Os números não mentem. E os mortos ao nosso redor também não, e nos maltratam, inclusive pela proximidade com amigos aqui do nosso Comitê de Ação Fora Bolsonaro, que ou estão contaminados ou com parentes contaminados e amigos mortos por essa peste.
Itajaí mantém uma liderança macabra em Santa Catarina – um estado que atualmente vem comandando a taxa de crescimento de mortes e contágio no Brasil e que foi dado como exemplar no começo da pandemia, lá em março, mas que não aguentou a pressão das elites. O tal governador Moisés (PSL) “não político” e o presidente “contra o Sistema” não conseguem manter sua palavra de lutar pelo povo, fazendo todo mundo ir pras ruas trabalhar (com a miséria dos tais R$ 600, que se fosse pelo presidente da República seria R$ 200) ou buscar um mínimo para a sobrevivência.
Vamos aos números que comprovam que estamos no ápice da tragédia, mas, aparentemente, com os governos estadual, municipal e federal tentando manter a normalidade das coisas e jogando a culpa para a população que, segundo eles, “não está seguindo as recomendações” (voltaremos a isso em seguida). Itajaí tem hoje (4 de agosto, quando foi escrito este texto) uma taxa de incríveis 50 mortes por 100 mil habitantes! Comparado a Joinville, maior cidade de Santa Catarina, que está com 24 mortes por 100 mil habitantes, “ganhamos” com folga. Na mesma comparação, essas duas cidades estão a frente até mesmo da taxa de Santa Catarina, com 17,8 mortes por 100 mil habitantes. Para se ter uma ideia, Itajaí, Joinville e Santa Catarina não chegam perto (positivamente) da Argentina, que está com 7 mortes por 100 mil habitantes.
Inclusive, isso mostra que a crise, além de ser municipal e estadual, é nacional, já que temos um governo federal que abandonou quaisquer chances de seguir as recomendações que o mundo inteiro orienta (apenas por ideologia) para seguir o que as elites locais queriam, que era o povo na rua trabalhando. Tanto que várias campanhas foram lançadas contra tudo e todos que entendiam dever seguir as recomendações da OMS. “Mas, e o nosso lucro?”, dizia e diz o patronato até hoje.
Obviamente, quem tem mais poder de persuasão nos governos são eles, não nós, que fingimos ter alguma opção quando exercemos nosso direito de voto. E, por isso, temos essa crise espalhada pelo país, que, neste momento, se reflete em Santa Catarina.
Em Itajaí, ainda temos um agravante, que é o prefeito Volnei Morastoni (MDB) — médico — que escolhe um “remédio salvador”, mesmo sem nenhuma comprovação científica, apenas com testes in vitro que, como outros tantos remédios, realmente matou o vírus, mas, somente in vitro, não em humanos nem mesmo em animais. Então, lá se foram R$ 4,2 milhões gastos nesse vermífugo. Segundo a prefeitura, ele seria profilático, ou seja, ajudaria na prevenção à Covid-19, o que também não procede, já que até beber muita água diariamente seria uma ajuda na imunidade e nem isso comprova que a pessoa não vai pegar a doença ou que a doença não vai evoluir para um caso crítico.
E, pra piorar, Volnei parece querer fazer a cidade toda virar piada mundial, ao dizer, no dia 3 de agosto, que pretende recomendar dez sessões retais de ozônio durante dois minutos por dia, o que seria, segundo ele, para melhorar os já positivados pela Covid-19 e com sintomas! Novamente, usa de um método sem comprovação alguma apenas com motivos eleitoreiros. Esse outro tratamento típico do charlatanismo que se instalou no Brasil na pandemia ainda está em andamento na parte burocrática.
Ou seja, o governo de Itajaí copia o governo federal e sua Santa Cloroquina e tenta engabelar a população com soluções mágicas (ainda que aparentemente dentro da ciência), principalmente sabendo que estamos a meses de uma eleição onde o atual prefeito concorrerá à reeleição. Esse é o ápice da nossa tragédia, pois todos querem achar meios de acalmar a população enquanto beijam as mãos do empresariado que precisa lucrar (mesmo sob os nossos cadáveres) e pode ajudá-lo dali poucos meses quando começar efetivamente a corrida eleitoral.