Governo aperta o cerco contra os movimentos!

As jornadas de junho de 2013 inauguraram um novo capítulo no cenário político nacional e ele ainda está muito longe de um desfecho.

O ano de 2014 inicia quente. E não estamos nos referindo às marcas dos termômetros que a cada dia batem todos os recordes das últimas décadas.

As jornadas de junho de 2013 inauguraram um novo capítulo no cenário político nacional e ele ainda está muito longe de um desfecho.

Em todo o mundo, a crise do capitalismo leva a maiores enfrentamentos e acirramento da luta de classes, mesmo com as direções das organizações tradicionais dos trabalhadores recusando-se a encabeçar e dirigir as mobilizações.

No Brasil, não é diferente. Embora não nos mesmos níveis das jornadas de junho, janeiro demonstrou elevação da temperatura política, ainda que a repressão pretenda lançar água fria na fervura.

A classe dominante demonstrou que não planeja abrir mão de um único anel de seus dedos para financiar mais e melhores serviços públicos. Isto comprova que a universalidade de direitos na Constituição é uma fraca obra de ficção, que a burguesia não leva a sério. No entanto, ela cerra os punhos e dentes ameaçadoramente e gasta recursos públicos – nunca os próprios – para modernizar o aparato repressivo do Estado. São Paulo já adquiriu quatro de um lote de 14 veículos blindados que lançam jatos de água e gás lacrimogêneo.

Desde 2013 foram aprovadas uma série de leis que permitem uma repressão mais brutal, violenta e impune. Além disso, as novas legislações permitem que o Estado processe e criminalize manifestações, greves e, claro, dirigentes de forma mais fácil.

No apagar do último ano, em 19 de dezembro, o Ministério da Defesa publicou uma portaria normativa que declara movimentos e organizações como “forças oponentes”, ou seja, alvos preferenciais da repressão. O documento regulamenta o uso das Forças Armadas pelos estados durante a Copa do Mundo, ajustando-se às repressivas Leis, de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e a Lei Geral da Copa. Corre por fora a Lei Antiterrorismo, que ainda não foi aprovada.

O Ministério da Defesa avisa que as tropas do exército ficarão aquarteladas durante o evento, prontas para entrar em ação caso as polícias militares precisem de reforços para reprimir as manifestações.

Enquanto a burguesia mais reacionária ataca os trabalhadores e suas organizações por meio de processos judiciais, a parcela da “base aliada” do PT usa o governo federal como ponto de partida dos ataques, “regulamentando” e “legalizando” a repressão que virá. Os dirigentes petistas no governo por sua vez executam toda a orientação.

Primeiras manifestações, primeiras repressões

Em Joinville, foi anunciado aumento de tarifas de ônibus, um dos detonadores das jornadas de junho. Houve manifestações de jovens contra o aumento e o prefeito Udo Döhler (PMDB) usou até helicópteros para “acompanhar” os jovens manifestantes pela cidade. Recursos para o aparato repressivo vão sendo esbanjados para aumentar a repressão contra os jovens, grevistas e servidores públicos. Ao que parece só não há recursos para serviços públicos de qualidade e boa remuneração aos servidores nessa cidade. Aliás, no Brasil.

Fosse pouco o uso de helicópteros, a PM parou um ônibus após a manifestação e, com a desculpa de tirar uma menina que carregava sua bicicleta no coletivo, prendeu três outros jovens que a defendiam. Sucederam-se cenas de truculência, com ameaças físicas e verbais e prisões arbitrárias. A Esquerda marxista prestou solidariedade por meio de seus militantes, do mandato do vereador Adilson Mariano e advogados, ajudando na libertação dos manifestantes.

Operações de guerra

A classe dominante sabe o tamanho dos combates que serão travados nos grandes centros. Por isso vem montando uma operação de guerra para a repressão dos atos.

No Rio de Janeiro, o aumento das tarifas do transporte levou a uma manifestação massiva em 30 de janeiro, que terminou com os manifestantes pulando a catraca. Em um aparente recuo da polícia – que reprimiu violentamente os protestos em 2013 – a ação não foi impedida.

Em um ato em São Paulo, em 25 de janeiro, alguns poucos manifestantes quebraram vitrines de pequenos estabelecimentos na Rua Augusta. Eles eram adeptos da tática Black Bloc, que permite a agentes provocadores infiltrados sabotar o movimento para tirar legitimidade junto à opinião pública.

Nesta manifestação, a tropa de choque dispersou manifestantes com gás e os perseguiu até o interior de um hotel na Rua Augusta, atirando balas de borracha e espancando jovens que não ofereciam resistência. Além disso, tomou celulares para impedir registros. O estudante da Unifesp Vinícius Duarte, 26 anos, sofreu traumatismo no maxilar, teve os dentes quebrados e nariz fraturado. Outro jovem foi ferido com três tiros de arma letal no bairro Higienópolis quando voltava desta manifestação, mas já bem distante dela.

Testemunhos de comerciantes locais contrariam a versão da polícia, que alegaram legítima defesa depois de terem sido brutalmente ameaçados com um estilete escolar. Porém, ainda que confirmada a acusação, até mesmo os especialistas admitiram o absurdo excesso de força, quando policiais em maior número usaram uma arma letal para deter um garoto.

Essas e outras medidas visam criar um clima de terror psicológico, que desestimule jovens a lutarem por seus direitos quando eles despertam para a atuação política por meio das manifestações.

A realização da Copa e a garantia de que os investidores estrangeiros não sejam ameaçados em seus lucros dá o tom da repressão deste ano. Até uma contra ofensiva de propaganda já foi anunciada pelo Planalto.

Finda a Copa, garantido o saque da Fifa e das grandes franquias estrangeiras, o que ficará são as leis repressivas contra o direito a manifestações e greves, criminalizando os movimentos sociais e sindicatos.

Para garantir os super lucros, a lei também determina que a Fifa poderá definir áreas de restrição comercial em até dois quilômetros em volta dos estádios. Isso significa que o comércio não poderá fazer publicidade de concorrentes dos patrocinadores no entorno dos jogos, mas poderá vender os produtos normalmente. Este será o saldo (negativo) da realização de uma Copa do Mundo em território nacional.

A escalada repressiva em curso precisa ser interrompida e a melhor maneira para isso é unir na luta as organizações dos trabalhadores. É necessário barrar esta ofensiva da burguesia e garantir as liberdades democráticas de manifestação, associação e greve. Está na ordem do dia ainda a batalha pela anistia a todos os processados e condenados políticos.

A Esquerda Marxista e a Juventude Marxista impulsionam a campanha “Público, Gratuito, Para Todos: Transporte, Saúde, Educação! Abaixo a Repressão!”.

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