No dia 16 de abril (sexta-feira), Guilherme Boulos (PSOL) e Marcos Pereira, presidente do Republicanos, participaram de um jantar nos Jardins, em São Paulo, oferecido por um amigo em comum. Questionado pela imprensa sobre o encontro, Guilherme Boulos respondeu:
“Tenho já há algum tempo buscado trabalhar por reaproximação da esquerda com evangélicos. Isso é essencial. Construiu-se uma estigmatização dos dois lados. O encontro ocorreu nesse contexto: esquerda e evangélicos buscarem se dialogar”.
Muitos filiados do PSOL, militantes de esquerda e trabalhadores em geral receberam essa notícia com surpresa. Afinal, jantar em bairros nobres da capital paulista não combina com a imagem que Boulos construiu, durante mais de uma década, junto aos trabalhadores Sem-Teto e às periferias do país. Porém, o exótico círculo de amizades de Guilherme Boulos e os locais que frequenta não devem ocupar o centro da discussão. O mais importante é capturar o sentido e as consequências políticas desse encontro.
Marcos Pereira (Republicanos) é o atual presidente do partido que abriga dois filhos (o senador Flávio e o vereador Carlos) do presidente Jair Bolsonaro, além de ser um dos principais líderes da Igreja Universal e ex-ministro do governo Michel Temer. Ou seja, faz parte do núcleo que representa o setor mais reacionário da burguesia brasileira.
É evidente que as organizações de esquerda precisam dialogar com os trabalhadores evangélicos de forma fraterna. Porém, isso não significa buscar aproximação com um sujeito que explora a fé alheia, arranca dinheiro dos trabalhadores e promete o paraíso no céu enquanto promove o inferno na Terra. Além de ser um dos pilares que sustenta o governo assassino de Jair Bolsonaro!
Sentar à mesa com um declarado inimigo dos trabalhadores para desenvolver uma política comum que supostamente aproxime a esquerda dos evangélicos é pavimentar o caminho para a colaboração de classes, é alimentar ilusões tácitas na política institucional, é gerar confusão e desconfiança entre os trabalhadores e jovens, enfim, é organizar a derrota.
Para retomar a confiança dos trabalhadores, evangélicos ou não, é preciso uma política de independência de classe que faça uso dos métodos tradicionais de luta do proletariado. Uma política que aponte a necessidade urgentíssima de derrubar Bolsonaro para salvar vidas e abra caminho para um governo dos trabalhadores, sem patrões, sem generais e sem falsos profetas.