Foto: Paulo Pinto, Agência Brasil

Intifada, Primavera Árabe e Gaza – o inverno chegará para o imperialismo

Neste texto buscamos explicar de forma reduzida um pouco da história que levou à situação atual. Deixamos de lado algumas partes que são suficientemente explicadas pela maioria da publicações existentes – a criação de Israel a partir de um acordo entre Stálin e EUA, com o armamento das milícias terroristas de judeus que expulsaram os palestinos de suas casas, vilas e propriedades rurais em 1948 (Nakba), a guerra de 1967 quando Israel atacou os países árabes e aumentou seu território ocupando Gaza, a Cisjordânia e as colinas de Golam, as sucessivas guerras e outros enfrentamentos militares. Passaremos ao ponto em que as massas interviram nas lutas – as Intifadas. Depois, fazemos uma revisão breve da Primavera Árabe e então voltamos aos palestinos e a situação atual, no Oriente Médio e no mundo.

Partimos de alguns princípios e aqueles que quiserem ver como chegamos a estas posições podem ler os diversos textos existentes em nosso site. O primeiro deles é que Israel não é um “Estado normal”, mas uma cabeça de ponte do Imperialismo dos EUA contra as massas árabes, que serve de policial e base para os EUA agirem rapidamente em qualquer situação existente no Oriente Médio. Os bombardeios já feitos no Irã, na Síria, no Egito e em outros países árabes sem aviso ou sequer provocação existem sem uma declaração de guerra, baseados simplesmente na sua superioridade aérea de fato existente. A opressão de Israel sob o povo palestino, em uma situação comparada por Nelson Mandela como a opressão do estado Sul-Africano com os negros é notória. O fato de dependerem econômica e politicamente dos EUA, que destina 4 bilhões de dólares de ajuda militar (doado a Israel) anualmente também é fato. O caráter teocrático e antidemocrático do Estado judeu analisamos em artigo recente no qual mostramos as principais leis que mostram que os judeus (praticantes da religião judaica) são mais “cidadãos” que todos os outros.

Agora a nossa pequena história:

A primeira Intifada

A primeira Intifada (“guerra das pedras”) foi um levante popular palestino contra a ocupação e opressão israelense. No dia 9 de dezembro de 1987, um caminhão militar israelense atropelou e matou quatro palestinos na Faixa de Gaza, um território ocupado por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Esse incidente foi o estopim de uma revolta popular que ficou conhecida como a Primeira Intifada, ou seja, a insurreição dos palestinos contra a opressão israelense.

A Primeira Intifada foi um movimento espontâneo e descentralizado, que envolveu principalmente jovens e estudantes – Foto: Abarrategi, Wikimedia Commons

A Primeira Intifada foi um movimento espontâneo e descentralizado, que envolveu principalmente jovens e estudantes, mas também trabalhadores, mulheres e crianças. Os palestinos não dispunham de armas sofisticadas, mas usavam pedras, coquetéis molotov, pneus queimados e barricadas para enfrentar os soldados israelenses, que reagiam com balas, bombas de gás lacrimogêneo e prisões em massa. A revolta também se manifestou por meio de greves, boicotes, manifestações e desobediência civil. Foram construídos comitês populares para organizar a luta o que permitiu que a revolta se mantivesse por seis anos, apesar da brutal repressão.

Os árabes israelenses são cidadãos de Israel que têm origem árabe, geralmente muçulmana ou cristã, e que representam cerca de 20% da população israelense. Eles são descendentes dos palestinos que permaneceram em Israel após a criação do Estado judeu em 1948) e que enfrentam discriminação e marginalização na sociedade israelense. Eles participaram ativamente na Primeira Intifada.

Eles participaram de greves, manifestações, boicotes e outras formas de protesto não violento, exigindo o fim da ocupação e o reconhecimento dos direitos nacionais dos palestinos. Eles também denunciaram as violações dos direitos humanos cometidas por Israel contra os palestinos, e reivindicaram a igualdade de direitos e oportunidades para os árabes dentro de Israel.

