Greve pela Vida na Região dos Lagos – RJ: Entrevista com Joaquim Machado

Joaquim Machado é trabalhador da educação na rede municipal de Cabo Frio e militante do Núcleo regional do Sindicato dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro – Região dos Lagos (Sepe Lagos). O sindicato está travando a luta contra as aulas presenciais sem vacina na Região dos Lagos e o camarada Joaquim nos dá detalhes da luta em todo este período da pandemia. Fala do descaso da prefeitura com os profissionais de educação e com os estudantes e como a categoria reagiu às tentativas de imposição de medidas que colocavam em risco a saúde dos estudantes e dos profissionais da educação; e fala da luta pela regularização dos salários dos aposentados, no período mais duro da pandemia. Assim como fala da luta pelo “Fora Bolsonaro”.

Esquerda Marxista – RJ: Em que ponto está a luta dos profissionais em educação da Região dos Lagos?

Joaquim Machado: Desde agosto que as assembleias do Sepe Lagos aprovaram a “Greve pela Vida”, a orientação é que os trabalhadores da educação só retornem às aulas quando houver uma vacina e todos estejam imunizados.

Há uma batalha em curso sobre a abrangência do ensino remoto, defendemos que as secretarias de educação não se aproveitem da pandemia para querer impor o ensino remoto permanentemente. Educação de verdade só é possível com professores e profissionais de educação presencialmente com os estudantes para a educação avançar.

Em Búzios, a categoria deliberou a “Greve pela Vida” contra a convocação presencial por parte da Secretaria. Após meses de luta, vimos uma vitória do Sepe quando, há 15 dias, o governo desistiu de convocar todos os profissionais, acordando em chamar apenas os profissionais essenciais às escolas, um ou dois dias por semana, com direito ao banco de horas (que serão revertidos em folgas no futuro).

Em Arraial do Cabo, apesar do grande assédio moral, a categoria se recusou a voltar ao trabalho e não estão acontecendo aulas presenciais. O prefeito Renatinho Viana (Republicanos) sofreu uma derrota histórica e os áudios histéricos que vazaram revelaram seu desespero.

Atos de rua em junho e julho exigiram a regularização dos atrasos nos pagamentos das aposentadorias dos trabalhadores inativos em plena pandemia. A luta continua.

EM-RJ: Quais são as principais reinvindicações da categoria no momento?

JM: Lutamos pela convocação dos aprovados nos concursos públicos de anos anteriores. Por exemplo, em Búzios, o último concurso público foi realizado em 2012 e, em Arraial do Cabo, em 2015. Há muitos aprovados aguardando a convocação e a rede necessita de novos professores. Em Cabo Frio houve convocação, mas ainda há 180 professores por tomar posse.

Ainda há reajustes salarias a serem honrados, a luta por isonomia persiste para que todos tenham direito ao triênio e a licença prêmio, por exemplo.

Queremos esclarecimentos sobre os recursos da merenda escolar, que não foi oferecida no período da Pandemia, e mais transparência sobre os recursos do Fundeb.

Mantemos a “Greve pela Vida”.

Também defendemos o não pagamento da dívida pública para que tenhamos recursos para a educação e apoiamos a luta dos trabalhadores da Consercaf (Empresa de limpeza urbana de Cabo Frio) que está em luta por melhores salários e condições de trabalho.

EM-RJ: Como a direção do sindicato está respondendo?

JM: A direção do Sepe Lagos tem se mostrado bastante aguerrida na luta neste período difícil. As assembleias têm sido cada vez mais representativas, inclusive neste momento que precisamos realizá-las de forma online. Mesmo em difíceis condições, realizaram atos presenciais nas situações de maior emergência, tomando todos os cuidados sanitários, para garantir o pagamento dos salários atrasados e levando em frente a “Greve pela Vida”.

A direção do Sepe Lagos não se limita apenas às questões locais, também tem debatido e se posicionado sobre as questões estaduais e nacionais, que dizem respeito a toda a classe trabalhadora.

Temos observado o crescimento da participação dos trabalhadores de base nas assembleias e todas as chapas representadas na direção estão tendo todas as condições para apresentar suas ideias para a categoria.

Lamentamos profundamente a falta de clareza da direção do Sepe Central sobre as questões envolvendo a pandemia. Se as orientações fossem mais claras teríamos mais chances de unificar toda a categoria para lutar contra as imposições das Secretarias de Educação, que de forma irresponsável querem acelerar a volta às aulas e tornar o ensino remoto permanente. Essa falta de clareza tem levado os profissionais de educação a tomar decisões individuais.

EM-RJ: Na sua opinião o que deve ser feito para a luta avançar?

JM: É preciso unificar a categoria e os sindicatos, dialogar com todos que querem lutar e animar os que tem dúvidas, desde os grêmios estudantis a associações de moradores. Até mesmo em reuniões de condomínio devemos discutir estas questões que são tão importantes para nossas vidas. É preciso dialogar com toda a população, assim que a pandemia permitir ir às ruas.

Temos que lutar contra o Orçamento de Guerra do governo Bolsonaro para 2021, que além de pagar a dívida pública religiosamente em dia para o sistema financeiro, ainda quer deslocar recursos da saúde, educação e da ciência para o Ministério da Defesa e agradar seus apoiadores entre os militares. Devemos derrubar Bolsonaro e seu governo de patrões e generais agora, não podemos esperar 2022.