As eleições locais recentes deram importantes lições para o movimento trabalhista como um todo. Em muitas regiões os votos do Labour (Partido Trabalhista) diminuíram e o partido perdeu controle geral em algumas de suas autoridades locais, como Merthyr Tydfil, lar constituinte de Keor Hardie, primeiro membro do parlamento do Partido Trabalhista na Câmara dos Comuns.
Esta e outras perdas significativas apenas acresceram à cacofonia de ligações da direita do Partido Trabalhista para Corbyn se afastar.
Ainda assim, para muitos membros tradicionais do Partido Trabalhista, que testemunharam processos da eleição em suas comunidades locais, uma conclusão diferente pode ser alcançada: uma luta pela liderança da classe trabalhadora é necessária em todos os níveis para que o Partido Trabalhista tenha impacto. Para alcançar isso, precisamos romper com a elite do Tory (Partido Conservador), políticas protecionistas danificadas do passado. Em resumo, conselheiros do Partido Trabalhista, ao invés de ajudar a implementar e administrar, localmente, a austeridade do Partido Conservador, precisa mobilizar o movimento trabalhista inteiro e liderar uma campanha em massa contra os cortes.
Sem compromissos
Isto não vai acontecer da noite para o dia, mas a dificuldade começa em nível local. Não há dúvida que muitos conselheiros do partido têm as melhores intenções quando o assunto é construir uma sociedade melhor. Em Swansea, por exemplo, muitos resultados fantásticos foram alcançados por candidatos impetuosos do partido, vencendo áreas como Dunvant e fortalecendo suas posições em assentos chaves como Castle.
Porém, boas intenções ao cuidar de comunidades locais não é o suficiente quando elas são destruídas pela lógica do sistema capitalista e seus representantes políticos, que exigem que a classe trabalhadora pague pela crise capitalista.
Em alas onde não havia sequer a mais moderada oposição aos cortes, não é surpresa que muito dos eleitores do Partido Trabalhista escolheram ficar em casa; 40% é agora considerado um resultado decente. Está claro que sem alternativa real oferecida por líderes locais do Partido, as pessoas não irão votar – muito menos fazer campanha – para algo que elas veem como indiferente do status quo danificado.
As estratégias de eleição do partido em muitas cidades e áreas foram infelizmente limitadas a conduzir “pesquisas” e utilizar todo tipo de aparato de campanha técnico, como algoritmos de tendência de voto, ao invés de trabalhar e fazer campanha em um plano de combate à austeridade.
Esta falta de luta local do partido é reflexo dos limites de tentativas de reformar o capitalismo em uma época de crise. Ao invés de esperar por migalhas caírem da mesa, o partido precisa de uma visão para varrer este sistema podre. Conselheiros não deveriam se limitar a atividades administrativas, mas usar sua plataforma de poder para representar comunidades de classes trabalhadoras, tanto dentro quanto fora das câmaras de trabalho – e sem compromisso.
Bairros podres
Candidatando-me pelo Partido Trabalhista na ala de espartaria de Swansea, junto a um time de outros candidatos, tentei argumentar em plena língua durante conversas com pessoas comuns na porta de entrada. Um ex-eleitor idoso do partido me contou que o partido não bateu a sua porta em mais de vinte e cinco anos. Mais importante ainda, ele disse que sequer teve respostas claras relacionados à problemas básicos locais, ainda menos em termos de longo prazo.
Está caro que a população está buscando respostas, e que a falha em providenciar uma com significado levará a mais desilusão com o partido. Como mostrado em múltiplas derrotas ao redor do país em eleições locais recentes. Como está agora, o partido está frequentemente sendo visto como negligente e complacente com relação a longas terras centrais, como o país de Gales. Não é surpresa, portanto, que muitos independentes de esquerda – antigos membros do partido – enfrentaram e venceram em redutos anteriores do partido como Merthyr Tydfil e Blaenau Gwent, devido à frustração e fúria com a direita do Partido Trabalhista Galês (Welsh Labour Party).
Nas altas terras de Swansea, por exemplo, dois conselheiros do partido abandonaram suas áreas após despesas com iPhones e laptops novos, antes de ir a algum lugar para buscar trabalhos com melhor remuneração. Esta atitude escandalosa fez com que outros candidatos de esquerda – honestos – com um histórico comprovado, ficassem perto de perder nestas eleições, como resultado de serem pintados com a mesma cor que seus colegas carreiristas. O conjunto de membros do partido deve garantir que reuniões de seleção corte pela raiz estes tipos de carreiristas e mantenha lutadores de classe genuínos em seus lugares.
“Melhor quebrar a lei do que quebrar os pobres”
Para conselheiros eleitos do partido, é mais importante do que nunca não apenas falar, mas também agir de acordo com as palavras. A história britânica é cheia de episódios onde conselheiros se levantaram e fizeram uma diferença. Na rebelião contra impostos em Poplar, em 1921, conselheiros do partido entenderam suas tarefas como representantes dos trabalhadores. “Se nós estamos a enfrentar o desdém da corte, ou o desdém do povo”, eles explicaram, “nós vamos escolher o desdém da corte”, ganhando imenso apoio nas ruas e eventualmente protegendo a população de Poplar do machado de Westminster.
Batalhas semelhantes ocorreram em Liverpool, Clay Cross e outras cidades no passado, atraindo massas de trabalhadores e jovens a lutar entusiasmadamente por uma vida melhor.
Os capitalistas seus amigos do partido Conservador estão provando diariamente que a lei não se aplica a eles, com os conservadores de alguma maneira escapando isentos de investigações recentes sob fraude eleitoral, por exemplo. Porém, se esses respeitáveis digníssimos não estão dispostos a respeitar a lei, então por que deveríamos nós, quando o assunto é escolher entre a austeridade dos conservadores e proteger os pobres e necessitados da nossa comunidade? Como George Lansburry – antigo líder do Partido Trabalhista – declarou como um conselheiro contra os cortes durante a rebelião em Poplar: É “melhor quebrar a lei do que quebrar os pobres”. Todos os cortes devem ser revertidos; nenhum deve ser implementado.
Como Bertolt Brecht disse uma vez, primeiro vem o estômago cheio e depois vem a ética. Conselheiros do Partido Trabalhista deveriam se opor à austeridade imposta do Partido Conservador por qualquer meio necessário. Não pode haver qualquer desculpa para que diretores executivos do conselho municipal, que nada fazem, ganharem salários de seis dígitos enquanto pessoas cometem suicídio ou acabam nas ruas devido à pobreza e cortes. Qualquer conversa de “não ser capaz de fazer nada” é desonesta e não ingênua quando tais anomalias e hipocrisias são deixadas sem desafio.
A luta começa localmente – e nós apelamos a todos os nossos leitores, incluindo conselheiros que realmente queiram mudança, que se juntem a nós nesta luta. Esta terra é rica o suficiente para prover a todos nós, e se lutarmos juntos, unidos, podemos romper com este sistema bárbaro que falhou com milhões ao redor do mundo e estabelecer uma sociedade socialista baseada nos princípios da igualdade, justiça e democracia genuína.
Artigo publicado em 17 de maio de 2017, no site da Corrente Marxista Internacional (CMI), sob o título “Britain: No time to waste – Labour councillors must fight the cuts!”.
Tradução de Daniel Eccel.