Grande Vitória da Revolução: É Hora de Construir o Socialismo na Prática!

Vitória dos trabalhadores no Referendo do dia 15 na Venezuela traz lições importantes.

O resultado do referendo de ontem sobre a emenda constitucional foi uma grande vitória para as forças da Revolução venezuelana, e ao mesmo tempo um duro golpe sobre a oposição contra-revolucionária. A emenda, que permitirá a Chávez se apresentar como candidato à próxima eleição presidencial, foi aprovada com rotundos 54,36% (6.003.594) a favor, e com 45,64% (5.040.082) contra. Além disso, houve uma grande participação, aproximadamente 67% dos eleitores foram às urnas.

Com cerca de um milhão de votos de diferença e uma margem de 10%, a vitória foi bem maior do que a maioria das pessoas esperava. Sem contar a esmagadora vitória nas eleições presidenciais de 2006, quando Chávez recebera sete milhões de votos, esta foi a eleição onde a revolução alcançou o maior número de votos nos últimos 10 anos. Até mesmo em regiões onde a oposição venceu em Novembro último, como Carabobo, por exemplo, o “SIM” venceu com 52,06% contra 47,94%. Assim como no Distrito Federal (a região de Caracas), onde os contra-revolucionários conseguiram a maioria dos votos, a emenda foi aprovada com 51,87% contra 48,13%.

Nos redutos chavistas, claro, a vitória foi ainda maior: Amazonas – 71,51%; Delta Amacuro – 71,39%; Cojedes – 68,17%; Monagas – 63,50%; e outros mais.

Isto mostra o nível de mobilização das bases do Movimento bolivariano. Veremos um quadro similar se olharmos para os redutos da oposição. Em Nova Esparta (Ilha Margarita), o “NÃO” venceu por uma diferença mínima: 49.26% “SIM”, 50.74% “NÃO”.

Se comparamos os votos desta eleição com os votos em Chávez e no PSUV nas eleições anteriores veremos um claro aumento do suporte. Nas eleições regionais de Novembro de 2008, o PSUV e outros candidatos bolivarianos receberam 5,5 milhões de votos, comparados com os seis milhões no referendo do dia 15. Contudo, a oposição também obteve mais votos, alcançando os cinco milhões de votos no “NÃO”, comparados com os quatro milhões de Novembro. Isto revela a polarização extrema na sociedade venezuelana. Deve-se ter em conta que o número de eleitores cresceu de 13 milhões em 2004 para cerca de 17 milhões em 2009.

O chicote da contra-revolução

A principal razão da vitória neste referendo, ao contrário do que acontecera em 2007, foi a mobilização das massas. Como havíamos explicado em artigos anteriores, as massas viram este referendo em termos de classes. Apesar dos sérios problemas e deficiências que enfrenta a sociedade venezuelana, o incontestável avanço no bem-estar social que a revolução trouxe é uma poderosa atração. Não podemos subestimar o impacto das conquistas do Barrio Adentro e do CDI (Centros de saúde de medicina básica gratuitos em cada comunidade), as missões (educação gratuita e outros programas de serviço social), as Universidades Bolivarianas (permitindo o acesso de milhares de estudantes anteriormente excluídos, principalmente pobres urbanos e jovens da classe trabalhadora), etc.

Para as massas estas são conquistas concretas, o produto de dez anos de luta revolucionária. As massas não assistirão sem luta à destruição dessas conquistas pela ala direita. Isto foi revelado na prática em Novembro. Logo após a vitória de Radonski, um semi-fascista da ala direita, nas eleições regionais no Estado de Miranda, Radonski começou a atacar as missões e o Barrio Adentro.

Em um artigo escrito naquele momento assinalamos algumas das ameaças e ataques da oposição:

“De fato, Chávez, em seu discurso detalhou uma longa lista de ataques contra as clínicas de saúde e aos programas educacionais. Aqui listamos alguns deles:

Uma clínica de saúde na Barrio Adentro I foi incendiada em Los Taladros, Valencia, Carabobo.

Nos municípios de Independencia e Córdoba em Tachira, Estudantes das missões foram obrigados a abandonar as salas de aula.

Em Miranda houve ataques e ameaças contra a universidade UNEFA no governo do Estado (neste momento sob o controle da oposição).

