de regiões problemáticas do país ouvem um slogan como “Faça a América Grande Novamente”, eles não pensam em nacionalismo chauvinista e imperialismo. Eles acreditam sinceramente que Trump trará de volta os empregos de qualidade que permitiram que seus pais e avós tivessem uma qualidade de vida relativamente decente durante o boom do pós-guerra. Claro, você não pode simplesmente querer que os anos 1950 voltem à existência – muitos fatores políticos e econômicos tornaram isso possível – e nem todos se beneficiaram.

É verdade que Trump falhou em cumprir sua promessa de reconstruir o país e criar centenas de milhares de empregos na mineração e manufatura do carvão. No entanto, sua mensagem ressoa entre os trabalhadores em lugares onde ser gerente no Walmart ou McDonald’s ou ingressar no Exército é o melhor que você pode aspirar. Existem regiões neste país onde cidades e condados inteiros foram lançados na lama pela globalização capitalista e pela terceirização, substituídos apenas pela humilhação do desemprego em massa e da pobreza – para não mencionar as epidemias de opioides, obesidade e saúde mental.

Em seus comícios de massa – que são uma reminiscência de reuniões de revivalismo cristão – Trump promete sem remorso chover o fogo do inferno e a condenação sobre os que trouxeram essas calamidades sobre eles. É um fenômeno profundamente contraditório porque, embora seja o presidente em exercício, ele ainda pode se apresentar como um outsider. E, ao mesmo tempo em que ataca o status quo, ele promete um retorno a um tipo diferente de status quo – um tipo no qual os trabalhadores industriais brancos receberiam mais algumas migalhas para fazê-los aceitar o conceito de parceria com os patrões.

Quando há escassez e competição por empregos, moradia e até mesmo pela dignidade humana básica, o desespero leva a uma visão limitada. Isso torna as pessoas receptivas à mensagem messiânica de alguém como Trump. Ele promete o mundo a eles e os leva ao frenesi – com a adição em boa medida de uma grande dose de medo, racismo e xenofobia. Usar bodes expiatórios e culpar outras camadas da classe trabalhadora pelas muitas crises do sistema é uma tática clássica de dividir para reinar destinada a desviar a atenção do inimigo de classe.

Não importa que os lunáticos tenham assumido a direção do hospício do Partido Republicano. As pessoas querem algo diferente, e isso definitivamente não é o mesmo de sempre. As pessoas procuram respostas, uma saída para o impasse e, acima de tudo, uma liderança combativa. Trump é um pedaço de lixo humano e um inimigo mortal da classe trabalhadora. Mas ele é persistente e desafiador – e isso é muito mais do que os líderes sindicais ou liberais podem oferecer.

Portanto, se vamos explicar e combater o trumpismo, devemos primeiro entendê-lo. Devemos começar expondo-o pelo que é: mais uma aliança entre classes na qual um setor da classe dominante se apoia em um setor da classe trabalhadora para promover seus interesses. Devemos separar o racional do irracional no fenômeno Trump. Muitas coisas são irracionais – talvez a maior parte delas. Mas, enterrado bem no fundo desse descontentamento da classe trabalhadora, está um minúsculo núcleo do bolchevismo potencial – não ideologicamente, mas em sua essência de classe fundamental. Esta é a “matéria escura” do trumpismo que tanto confunde os liberais.

Oportunidade perdida

Quanto à esquerda nessas eleições, grande parte cedeu à pressão e correu para apoiar o suposto “mal menor”, direta ou indiretamente. Isso só serviu para semear ilusões nos democratas como um veículo potencial para uma mudança real. No entanto, o papel dos socialistas genuínos não é dar cobertura pela esquerda ao partido mais antigo dos capitalistas, mas ajudar a classe trabalhadora a derrubá-lo e substituí-lo.

Longe de empurrar os democratas para a esquerda, todos os socialistas autodeclarados que tentaram foram cada vez mais para à direita / Foto: Domínio público

Os reformistas acusam os marxistas de serem “irrealistas” – quando são eles que alimentam a ilusão absurda de que o capitalismo pode ser reformado de maneira significativa e que seus partidos e instituições podem de alguma forma servir a outro senhor. Todas as organizações e indivíduos que solicitaram o voto por Biden de qualquer forma são cúmplices e devem assumir a responsabilidade por tudo o que vier durante sua administração.

