Tribunal Popular para Julgar a Intervenção Federal na Cipla e Interfibra (Fábricas Ocupadas) ocorrerá nos dias 4 e 5 de Julho, em Joinville-SC.
O Comitê Contra a Intervenção nas fábricas ocupadas convida os trabalhadores da cidade e do campo, suas organizações, sindicalistas e parlamentares comprometidos com a luta da classe trabalhadora, a participar nos dias 04 e 05 de Julho, em Joinville/SC, de um Tribunal Popular para Julgar a Intervenção Federal na Cipla e Interfibra (Fábricas Ocupadas).
Em 2002, os 1.000 trabalhadores da Cipla e Interfibra ocuparam estas fábricas para salvar os empregos e seus direitos trabalhistas. Retomaram a produção por cinco anos, sempre elegendo todos os anos, democraticamente, seus dirigentes para o Conselho de Fábrica. Eles lutaram pela estatização das fábricas ocupadas pois sabem que o mercado capitalista é o caos e o reino das grandes multinacionais e bancos. Era a época em que a força e esperança de mudar a vida levaram à eleição de Lula presidente do Brasil.
Durante cinco anos os trabalhadores mostraram na prática que não precisam de patrões para administrar as fábricas. Mas isso foi insuportável para os capitalistas e uma campanha nacional orquestrada pela FIESP (Federação das Indústrias do Estado de SP) e pela ABIPLAST (Associação Brasileira de Indústrias Plásticas) se desenvolveu pressionando o governo para “tomar medidas imediatas”.
Em maio de 2007, o Presidente da ABIPLAST (Patronal dos plásticos do Brasil) afirma que a existência de fábricas ocupadas e sua relação com o governo da Venezuela é uma afronta às leis e ao direito de propriedade. Paulo Skaf, presidente da FIESP exige “medidas imediatas em defesa da democracia”. E o inacreditável aconteceu.
Em 31 de Maio de 2007, por decisão do governo Lula, o INSS e Ministério da Previdência pedem a intervenção, com a falsa justificativa de cobrar dívidas, do ano de 1998, dos antigos patrões. Então, 150 policiais federais, com carros de combate, fuzis, bombas, metralhadoras, etc., invadem a Cipla e a Interfibra dando posse a um interventor nomeado por um juiz federal. Um clima de terror é instalado e uma caça às bruxas é iniciada.
Hoje, um ano depois da intervenção, são mais de 300 demitidos, voltaram as 44 horas semanais (a gestão operária havia reduzido a jornada de trabalho para 30 horas semanais sem redução do salário), acabaram todas as conquistas! Nenhuma dívida foi paga com o INSS. O interventor continua recebendo seu salário que inicialmente foi de R$ 300 mil.
A CUT, o MST, o MNDH (Mov. Nac. de Direitos Humanos), congressos sindicais, parlamentares, centrais sindicais de dezenas de países, tomaram posição de luta contra a intervenção e pela devolução das fábricas aos trabalhadores.
Mas, o governo Lula não se moveu e recusa retirar o pedido de intervenção. A luta continua com esta chaga aberta…
A esta intervenção se junta uma crescente escalada de ataques contra o movimento sindical e popular. Desde a ditadura militar não se vê como agora a criminalização de greves, de manifestações, de parlamentares que se expressam ao lado do povo, da luta pela reforma agrária, das lutas estudantis e da juventude. Multiplicam-se os dirigentes sindicais ameaçados e perseguidos. É preciso parar esta avalanche que tenta destruir as lutas sociais contra a opressão e exploração que os capitalistas impõem às classes trabalhadoras do campo e da cidade.
Para julgar estas questões o Comitê pelo Fim da Intervenção na Cipla e Interfibra convida para o “Tribunal Popular que Julgará a Intervenção na Cipla e Interfibra (Fábricas Ocupadas)”. Neste Tribunal Popular estarão presentes representantes de centrais sindicais, sindicatos, partidos, parlamentares, movimentos sociais do Brasil e de diversos países.
Além de julgar do ponto de vista da classe trabalhadora as conseqüências da intervenção nas fábricas ocupadas, haverão sessões dedicadas aos diferentes ataques sofridos pelos movimentos sociais criminalizados como se as questões sociais fossem caso de polícia e não de economia e de política.
Participe! Faça Contato!
E-mail: fabricasocupadas@terra.com.br
Mais informações:
blog “Tirem as mãos da Cipla”
blog da Flaskô
Relembrando a história
Em junho de 2003, uma caravana de centenas de trabalhadores destas fábricas foi a Brasília sendo recebida por Lula que se comprometeu a encontrar uma solução para salvar todos os empregos. E montou uma Comissão com cinco ministros para encontrar a solução. Não deu em nada.
Mas, em 2005, o BNDES/BRDE concluiu um estudo feito a pedido do presidente no qual afirma que “as empresas são economicamente viáveis”, “estão sendo exemplarmente administradas” e que a única saída para manter todos os empregos era o “governo assumir as empresas através do BNDES e BRDE, já que praticamente todo o passivo das empresas era com o governo federal e estadual”.
Apesar disso o INSS e a Fazenda Federal continuaram tentando arrancar máquinas das fábricas para leiloar. A resistência dos trabalhadores impediu a concretização das inúmeras ameaças “legais” de retirada de máquinas e prisão dos dirigentes do movimento.
Foram organizados diversos Encontros Nacionais e a luta ganha repercussão internacional com a realização do 1º Encontro Latino Americano de Fábricas Recuperadas por Trabalhadores, em 2005, na Venezuela. Aí foi assinado um acordo com Chávez para fornecimento de matéria prima e construção de uma fábrica estatal de casas de plástico na Venezuela.
Dezenas de outras fábricas foram ocupadas pelos trabalhadores no Brasil com a ajuda do Movimento das Fábricas Ocupadas (até hoje resiste a ocupação da Flaskô, em Sumaré, região de Campinas-SP).
A unidade constituída com os trabalhadores rurais sem-terra leva a participação de uma coluna de operários das fábricas ocupadas na Marcha dos 40 mil que o MST organiza em Brasília, em 2005. Fábrica ocupada é emprego na cidade, latifúndio ocupado é emprego no campo!
Em Dezembro de 2006, na Cipla, é organizado o Encontro Pan Americano em Defesa do Emprego, dos Direitos, da Reforma Agrária e do Parque Fabril. Na abertura deste Encontro uma assembléia geral da Cipla decide pela redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais. Assinam o acordo a Comissão de Fábrica, a CUT e a CNQ/CUT. Estavam presentes mais de 700 delegados de 14 países.
Imediatamente uma campanha furiosa começa nos meios de comunicação e entre os grandes industriais contra “este absurdo”.
Em 31 de maio de 2007, a pedido do governo Lula, a “justiça” decreta a intervenção para tentar liquidar o movimento. Eles tomam militarmente a Cipla e a Interfibra, mas o movimento continua. Uma total e ampla unanimidade no movimento operário, popular e democrático se constitui contra a intervenção e pela devolução da fábrica aos trabalhadores.