A participação dos árabes israelenses na Primeira Intifada foi duramente reprimida pelas autoridades israelenses, que usaram da brutalidade, detenções arbitrárias, tortura e restrições à liberdade de expressão e associação. Muitos árabes israelenses foram presos, feridos ou mortos durante os confrontos com as forças de segurança israelenses.

A resposta do exército israelense foi encapsulada pela política “Quebre seus ossos” defendida pelo então ministro da Defesa, Yitzhak Rabin. Incluiu assassinatos, fechamento de universidades deportações de ativistas e destruição de casas, repetindo estratégias dos britânicos no início do século.

Segundo a organização israelense de direitos humanos B’Tselem, 1.070 palestinos foram mortos pelas forças israelenses durante a Intifada, incluindo 237 crianças. Mais de 175 mil palestinos foram presos. (revista exame)

O conflito teve repercussão internacional e mostrou de forma dramática a situação dos palestinos nos territórios ocupados por Israel, que sofriam (e sofrem cada vez mais) com a violação dos seus direitos humanos, a pobreza, o desemprego, a falta de serviços básicos e a colonização ilegal.

A participação dos árabes israelenses na Primeira Intifada foi duramente reprimida pelas autoridades israelenses, que usaram força brutal, detenções arbitrárias, tortura e restrições à liberdade de expressão e associação – Foto: Efi Sharir, Wikimedia Commons

A Primeira Intifada também teve consequências políticas importantes. Em 1988, a OLP declarou a independência do Estado da Palestina e reconheceu o direito de existência de Israel, o que foi uma derrota histórica para os palestinos, já que a sua organização tradicional aceitou se unir aos inimigos, durante a revolta. Por outro lado, ela abriu espaço para a manipulação política de Israel, que enxergou no acontecimento uma oportunidade de destruir totalmente a OLP, favorecendo a construção do Hamas, um grupo islâmico que inicialmente fazia somente a parte de assistência social, médica e educacional.

Israel começou a financiar o Hamas no final da década de 1970 e início da década de 1980, como uma forma de combater a influência da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e do Fatah, grupos nacionalistas e laicos que lideravam a resistência palestina contra a ocupação israelense. Israel via o Hamas, um grupo islâmico radical, como um contrapeso aos movimentos seculares e de esquerda, que eram mais populares e organizados entre os palestinos. O cálculo era que o Hamas se concentrasse em questões religiosas e sociais, em vez de políticas.

Com o passar dos anos, na falta de outro canal político, o Hamas foi usado pelos jovens mais radicalizados para construir uma organização que se opunha às negociações com Israel e defendia a luta armada. Ele continuava a obter o suporte (inclusive econômico) de Israel, através do Catar, e construía uma ideologia terrorista e messiânica, que se contrapunha, ao mesmo tempo, a Intifada e a OLP.

A Primeira Intifada terminou com os Acordos de Oslo, assinados em 1993 entre Israel e a OLP, com a mediação dos Estados Unidos. Esses acordos previam o reconhecimento mútuo entre as partes, a criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP) para administrar os territórios palestinos e o início de um processo de paz que deveria levar à solução definitiva do conflito. Essa derrota política levou na prática ao fim do movimento. No entanto, os acordos não foram cumpridos por parte de Israel, que continuou com a política de “assentamentos” (na prática, continuar a expulsar os palestinos de suas terras, como tinha acontecido em 1948).

Imagem: Palestine Solidarity Campaign, Flickr

O Hamas se opunha aos acordos de paz entre Israel e a OLP, e defendia a luta armada pela libertação da Palestina, contrapondo-se, portanto, aos movimentos de massa – Intifada. O primeiro ataque suicida do Hamas contra Israel ocorreu em 1993, em resposta aos Acordos de Oslo. Desde então, o Hamas realizou vários ataques contra alvos civis e militares israelenses, usando foguetes, homens-bomba e outros meios.