Em Los Teques, Miranda, houve ameaças contra a Rádio La Voz de Guaicapuro.

Em Miranda, um centro clínico de diagnósticos também foi ameaçado e teve de ser protegido pela polícia.

Em Puerto Cabello, Carabobo, apoiadores do novo governador eleito, Salas Feo, ameaçaram médicos cubanos e clínicas do Barrio Adentro.

No município de Guaicaipuro, Miranda, um grupo de 10 médicos cubanos do Barrio Adentro foram forçados a deixar as casas onde viviam.

E a lista continua”.

A resposta das massas foi imediata. Em Miranda, dezenas de milhares tomaram as ruas e manifestações similares aconteceram por todo o país. Isto revela mais uma vez uma característica geral da Revolução venezuelana: sempre que o chicote da contra-revolução golpeia as massas se movem para defender e aprofundar a revolução.

Isto também explica a esmagadora vitória do dia 15. As massas entenderam que este referendo era um momento decisivo para o destino da revolução. Se a contra-revoluão viesse a assumir o controle da presidência, destruíram todas as conquistas da revolução.

As ruas pertencem à revolução

Como mostrado pelo resultado final das eleições, o balanço das forças permanece extremamente favorável para a revolução. Mas os dados não mostram a correlação real de forças na Venezuela. A mobilização das bases revolucionárias é tremenda. Centenas de batalhões de voluntários foram organizados para a campanha.

Em todas as grandes cidades, foram organizados os “pontos vermelhos”, mesas permanentes para debater com as pessoas e distribuir panfletos. As seções mais militantes da classe trabalhadora se auto organizaram em “Frentes de Trabalho pelo ‘SIM’” que organizavam grandes reuniões e manifestações de massas por todo o país. Esta mobilização foi vista também quando um milhão de pessoas marcharam a favor do “SIM” no dia 12 de Fevereiro.

Entre a juventude a situação também era cristalina. Enquanto pequenos grupos de estudantes contra-revolucionários (principalmente filhos da pequena burguesia) tentaram promover a violência, 100.000 jovens bolivarianos marcharam pelo “SIM”. Enquanto que as organizações da juventude opocisionista estão em grande medida vazias, a Juventude do PSUV possui cerca de 140.000 membros.

Na noite das eleições, as ruas de Caracas estavam completamente controladas pelos revolucionários. Centenas de motociclistas com bandeiras vermelhas rodavam pelo centro da cidade. O clima era de euforia entre as pessoas que esperavam o resultado. Centenas de milhares esperavam ansiosos nas cercanias do Palácio Miraflores para escutar o resultado final, e em coro cantaram consignas combativas quando a vitória foi anunciada.

Tudo isso demonstra o enorme potencial ainda presente. Mesmo depois de 10 anos de revolução, as massas ainda são leais e permanecem firmes com Chávez. Com esta magnífica força é completamente possível desferir o golpe final sobre a oligarquia e completar a revolução com a expropriação dos bancos, das terras e da indústria.

Violência contra-revolucionária

Mais uma vez, a contra-revolução revelou seu caráter completamente antidemocrático. Na campanha eleitoral eles usaram tanto as táticas parlamentares como as extra-parlamentares. Houve conflitos violentos entre os estudantes pequeno-burgueses e a polícia. Em Cagua, no Estado de Aragua, 12 estudantes atacaram a polícia com coquetéis molotov durante a manifestação contra a emenda constitucional. Eventos similares aconteceram em Cumana (Sucre), Mérida e Maturín (Monagas). O pior caso aconteceu no Estado de Táchira, onde bandos fascistas promoveram a violência nas ruas pelos últimos dois meses.

No dia 17 de Janeiro, seis paramilitares colombianos foram detidos em Maracay, Aragua, portando armas, granadas e dois quilos de explosivos. No dia 27 de Janeiro, outros 31 colombianos foram presos, acusados de terem ligações com grupos paramilitares. Caso similar aconteceu em Vigia, no Estado de Mérida, quando quatro membros do grupo paramilitar colombiano fascista “El Bloque de las Águilas Negras” foram capturados com uma enorme quantidade de armas, explosivos, granadas e mapas com detalhes de planos de ataques terroristas. Tudo isso demonstra claramente o desespero da oposição que sabia que não poderia vencer e, por isso, tentaram todo tipo de armadilhas para cancelar o referendo e criar uma atmosfera de instabilidade e caos.