A raiz de sua covardia é que eles não confiam na classe trabalhadora e não têm uma ideologia coerente para guiá-los. Os marxistas, por outro lado, entendem que o poder colossal da classe trabalhadora está, em última análise, do nosso lado. Estamos armados com as ideias e um método que nos permite atravessar a névoa e a confusão enquanto mantemos nossos olhos o tempo todo no quadro geral e na visão de longo prazo da história. Isso não quer dizer que nossa estratégia será fácil de alcançar. Mas pelo menos se baseia em uma análise científica de como a sociedade e a história se movem e como mudanças verdadeiramente fundamentais podem acontecer.

Devemos perguntar: como exatamente a esquerda planeja “colocar os pés de Biden no fogo”, “responsabilizá-lo” e “empurrá-lo para a esquerda”? Os democratas não são um recipiente vazio que pode ser preenchido com um conteúdo de classe diferente por meio de “pressão”. Eles estão cheios até a borda com conteúdo capitalista e, embora possam mudar sua forma externa para dar a impressão de mudança, o conteúdo central permanece.

Longe de empurrar os democratas para a esquerda, todos os socialistas autodeclarados que o tentaram foram sugados cada vez mais para a direita. E o mesmo acontecerá com todo socialista autodeclarado que tentar mudar esse partido por dentro. Isso é precisamente o que aconteceu com Bernie Sanders, que agora perdeu a credibilidade com milhões de pessoas.

Desde que foi eleito, Biden deixou absolutamente claro que governará a partir do “centro” – o que em termos capitalistas significa a partir da direita. E sob pressão da extrema direita, ele acabará avançando ainda mais nessa direção. O ataque intrapartidário às palavras “socialismo” e mesmo “progressista” já começou. Mesmo os defensores reformistas, como Sanders e Warren, foram postos de lado. Eles não estão mais concorrendo a cargos no gabinete, pois são considerados “muito à esquerda”. Este é o agradecimento que essas pessoas recebem por se desempenharem com sucesso como “flautistas” [atraindo votos – NDT] na luta eleitoral deste ano.

Com certeza, milhões de pessoas têm ilusões honestas de que a polícia pode se tornar “mais gentil e delicada” e que o chamado New Deal Verde pode impedir a catástrofe climática. Seu primeiro instinto é tentar encontrar uma solução dentro do sistema por meio dos partidos e líderes que conhecem. Esta é uma parte normal e natural do processo de radicalização e desenvolvimento da consciência de classe.

Embora se envolvam positivamente com aqueles que abrigam tais ilusões, a tarefa dos marxistas é extrair as questões e contradições mais profundas e explicar que, para encerrar a crise sistêmica, precisamos de uma mudança sistêmica. E para alcançar uma mudança de longo alcance, a classe trabalhadora precisa se organizar politicamente para enfrentar os partidos dos patrões.

Os Republicanos e Democratas são as duas faces da mesma moeda capitalista. Rejeitamos a ideia de que sejam polos opostos. A única polarização que encorajamos, aplaudimos e promovemos é a polarização de classes.

Como vimos, milhões de pessoas votaram “contra” Trump, e não “a favor” de Biden. E, para milhões de outras pessoas, um voto “a favor” de Trump foi realmente um voto “a favor” de melhores empregos e salários, não necessariamente “a favor” de Trump e tudo o que ele representa. Dezenas de milhões de outras pessoas não votaram em nenhum dos partidos ou em ninguém. E cerca de metade de todos os americanos – incluindo uma maioria significativa entre os jovens – afirma que votaria em um presidente ou partido socialista. E não vamos esquecer que 10% dos americanos foram às ruas no meio de uma pandemia no verão passado para protestar contra o assassinato de George Floyd pela polícia. Este foi um desenvolvimento extraordinário, cheio de implicações revolucionárias para o futuro.

Esta é a base objetiva para um novo partido majoritário, um partido da, pela e para a classe trabalhadora – um partido socialista de massas baseado nos sindicatos. Um partido operário genuíno e um governo operário, armados com políticas que enfrentem os problemas da sociedade sobre uma base de classe, poderiam ganhar o apoio de milhões de pessoas que atualmente votam nos partidos existentes ou nem se dão ao trabalho de ir votar. O socialismo de fato – não o liberalismo disfarçado de socialismo – anularia as táticas de dividir para governar da classe dominante. Por puro pragmatismo, milhões de americanos comuns acabariam por apoiar políticas que os beneficiassem concretamente e a suas famílias – sejam elas rotuladas de socialistas ou não.

Os trabalhadores são a maioria e serão forçados a construir um veículo político próprio. Não podemos saber a combinação exata de forças, a forma ou o tempo que tal partido irá assumir. Mas, uma vez que um número suficiente de trabalhadores embarque neste curso, ele certamente será iniciado com energia e determinação. Os marxistas estarão lá com eles, argumentando pacientemente por políticas e estruturas consistentemente independentes de classe.