A Primeira Intifada foi um marco na história da luta do povo palestino pela sua autodeterminação. Ela mostrou ao mundo a resistência e a determinação dos palestinos diante da ocupação israelense e da indiferença internacional. Ela também inspirou outras intifadas (revoltas de massa) em diferentes regiões do mundo árabe.

Segunda Intifada

A Segunda Intifada começa com uma provocação feita por Ariel Sharon ao “visitar” a esplanada dos templos em Israel. Mais de mil militantes acompanham o ato político feito por Sharon. Túmulos são pisados, territórios sagrados são profanados. A revolta eclode e é reprimida por soldados.  Ao final da “visita”, os palestinos são reprimidos, sendo seis mortos e dezenas de feridos.

O resultado foi uma Segunda Intifada, que se desenvolve entre as massas como a primeira. Mas, neste momento, há outros atores intervindo. O Hamas e outros grupos religiosos lançam não só foguetes, mas homens bombas que explodem em Israel. Ao final do confronto, Israel retira-se da Faixa de Gaza, desmantela os assentamentos que lá fizera e cria a situação atual – constrói um muro para impedir a entrada de palestinos. Os muros e controles espalham-se dentro da Cisjordânia a ponto de hoje existirem mais de 800 “pontos de controle” internos dentro da Cisjordânia, desmentindo o mito de “governo autônomo” ou “Autoridade Palestina”. Lá, o governo “palestino”, a “Autoridade Palestina” só serve de ajuda para a própria repressão Israelense.

Primavera Árabe

Trechos do artigo “10 anos depois: lições da Revolução Egípcia (parte 1)”:

“Em 25 de janeiro de 2011, centenas de milhares de egípcios saíram às ruas em um protesto sem precedentes contra o regime tirânico de Hosni Mubarak. A data do protesto foi escolhida para coincidir com um dia nacional de celebração em homenagem à força policial egípcia – como um sinal de desafio contra o odiado estado policial de Mubarak.

Na verdade, ele foi inspirado pelos eventos notáveis ocorridos ao longo da costa norte-africana, na Tunísia, no mês anterior. Lá, um movimento revolucionário de massa derrubou a ditadura de Zine El-Abidine Ben Ali, depois de apenas três semanas de enormes protestos, com o governante que liderou o país por 23 anos e acabou fugindo para o exílio na Arábia Saudita.

O que se seguiu no Egito foi uma revolução em escala ainda maior. Dezoito dias de luta de massas levaram à queda a ditadura de Mubarak de 29 anos que, para muitos, nunca teria fim. Este foi um golpe sísmico desferido contra a classe dominante egípcia, que colocou todo o aparato estatal de joelhos, e levou dezenas de milhões de trabalhadores e jovens à atividade política pela primeira vez.

A onda de revolução se espalhou da Tunísia e Egito para todo o Oriente Médio – da Líbia à Síria, do Iêmen ao Bahrein, da Palestina ao Líbano, a um Iraque ainda devastado pela guerra imperialista. Entre os países cujas massas participaram do que ficou conhecido como a Primavera Árabe, a Revolução Egípcia é talvez a mais rica em lições, bem como em perspectivas para o futuro imediato. Os movimentos na Líbia e na Síria não conseguiram mobilizar uma onda de apoio da classe trabalhadora antes que a intromissão imperialista ocorresse em uma direção totalmente reacionária.

As massas iemenitas estão agora em uma situação terrível, com a Arábia Saudita travando guerra no país, apoiada por várias potências imperialistas – e o envolvimento direto do Exército egípcio, entre outros. Trabalhadores e jovens no Bahrein certamente desenvolveram novas tradições revolucionárias que não desapareceram. Trabalhadores e jovens tunisianos elevaram suas orgulhosas tradições de luta a um nível mais alto por meio da experiência de 2011, e a última crise econômica os trouxe às ruas mais uma vez. O Iraque e a Palestina são países com problemas complexos, criados pelo imperialismo, mas ambos viram os movimentos de protesto em massa retornarem, ao longo dos anos, desde a Primavera Árabe. O Líbano, por sua vez, experimentou movimentos revolucionários nos últimos anos.