Polarização

Contudo, também existem outros perigos iminentes na atual situação. O resultado do referendo revela uma grande maioria para a revolução, mas também demonstra uma mobilização por parte da contra-revolução. De fato, os cinco milhões obtidos pelo “NÃO” significam que os votos na oposição cresceram em 700.000 comparado com as eleições de Novembro. Proporcionalmente, a oposição ganhou algum terreno. Enquanto a diferença entre revolução e contra-revolução em Novembro foi de 58% a 41%, neste referendo caiu para 54% a 45%.

Esta é uma advertência clara que deve ser analisada seriamente. Tudo isso revela a extrema polarização na sociedade venezuelana entre esquerda e direita, revolução e contra-revolução. Algumas pessoas dirão que o governo precisa de “moderação” e “diálogo” com o intuito de construir uma ponte entre os lados opositores.

Mas para ganhar os indivíduos hesitantes para a linha revolucionária, o que é necessário não é a “moderação”. Todo o contrário: o que é necessário é uma ação audaciosa e decidida! A razão pela qual algumas camadas das massas não terem votado ou terem votado no “NÃO” é porque estas estão cansadas do ritmo lento da revolução. Estão cada dia mais cansadas de frases vazias sobre as maravilhas do socialismo, enquanto seus problemas fundamentais permanecem sem solução.

Crise econômica

Ao contrário do que defendem alguns reformistas na Venezuela, a crise internacional do capitalismo terá efeito sobre a Venezuela. De fato, o efeito já está sendo sentido. Em apenas seis meses, o preço do barril do petróleo despencou de US$147 para menos de US$40. Isto está minando completamente a economia do país. Os preços de outras matérias-primas, como o alumínio e o aço, que a Venezuela produz em grandes quantidades, também despencou drasticamente.

Só não pode como está minando as conquistas da revolução. A PDVSA (a companhia petrolífera nacional), que financia vários projetos sociais, já anunciou cortes de 40% em seu orçamento anual. A inflação também sobe. Hoje está próxima dos 30%, mas os preços dos alimentos em Caracas subiram cerca de 50% em apenas um ano.

Isto cria sérios problemas para milhares de famílias da classe trabalhadora que não conseguem chegar ao fim do mês. Se isto não se resolver, colocará em sério perigo o suporte social da revolução. O principal problema é que a economia venezuelana ainda é capitalista, e deve, portanto obedecer às leis básicas do mercado. É necessário romper este padrão para introduzir um plano socialista para reativar a capacidade produtiva do país e assegurar o desenvolvimento eficiente da economia. Mas para fazer isso é necessário acabar com o poder econômico da oligarquia, que ainda mantém os principais meios de produção da economia.

“Uma idéia cujo tempo chegou”

No discurso da vitória no Balcão do Povo no Palácio Miraflores, Chávez disse que os seis milhões que votaram “SIM” votaram pelo Socialismo. Isto está absolutamente correto. Mas agora o “Socialismo” não pode significar uma simples palavra; deve ser construído na prática. Apesar da expressiva vitória no referendo, a revolução ainda não é irreversível. O crescimento da oposição e o fato de mais de um milhão dos que votaram em Chávez em 2006 não terem votado desta vez é claramente um sinal de perigo. Se somarmos a isso a perda de algumas regiões estratégicas nas eleições de Novembro, os sinos de alarme devem soar.

No dia da eleição, Chávez emitiu um comunicado. Nesta nota de imprensa ele citou Victor Hugo: “Você não pode deter uma idéia cujo momento chegou”. Mais uma vez, isto está completamente correto. Mas devemos adicionar uma coisa: esta idéia é a Revolução Socialista. Você não pode deter a revolução uma vez que está em movimento! A revolução não pode ser detida a meio caminho! Hoje mais que nunca, a questão é a seguinte: ou a revolução avança para destruir o poder econômico da burguesia e do imperialismo ou caminhará para a mais terrível derrota. Esta é a questão que decidirá o destino da Revolução venezuelana.

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