Foto: Socialist Appeal

Fim imediato dos ataques aos palestinos!

Editorial da 32ª Edição do jornal Tempo de RevoluçãoFaça sua assinatura agora! Apoie a imprensa comunista.

Os oprimidos têm direito à auto-defesa

Dia sim, dia sim também, um palestino é morto pelo Estado de Israel de forma violenta – diretamente pelo Exército de Israel ou então pelos “colonos”, que invadem e expulsam diariamente os moradores da Cisjordânia ocupada pelo Estado teocrático. E não estamos contando aqui os que morrem de doença, da falta de cuidados básicos ou, simplesmente, de fome.

Para entender um pouco a situação de hoje, a população total de Israel é de 9 milhões de pessoas, dos quais 75% são judeus (professam a religião judaica). Os ortodoxos (que não trabalham, não servem ao exército e oprimem as mulheres) são 13%. Os palestinos são 20% da população e 5% são considerados “outros”. Só tem cidadania plena no Estado de Israel quem é judeu. Os palestinos que foram expulsos do território, hoje ocupado por Israel, constituem uma população de 5 milhões e meio de pessoas.

Sinteticamente, temos o quadro a seguir:

Embora se venda ao mundo como uma democracia, as leis existentes mostram que é um Estado racista e discriminatório, de caráter teológico. Algumas leis mais evidentes:

Propriedade da terra – a propriedade da terra é pública, pertencente ao Estado. Para morar, uma pessoa aluga a propriedade do Estado. Mas isso não é feito diretamente. A maioria dos aluguéis é controlado por uma entidade religiosa, o Fundo Nacional Judaico, que determina, em seus estatutos, que só pode alugar terras ou propriedades para judeus. Outras formas de aluguel são os “comitês de vizinhos”, majoritariamente compostos por judeus. O resultado de tal situação é que os árabes são cerca de 20% da população e ocupam somente 3,5% das terras e propriedades.

Direito a cidadania e casamentos – hoje, qualquer judeu, em qualquer parte do mundo, que queira mudar pra Israel, tem direito a cidadania automática. Os palestinos, por sua vez, tem a sua cidadania contestada a todo momento. Por exemplo, se um “árabe israelense” casa com qualquer pessoa não judia, ela não receberá a cidadania israelense e viverá como “ilegal” ou “clandestina” em Israel. A lei também proíbe o casamento de um árabe com judeus, porque só existem casamentos religiosos, não existe o casamento civil.

Lei do Estado-nação – estabelece que Israel é um Estado judaico. Ou seja, estabelece que é um Estado teocrático onde a religião oficial é o judaísmo. As outras religiões são permitidas, mas o “povo judeu” (na realidade, os que professam a religião judaica) tem mais direitos em relação à terra; ocupar a terra de alguém que não seja judeu (é o argumento legal para fazer os famosos “assentamentos” na Cisjordânia ocupada).

Lei do Nabka – proíbe que sejam feitas manifestações lamentando o Nabka (a expulsão do povo palestino de suas terras em 1948) e também manifestações a favor do retorno dos palestinos a suas terras.

Sim, Israel tem eleições, mas a maioria do povo dominada por Israel não pode votar. Seria como se no Brasil proibissem os negros, que já foram proibidos, de votar, ou proibíssemos os indígenas, que também já o foram, de votar. As eleições são uma farsa entre as diferentes facções da burguesia israelense para se manter no poder, geralmente com um alto grau de “negociações” com os “ortodoxos”, que são os que mais votam. A minoria não-judia normalmente tem pouquíssima participação nas eleições, sendo que os partidos árabes conseguem, geralmente, uma representação bastante inferior aos 20% referentes à sua minoria étnica.

Todos os partidos judeus, apesar das diferentes denominações, concordam com o essencial dessa política de discriminação dos árabes e de outras minorias em Israel.