O Egito, porém, é um país, cujo processo de três anos de revolução e contrarrevolução (entre 2011 e 2014), tem um significado especial. O país sempre foi estratégico para o mundo árabe. Tem a maior população de língua árabe do mundo e a maior classe trabalhadora do Oriente Médio. Foi o Egito que liderou o projeto de pan-arabismo por meio do presidente Gamal Abdel Nasser, em meados do século 20. Nasser era um nacionalista de esquerda, cuja retórica revolucionária e socialista fez dele o homem mais popular na maioria dos países árabes e do Oriente Médio. Sua enorme popularidade demonstrou o potencial para políticas internacionalistas em mais de 20 países unidos por uma língua comum. Uma revolução socialista bem-sucedida no Egito transformaria a situação em toda a região.

Mas a Revolução Egípcia ainda não foi realizada até o fim. Embora as massas tenham lutado repetidamente para acabar com a velha ordem de repressão e exploração de classe, uma nova ditadura se entrincheirou no poder por enquanto, apoiada no mesmo antigo regime militar-burocrático. No entanto, as condições que criaram os eventos explosivos de 2011 não foram embora. No mínimo, as crises econômicas, sociais e políticas enfrentadas pela classe dominante egípcia hoje são muito maiores do que há uma década.

Então, como nós chegamos aqui? Como foi que, em menos de dois anos, após a derrubada de Mubarak – durante os quais o Egito viu greves e protestos de rua em uma escala nunca antes vista – as massas egípcias ficaram presas a um novo presidente que exercia os mesmos poderes ditatoriais de seu antecessor? Na verdade, Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, chegou ao ponto de remover os últimos resquícios formais das políticas pró-trabalhador de Nasser da Constituição egípcia e da lei eleitoral. E como, após uma nova onda de revolução (talvez o movimento de massa mais popular da história em relação ao tamanho do país), que derrubou Morsi e a Irmandade Muçulmana e foi virtualmente varrida do mapa político, as massas agora parecem estar de volta de onde haviam começado? […]

[…] Embora 25 de janeiro de 2011 seja corretamente celebrado como o dia histórico em que as massas egípcias assumiram o controle de seus próprios destinos, o evento que deu início ao processo da Revolução Egípcia realmente ocorreu alguns anos antes. Em 6 de abril de 2008, houve uma greve em massa na cidade industrial de Mahalla – iniciada por uma disputa industrial em curso na Misr Spinning and Weaving Company (uma das maiores fábricas da África, com mais de 25 mil trabalhadores) – que adquiriu um caráter de insurreição. Apesar da forte repressão policial, grevistas, em várias fábricas, ocuparam efetivamente a cidade por vários dias, com grandes protestos de solidariedade ocorrendo em todo o país.

Foi a partir dessa greve que um dos principais grupos organizadores dos protestos de rua de janeiro de 2011 (Movimento 6 de Abril) assumiu o seu nome. Eles também adotaram uma reivindicação fundamental daquele movimento de greve – um salário-mínimo nacional de 1.200 EGP (US$ 200, aproximadamente) – como uma das reivindicações iniciais dos protestos. Antes de 25 de janeiro, as demandas eram:

Dissolução do parlamento e realização de novas eleições legítimas;
Um limite de dois mandatos para a presidência;
Cancelamento das Leis de Emergência (que dão cobertura legal para a repressão estatal) e demissão do ministro do Interior Habib Al-Adly;
Por um salário-mínimo mensal de 1.200 EGP e seguro-desemprego.

