Cinquenta anos depois dos eventos revolucionários de 1968, uma centena de jovens marxistas revolucionários reuniram-se na universidade SOAS em Londres para a Conferência Anual da Federação Marxista de Estudantes. Com camaradas desde Glasgow até Southampton presentes na conferência, esta foi a quinta e mais proveitosa edição.
1968: ano de revolução
O dia começou com a discussão dos próprios eventos de 1968. Ellen Morton da sociedade marxista de Glasgow levou a conferência para um passeio excitante pela greve revolucionária que colocou o capitalismo francês de joelhos em maio de 1968. Ela explicou o papel dos estudantes em Paris e como eles se conectaram com a classe operária organizada para criar um movimento massivo que levou o General De Gaulle a desabafar para o embaixador dos EUA que ‘‘o jogo acabou – em poucos dias os comunistas estarão no poder’’.
Ellen também tocou nos movimentos que estavam acontecendo ao redor do mundo naquele ano, desde o México ao Paquistão, e desde os EUA até a Checoslováquia. Em todos os casos estudantes e jovens eram a coluna vertebral daqueles movimentos. Foi enorme a inspiração para todos os estudantes revolucionários presentes na conferência.
Uma interessante discussão seguiu a introdução de Helen ao assunto. Camaradas trataram de questões que vão desde as relações entre estudantes e a classe operária até os objetivos anticapitalistas e antiburocrátocos da Primavera de Praga de 1968. Acima de tudo, os camaradas assinalaram a importância de aprender as lições dos acontecimentos de 1968, tanto os sucessos e os erros, para que possamos aplicá-los para nosso trabalho revolucionário hoje.
Cinco anos da Federação Marxista de Estudantes
Depois do almoço, Ben Gliniecki, organizador nacional da Federação Marxista de Estudantes, fez um balanço do trabalho da organização nos últimos cinco anos. Naquele momento, a organização tinha crescido de 17 associações para ter uma presença em 32 campus nas feiras de calouros deste ano, com associações se encontrando regularmente em 25 delas desde então.
Ben relatou o sucesso da Federação nos últimos cinco anos em relação à participação na União Nacional de Estudantes (NUS, na sigla em inglês) e a conexão com os trabalhadores em luta nos campus e além.
Ele também destacou o trabalho de solidariedade internacional da Federação, desde a campanha de Ayotzinapa em solidariedade aos estudantes mexicanos desaparecidos até a campanha por solidariedade à Resistência Antifascista na Ucrânia. Relatórios de mídia recentes provam que todo nosso sucesso está sendo efetivo – nós estamos sendo noticiados! Não há dúvidas de que nos próximos cinco anos da Federação nós seremos mesmo mais bem sucedidos do que nos últimos cinco.
Sarah Taylor da associação marxista de Manchester então propôs uma resolução celebrando os 200 anos desde o nascimento de Marx e encorajou as associações marxistas nesse aniversário a estudar detalhadamente os escritos de Marx. Um rigoroso estudo da teoria marxista sempre foi a pedra angular do método da Federação Marxista de Estudantes para o desenvolvimento de um movimento revolucionário. Esta conferência reafirmou o compromisso da Federação com esse método.
Fiona Lali da associação marxista de SOAS e eleita delegada pela universidade de SOAS para a conferência da União Nacional de Estudantes explicou a estratégia dos estudantes marxistas para a próxima conferência da União. Fiona traçou a importância da política de ganhar toda a União para uma programa socialista e descreveu alguns dos planos que nós temos para panfletos, moções, emendas e reuniões secundárias na conferência da União este ano.
Joe Attard da associação marxista de Kings College London falou sobre a necessidade de as associações marxistas se conectarem com os trabalhadores dos campus. Joe é também ativista da UCU (União das Universidades e Faculdades) e deu alguns conselhos detalhados e dicas para consolidar as próximas greves da UCU, que serão um ponto de foco importante das associações marxistas por todo o país.
Ross McKendrick da associação marxista de Swansea e também um delegado da União Nacional dos Estudantes falou sobre a campanha recém-lançada com o objetivo de trazer a cláusula 4 para dentro do Partido Trabalhista. A cláusula 4 comprometeu o Partido Trabalhista com ‘‘a propriedade comum dos nossos meios de produção, distribuição e exportação.’’ Em outras palavras, um compromisso com o socialismo. Ross explicou o significado da remoção dessa cláusula por Tony Blair em 1995 e a importância política da campanha para restaurá-la. Sempre que possível, disse Ross, as associações marxistas devem se conectar com os Clubes Trabalhistas no espaços de debate e discussão da questão. Sempre que possível nós devemos argumentar para que ela seja formalmente adotada como política dos Clubes Trabalhistas.
Finalmente, Marc Torras da Revolucio em Barcelona, que fez uma viagem para Londres especialmente para a conferência, apresentou uma resolução em apoio à Catalunha. Ele explicou o desenvolvimento da situação política na Catalunha e o significado da luta catalã por independência como uma faísca para uma revolução por toda a Península Ibérica, enquanto a luta for efetivada com o objetivo de estabelecer a República Socialista Catalã. A conferência afirmou sua solidariedade com a luta catalã e destacou a necessidade de dar um conteúdo para a luta pela independência. A resolução foi muito bem recebida e aprovada por unanimidade.
Uma porção de camaradas falaram nessa discussão e explicaram os planos para as associações deles, com um foco especial nas próximas greves da UCU. Os camaradas de Liverpool também deram um relato inspirador sobre o trabalho que eles tem feito nas linhas de piquetes ao lados dos impressionantes motoristas de tanques da Suttons nas últimas semanas.
100 anos desde a Revolução Alemã: Reforma ou Revolução?, de Rosa Luxemburgo
A sessão final do dia foi introduzida por Rob Sewell, editor de Socialist Appeal e autor de Alemanha: da revolução à contrarrevolução. Rob deu um contexto histórico dos eventos revolucionários de 1918 e de uma vívida quantidade de motins, manifestações de massa e dos conselhos de trabalhadores que fizeram a revolução eles próprios. Ele explicou o gigantesco papel de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht no movimento dos trabalhadores naquele momento. E ele tratou intransigentemente aqueles que traíram o movimento revolucionário e assassinaram essa grande revolucionária.
A introdução de Rob pontuou as diferenças essenciais entre os métodos dos reformistas e dos revolucionários para mudar o mundo. A inevitável conclusão da introdução de Rob foi que a transformação fundamental e revolucionária da sociedade é o único meio para livrar o mundo da pobreza, exploração e opressão. O único caminho para garantir uma genuína reforma é através da revolução.
A discussão que seguiu a introdução de Rob foi excelente. Camaradas levantaram e debateram a questão de como nós podemos evitar uma traição do movimento dos trabalhadores, do tipo que aconteceu na Alemanha 100 anos atrás. O papel individual de Rosa Luxemburgo e sua abordagem e métodos também foram tratados.
Observações finais
Ben Gliniecki fechou a conferência, notando que os marxistas são as únicas pessoas que são otimistas sobre o futuro. Nós somos capazes de ver um potencial revolucionário na sociedade e nós somos determinados em construir uma organização que possa aproveitar esse potencial para mudar o mundo. A conferência terminou com uma interpretação entusiástica da Internacional que deixou todos aqueles que participaram inspirados e motivados para construir a Federação Marxista de Estudantes nos próximos 12 meses em uma força mais poderosa de luta revolucionária nos campus e além.
Artigo originalmente publicado em 19 de fevereiro de 2018 no site Marxist Student Federation, sob o título “MSF conference: 100 students celebrate fifty years since 1968“.
Tradução Lucy Dias.