As massivas mobilizações no velho continente prosseguem. Os governos precisam realizar cortes devido aos gastos que tiveram para conter a crise mundial que eclodiu em 2008, e vão buscar cortar justamente os direitos conquistados pelos trabalhadores.
A classe trabalhadora européia, de tradição de tantas lutas, reage de forma surpreendente, enchendo as ruas de diversas cidades e realizando greves gerais com alta adesão, empurrando suas direções a irem mais longe do que gostariam.
Em 29 de Setembro ocorreram manifestações unificadas em mais de 37 países, as principais na Bélgica, na Grécia e na Espanha. Os últimos acontecimentos na França têm deixado a burguesia de cabelo em pé e animado os trabalhadores de todo o mundo.
Grécia
A Grécia – que em troca de 110 bilhões de euros do FMI e da União Européia, foi obrigada a realizar duros cortes nos gastos públicos, como a redução em até 30% dos salários dos funcionários públicos e aumento de impostos – há vários meses é abalada por massivas e constantes mobilizações.
Em 29 de Setembro, a ADEDY (central sindical do setor público) e a GSEE (do setor privado), realizaram massivas mobilizações dirigindo-se aos escritórios da União Européia em Atenas e ao Parlamento Grego.
Em 7 de Outubro houve nova greve de funcionários públicos chamada pela ADEDY, que informou a participação de 67% da categoria na paralisação.
Espanha
A Espanha estremeceu no dia 29 de Setembro com a greve nacional que os dois principais sindicatos ibéricos, Comissões Operárias (CCOO) e a União Geral de Trabalhadores (UGT), realizaram contra as políticas econômicas de Zapatero. Segundo as centrais sindicais, 70% dos trabalhadores atenderam ao chamado e cruzaram os braços. Centenas de milhares reuniram-se em protestos em cidades como Madri, Barcelona, Valência e Andaluzia.
A Espanha também teve duros cortes nos gastos públicos, uma reforma trabalhista que facilita e barateia a demissão, redução de salários, congelamento de pensões e um plano para estender a idade de aposentadoria aos 67 anos.
Portugal
Diante dos cortes previstos na proposta de orçamento para 2011, que incluem 5% de redução de gastos com servidores públicos e o congelamento das aposentadorias, as duas principais centrais sindicais, UGT e CGTP convocam greve geral para 24 de Novembro, a união das duas centrais sindicais em uma greve geral ocorre pela segunda vez na história, a primeira foi em 1988. A cada dia, novas categorias anunciam adesão à greve geral.
Grã-Bretanha
No dia 4 de Outubro, os funcionários do metrô de Londres realizaram greve contra um plano que pretende demitir 800 trabalhadores. A mobilização conseguiu reduzir as atividades do metrô para 40% de sua capacidade e várias estações foram fechadas.
Foi anunciado em 20 de Outubro um pacote de cortes de gastos e aumento de impostos – o corte com gastos sociais chega a 7 bilhões de libras (cerca de R$ 18,7 bilhões). O corte em média de 19% dos orçamentos dos departamentos do governo, deve provocar o fechamento de 490 mil postos de trabalho no serviço público até 2015. Podemos esperar novas mobilizações no Reino Unido por conta desse pacote.
Itália
No dia 16 de Outubro, 500 mil trabalhadores manifestaram-se pelas ruas de Roma, em ato convocado pelo sindicato dos metalúrgicos (FIOM) da central sindical CGIL. O protesto foi contra a crise no setor, a política econômica do Governo de Silvio Berlusconi e para exigir a renovação do convênio coletivo. A necessidade de uma greve geral na Itália também foi trazida na manifestação.
França
No dia 7 de Setembro uma greve geral reuniu 2 milhões nas ruas, no dia 23 de Setembro quase 3 milhões, no dia 12 de Outubro 3,5 milhões e em 19 de Outubro, novamente, cerca de 3,5 milhões de franceses tomaram as ruas das principais cidades!
Foram mais de 250 manifestações pelo país, os números de participantes são impressionantes, no dia 12 foram: 330 mil em Paris, 230 mil em Marselha, em Toulouse 145 mil, 130 mil em Bordeaux, 95 mil em Nantes, 75 mil em Rouen, etc. Mais de 400 escolas secundárias em toda a França entraram em greve, com muitas sendo ocupadas ou com as entradas bloqueadas pelos estudantes. Os sindicatos do transporte ferroviário e transporte metropolitano de Paris, das refinarias de petróleo e dos portos se juntaram ao movimento de greve por tempo indeterminado.
Quase 50% dos postos de gasolina do país estão com as bombas secas. No dia 19 o famoso jornal Le Monde não conseguiu chegar às bancas devido à greve. O governo tem partido para a repressão, com a tropa de choque forçando a abertura das refinarias bloqueadas pelos petroleiros.
O motivo principal dessa onda de mobilizações na França é o projeto do governo de aumentar a idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos, e de 65 para 67 anos para se obter a pensão completa. O presidente Nicolas Sarkozy não dá sinais de ceder às pressões. O projeto está para ser votado pelo Senado, mas mesmo se aprovado, as massas prometem não deixar as ruas.
As mobilizações contam com mais de 70% de aprovação da população, a popularidade do presidente Sarkozy está em queda acentuada. A onda de manifestações colocará para o movimento a questão da permanência desse governo, o que pode causar mais abalos importantes na estrutura de poder.
Avançar nas mobilizações!
As direções operárias em uma série de países europeus não apontam com clareza o caminho que deve ser seguido pelos trabalhadores. Essa vacilação pode levar ao enfraquecimento do movimento. Mas, a classe trabalhadora européia tem demonstrado toda a sua capacidade e vontade de lutar, empurrando suas direções e provocando a unidade nas ações.
Como temos repetido em análises anteriores, as greves gerais de um dia, apesar de terem sua validade, exercem uma pressão limitada sobre os governos. É necessário organizar a greve geral por tempo indeterminado, questão que já tem sido pautada na França em certas categorias.
Esse formidável levantamento do proletariado europeu só pode encher de alegria os revolucionários de todo o mundo. Um proletariado que foi protagonista da luta da classe operária mundial em diversos momentos da história, certamente saberá utilizar de sua tradição revolucionária para fazer avançar o movimento e arrancar vitórias contra a burguesia.