Claro, a força do movimento superou essas demandas antes mesmo de 25 de janeiro chegar, indo além das reformas para a revolução total […]

[…] Da mesma forma, enquanto os protestos anti-Morsi superaram em número os protestos pró-Irmandade Muçulmana no final de 2012, foram novamente os trabalhadores que quebraram o impasse da luta com uma onda sem precedentes de ações grevistas e protestos sociais no primeiro semestre de 2013. Esse foi o maior nível de participação na luta de classes que o Egito já viu. O aumento no movimento dos trabalhadores foi o verdadeiro segredo para a remoção de Morsi (antigo presidente do Egito) e da Irmandade Muçulmana (que ganhou as eleições de forma fraudulenta após a deposição de Morsi) do poder. É uma tragédia que aqueles que poderiam ter liderado este movimento em uma base de classe independente, em vez disso, entregaram sua autoridade revolucionária aos militares à frente da classe dominante, representada pela pessoa do ministro da Defesa, Abdel Fattah El-Sisi.”

Os movimentos de massa conhecidos como a primavera árabe sacudiram todo o Oriente Médio e o Norte da África. O resultado foi o abalo substancial de todos os regimes reacionários do Oriente Médio e do Norte da África, mas as massas insurrectas, que destruíram vários desses regimes, não foram capazes de ir até o final e conquistar o poder. A falta de uma direção revolucionária é, em última análise, o problema central que acomete toda revolução. O papel dos comunistas, em todo este movimento é ajudar as massas a enxergarem as suas debilidades e entenderem, em suas vitórias e derrotas, em seu próprio movimento, que é a construção de uma nova direção, uma direção verdadeiramente comunista que resolverá a situação.

Dez anos depois

No ano de 2023 existem 700 mil colonos israelenses no território da Cisjordânia ocupado por Israel. O território palestino é dividido em 167 pedaços separados por muros e postos de controle militares, com checagem de documentos e revistas em todos eles. O controle é exigido até em casos de problemas médicos, levando à morte de muitos por falta de atendimento. Em um caso que ficou famoso, uma mãe que estava em trabalho de parto foi parada no posto de controle e teve que fazer o parto no carro, somente com a assistência de mulheres árabes de perto. Ao contrário de um final feliz, a mãe morreu logo após o parto e a criança alguns dias depois.

Depois do 7 de outubro, mais de 100 pessoas foram mortas, mais de mil foram presas, suspeitas de terrorismo. Uma mesquita foi bombardeada. Terrorismo? Para o Estado sionista e teocrático de Israel, a equação “palestino = sionista” é verdadeira e todos, inclusive crianças, são tratados como “animais humanos” nas palavras de Yoav Gallant, ministro da Defesa de Tel Aviv. O primeiro-ministro de Israel, Netanyahu, falando sobre os bombardeios em Gaza no dia 25 de outubro declarou que matamos “milhares de terroristas”. Terroristas? Os que se escondiam na Igreja ortodoxa, a mais antiga de Gaza, destruída por uma bomba? Os que estavam nos campos de refugiados da ONU? As mulheres, crianças e idosos, a maioria dos mais de 5 mil mortos (quando este texto é escrito, mas a taxa de mortalidade hoje, de mais de 700 por dia, eleva este número rapidamente)?

É preciso dizer a verdade – O Estado de Israel, uma cabeça de ponte do imperialismo norte-americano é hoje um Estado nazista, que trata os palestinos como os nazistas trataram os judeus, ciganos, comunistas, socialistas, negros e outros durante a 2ª Guerra. Ah, faltam as câmeras de gás, li outro dia. Verdade, mas ficaria melhor escrevendo assim – “só faltam as câmeras de gás”. Porque o que já está acontecendo são bombardeios iguais ao de Guernica.

Mas o imperialismo não pode dar liberdade total a Israel. O governo dos EUA exigiu dias atrás que se refreasse a invasão de Gaza. E o cão de guarda enlouquecido, que morde todos os vizinhos, refreou a invasão, embora continue latindo e nada garanta que não vai cumprir as ameaças.

Não há corredor humanitário e se o Hamas tem 200 reféns, Israel tem 5 milhões de palestinos como reféns em Gaza e na Cisjordânia, inclusive 31 cidadãos brasileiros que são impedidos de sair da faixa de Gaza.