A Opressão (com maiúscula)

Se essa é a situação no Estado de Israel, com seus próprios cidadãos que não são da religião judia, a situação nos territórios ocupados é de uma Opressão sem limites. O exército protege os “colonos”, judeus que invadem terras e casas de palestinos, expulsando ou, quando há resistência, matando os donos legítimos. O fornecimento de água, energia, comida, insumos de saúde para a população palestina é restrita. Apesar de terem “direito” à sua própria “administração”, essa, na prática, é subordinada à autoridade militar de ocupação. Existe um muro entre Gaza e Israel, e está sendo construído outro muro entre Israel e a Cisjordânia. Até os templos islâmicos, que eram respeitados por serem “sagrados”, passaram a ser vandalizados, e fiéis foram espancados dentro da maior mesquita (Al-Aqsa) em Israel por policiais e ortodoxos ensandecidos.

A região de Gaza se transformou na “maior prisão a céu aberto” do mundo. A restrição à entrada de combustíveis é tão grande que o principal meio de transporte na região é feito por burros. E, surpresa, em janeiro desse ano, por iniciativa de uma entidade de defesa dos animais, que julgam que usar burros para transporte é “maldade”, proibiu-se a exportação de burros para Gaza!

São dois milhões de pessoas em um pequeno território, quase sem água, sem energia, sem comida, sem transporte. E aí  surpreendem-se quando os oprimidos se levantam, derrubam cercas “tecnológicas” e invadem, matando todos que consideram seus opressores? Não, cara-pálida! Não se surpreenda com o dia em que os indígenas se cansarem de ser mortos por garimpeiros, de ter suas terras invadidas, suas filhas e mulheres estupradas e chacinarem todos em um acampamento, botando fogo em crianças e até velhos. A revolta dos oprimidos não é bonita nem elegante, não cabe no figurino judicial, não cabe nas “regras civilizadas”, porque ninguém os tratou como civilizados!

O que é o Hamas?

Todos os sites e vários youtubers colocam a mesma coisa – que o Hamas nasceu a partir do incentivo de Israel. O que eles não explicam é por que ele se tornou um “inimigo” de Israel. Cabe aos comunistas (marxistas) explicar isso a partir do materialismo dialético, da luta de classes.

Sim, o Hamas nasceu e cresceu porque era a única organização “legal” permitida pela ocupação no território de Gaza, enquanto Israel caçava o Fatah (partido de Arafat) e a Frente pela Libertação da Palestina (FPLP), que eram grupos laicos. Então, em poucos anos, só sobrou o Hamas. E se um rio é represado e não encontra saída, ele vai cavar uma fresta, um buraco, em algum lugar. E os jovens que se reuniam nas mesquitas, nas obras sociais, nas escolas do Hamas começaram a se expressar no Hamas.

Assim, o único grupo permitido se tornou a sede da revolta que transpirava por todos os poros, do sangue que gotejava de cada casa violada, de cada jovem espancado, preso ou morto, de cada mulher machucada, de cada criança torturada. A fome e a miséria levam a revolta, e o único local onde eles podiam expressar essa revolta era o Hamas.

A capitulação da direção do Fatah ao imperialismo, ao aceitar a existência do Estado de Israel e a política de “dois Estados”, levou a corrupção e, na prática, a destruição da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) que reunia todos os grupos que lutavam contra a ocupação sionista. Isso abriu caminho para o Hamas tornar-se majoritário eleitoralmente no território mais sofrido, que era a faixa de Gaza.

O Hamas mantém a perspectiva original de destruição do Estado de Israel, mas distorcida, de um ponto de vista fundamentalista, e quer construir um Estado teocrático islamita no seu local. O seu método de ação é o método do terror.

Sobre a política e o método, discordamos do Hamas. O terror costuma conduzir na experiência histórica, não a vencer lutas, mas a uma repressão maior. E lutamos por um Estado laico e democrático para toda a Palestina, onde todas as etnias e religiões possam conviver em paz, com respeito mútuo.

Por outro lado, combatemos, de todas as formas, o terror que Israel implanta, a pretexto de “guerra contra o Hamas”.