Em tempos voláteis como estes, tremendos saltos de consciência estão implícitos na situação. No curto prazo, as divisões venenosas provavelmente continuarão e até aprofundarão. Levará algum tempo e muita experiência amarga para desvendar as complicadas contradições. Mas devemos ter certeza de que, eventualmente, a questão da classe virá à tona. Esta é a perspectiva pela qual a esquerda como um todo deveria lutar.

Lute pela revolução socialista!

Há muito mais para analisar quando se trata da presidência de Biden: desde a composição de seu gabinete até sua política externa e sua relação com o movimento sindical e o movimento Black Lives Matter, a crise da saúde pública e muito mais. Exploraremos tudo isso em artigos e editoriais futuros.

Mas isso é cristalinamente transparente: a instabilidade e a incerteza constantes são a nova norma, e o pingue-pongue do sistema bipartidário não pode continuar indefinidamente. Nada dura para sempre, e devemos tirar as conclusões políticas, organizacionais e até psicológicas necessárias.

Após os eventos de 2008 e 2016, que abalaram a consciência, o ano de 2020 marca mais um ponto nodal no caminho para a revolução socialista americana. Os eventos dos últimos doze meses foram um enorme teste de estresse para o sistema – e tensões ainda mais pesadas estão por vir. Tudo acaba se transformando em seu oposto. O país mais estável do mundo tornou-se o mais instável e, em um determinado estágio, a potência mais reacionária da terra se tornará a mais revolucionária.

A polarização é, em última análise, um prelúdio para a revolução. Esta é a perspectiva para a qual os marxistas devem se preparar /Foto: Socialist Revolution

Para os marxistas, a política é muito mais do que eleições burguesas. Votar uma vez a cada poucos anos não é suficiente para mudar a sociedade. Todos os problemas fundamentais são decididos em última instância na luta, nos locais de trabalho, nas ruas e nos quartéis, não apenas nas urnas. Como Lenin explicou, a política é economia concentrada. É a luta generalizada por melhores salários e condições e, em última instância, a luta para mudar as relações econômicas fundamentais da sociedade.

Apesar de sua natureza retorcida, a polarização aguda é, em última análise, um prelúdio para a revolução – talvez não na próxima semana, mas muito antes do que a maioria das pessoas pode imaginar. Devemos estar preparados para mudanças bruscas e repentinas e para a ascensão e queda de eventos, figuras e movimentos acidentais. Com isso em mente, Trotsky disse uma vez que: “Os marxistas, especialmente aqueles que reivindicam o direito à liderança, devem ser capazes não de espanto, mas de previsão”.

Podemos ver precisamente o que está por vir se uma alternativa de massa da classe trabalhadora não for construída no próximo período. Não devemos ficar chocados ou surpresos se o próprio Trump, ou alguém ainda mais reacionário, estiver de volta à Casa Branca em 2024 ou 2028. Devemos persistentemente explicar que, se você não construir uma alternativa independente de classe aos democratas, então – o chamado mal maior estará de volta – maior e mais malvado do que nunca.

Os EUA podem ser um país desconcertante e assombroso. O jornalista Paul Krugman disse recentemente que, se tudo isso estivesse acontecendo em qualquer outro lugar, seria considerado um Estado falido. Mas o ponto principal é o seguinte: as leis da luta de classes também se aplicam aqui e seus fundamentos são razoavelmente simples. Tudo começa com a compreensão de que os interesses dos trabalhadores e dos capitalistas são diametralmente opostos e que a independência de classe deve ser mantida e defendida em todos os momentos.

O marxismo representa a memória histórica da classe trabalhadora. Devemos aprender e transmitir as lições da luta de classes internacional à classe trabalhadora americana, aplicando essas lições com as nuances dialéticas às condições concretas em que vivemos e trabalhamos hoje. Nossa tarefa imediata é nos conectarmos com as camadas avançadas, ganhando algumas para o marxismo e para a Corrente Marxista Internacional (CMI), enquanto agitamos por uma ruptura com os partidos dos patrões e pela necessidade de construir um partido socialista de massas da classe trabalhadora.

Trump pode ter sido derrotado nas urnas desta vez, mas o trumpismo e o sistema que ele e os democratas defendem estão longe de terminar. Dissemos isso em 2016, e dizemos mais uma vez: apenas o socialismo pode derrotar Trump – e o trumpismo!

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.
PUBLICADO EM MARXIST.COM