Esta situação leva à mobilização de milhões pelo mundo e o presidente norte americano, que lembra as manifestações que varreram o mundo na época da invasão do Iraque no começo do século, agora aconselha Israel a “moderar”. Medo da China? Medo da Rússia? Medo de perder aliados entre os governos reacionários do Oriente Médio? Nada disso. O medo de todos os imperialismos e dos governos reacionários é que leva a votação inédita de um texto que pede “pausa” nos bombardeios, onde votam os governos árabes reacionários, o imperialismo francês e a China, todos juntos para pedir não o fim dos bombardeios, mas uma “pausa”. O que move estes senhores é o medo da mobilização das massas em todos os territórios. No seu próprio país. Que isso tenha implicações geopolíticas, acontece. Mas se a Turquia e o Egito eram os melhores amigos árabes de Israel e hoje são seus críticos, na diz o que será o dia do amanhã. São os negócios, dizem. Mas as massas proletárias têm outros sentimentos e não se comovem com os “negócios” e os tratados de “amizade” ou “ódio” entre estes governos.

A embaixada de Israel quase foi invadida na Turquia e no Líbano. As direções traidoras não conseguem conter a fúria das massas contra o massacre de seus irmãos oprimidos. E as passeatas gigantescas atingem o coração do imperialismo. O primeiro-ministro de Londres reclama que a polícia (na qual ele manda) não reprime uma manifestação de 100 mil pessoas que gritam slogans contra o Estado sionista de Israel (100 mil é o número da polícia). Apesar da proibição dezenas de milhares enchem o centro de Paris convocadas pelo partido de Melenchon, França Insubmissa. O governo francês tenta proibir o Partido de Esquerda na França e no Brasil deputados são “denunciados” aos EUA e a deputada Luciana Genro é alvo de perseguição por denunciar Israel.

Mas o medo deles é que as massas, apoiada em pouco que seja, saem às ruas. Judeus do movimento “Não em nosso nome” tentam ocupar o congresso dos EUA e a primeira votação do novo presidente da Câmara é uma moção de apoio a Israel que conta com 10 votos contrários, apesar de toda pressão da burguesia dos EUA, unificada no apoio a seu cachorro de estimação do Oriente Médio.

Sim, os governos não têm outra saída a não ser apoiar totalmente Israel, ainda que critiquem os seus “excessos”. A esquerda, por sua vez, mantém a política de “dois Estados”. E as massas seguem rugindo exigindo o fim do Estado sionista!

Esta não é uma situação confortável para o imperialismo. A indústria de guerra que atingiu no ano passado o valor de 2,2 trilhões de dólares em vendas, com os ventos favoráveis vindos da Ucrânia, gargalha entre cadáveres de crianças, idosos e mulheres, entre as dezenas de milhares de mutilados pela guerra, prevendo que a nova “guerra” (na verdade um massacre) vá elevar estes gastos em quase 50% no mundo todo. Só Israel consumiu em 10 dias o equivalente em bombas a tudo que os EUA gastaram no Afeganistão! Então, vamos continuar o show pessoal, que o lucro vai aumentar.

Mas a indústria de guerra não é uma criadora de valor, é uma destruidora de valor, é um consumo da burguesia. O seu resultado é um sorvedouro de lucros de outros setores que são repassados a este setor. E alguém tem que pagar a conta e, é claro, não vai ser a “pobre” burguesia que por tantos percalços vem passando com a crise econômica, a quebra de bancos saudáveis como o Credit Suisse. É sobre as costas do proletariado que esta conta vai cair e as greves nas montadoras nos EUA e na GM do Brasil mostram a reação do proletariado. Ela ainda é pequena, porque a burocracia sindical faz de tudo para impedir a explosão.

A roda da história, no entanto, é mais forte que os aparelhos. E os comunistas, organizados mundialmente na CMI, trabalham para organizar todos que se reclamam comunistas. Assim, se são as massas que fazem a sua própria emancipação, cabe aos comunistas ajudá-las. Por isso, convidamos a todos que se reivindicam comunistas a nos conhecerem, a adentrar os quadros da CMI. Juntos, ajudaremos a acabar com o terror capitalista e construir um futuro melhor para toda a humanidade.