Não à guerra, não ao massacre

Ao contrário da lenda do “cochilo” do serviço secreto de Israel, o que aconteceu era plenamente previsível. Um oficial do serviço de inteligência do Egito alertou o serviço de inteligência israelita que “algo grande” se preparava na faixa de Gaza, a partir do Hamas, uma semana antes do sábado. O próprio comando do Exército esclareceu que as manobras que via na Faixa de Gaza lhe pareciam “treino”, e não acreditavam que algo sério acontecesse.

Mas há um motivo político para a não colocação do muro de Gaza em sobreaviso: o Exército estava ocupado “protegendo” os colonos na Cisjordânia, que atacam diariamente os palestinos. Estava ocupado defendendo os provocadores ortodoxos que faziam provocações no templo de Al-Aqsa espancando fiéis, fossem jovens ou idosos. Ou seja, estava ocupado praticando o que eles acusam o Hamas – terrorismo contra velhos e famílias, também espancando e massacrando famílias.

Surpreendidos pelo tamanho da reação palestina que o Hamas empalmou, eles ficaram paralisados. E quando você oprime demais alguém, quando o aperto é grande, a reação também é violenta. Civis mortos? Isto é mentira pura e simples. Todo “civil” israelense é reservista do Exército, exceto crianças e idosos. Todo mundo é obrigado a servir ao Exército, a não ser os ortodoxos que pregam a morte a toda pessoa que não é judia. O que houve foi retaliação, e a “choradeira” dos “defensores” de Israel deveria olhar o que estão defendendo:

https://twitter.com/SpaceLiberdade/status/1711371323052642488

Lembra de algo? Nós lembramos: as declarações dos nazistas referindo-se aos judeus quando da adoção da “solução final”, as câmaras de gás. Se alguém se confunde sobre o que é um nazista, olhe para este ser desprezível e verá a cara de Hitler confundindo-se com a dele.

E Israel já tomou as “medidas”, não contra o Hamas, mas contra a população da faixa de Gaza – cortou eletricidade, água, comida, combustível e suprimentos médicos. ONGs que atuam na faixa de Gaza, inutilmente, estão pedindo que não cortem nem a água, nem a eletricidade, nem os suprimentos médicos dos hospitais. Mas o que vemos é o cerco imperialista aumentar – agora, todos os países europeus, os “apoiadores” da causa palestina, cortam as verbas “humanitárias”. Sim, vamos fazer o povo sofrer, para aprender que não pode se revoltar contra seus “senhores”, afinal, como explicou o Nazista Yoav Gallant, são “animais”.

Os comunistas têm lado. Estão ao lado dos oprimidos contra os opressores. Explicam que o melhor método de luta é o da Intifada, a mobilização das massas contra o Estado repressor de Israel, a união dos trabalhadores palestinos e judeus contra o Estado ditatorial e teocrático de Israel, a luta comum por um Estado Laico e democrático, onde convivam todas as etnias e religiões (islâmica, judaica, cristã, outras). Sabemos que essa luta é difícil, pois ela requer vencer a ideologia sionista, que hoje é da maioria da classe trabalhadora israelense. Significa construir um partido comunista revolucionário com israelenses e palestinos, que abra caminho para uma vitoriosa revolução proletária que expulse a burguesia e o imperialismo. Uma revolução assim certamente mudará toda a face do Oriente Médio e do mundo.

Os oprimidos não podem esperar programas e palavras de ordem correta. Eles aprenderão com a própria luta. Nesse momento em que eles se levantam, na forma que seja, apoiamos incondicionalmente esta revolta e exigimos o fim da repressão e dos massacres contra os palestinos.

  • Pelo fim imediato dos massacres contra os palestinos, parem os bombardeios já!
  • Pelo direito ao retorno de todos os refugiados palestinos desde 1948!
  • Libertação de todos os presos políticos em Israel!
  • Liguem a água, a energia, liberem o trânsito de combustível, de alimentos e de suprimentos médicos!
  • Todo apoio à revolta Palestina, Intifada já em toda a Palestina e Israel!
  • Abaixo o Estado Sionista de Israel, por uma Palestina laica e democrática, onde convivam todas as etnias e religiões (islâmica, judaica, cristã, outras) e os sem religião!