João Doria, um bolsonarista “enrustido”

O governador de São Paulo, João Doria, afirmou ontem (1º/6) “que a Polícia Militar do estado vai impedir que duas manifestações opostas, contrárias ou favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro, ocorram no mesmo dia, local e horário” (Agência Brasil). No discurso, Doria quer preservar manifestantes de ambos os lados. Na prática, esse bolsonarista disfarçado – que já foi declarado quando viu a possibilidade de se eleger apoiando Bolsonaro – está dizendo que vai defender os atos dos apoiadores do presidente da República.

Se alguém pode ter alguma dúvida disso, basta olhar para dois acontecimentos nos atos do último domingo (31/5) em São Paulo e Rio de Janeiro. Na Avenida Paulista, uma mulher, portando um taco de beisebol, que ameaçava os manifestantes antifascistas, foi retirada gentilmente pela Polícia Militar do meio da confusão que ela criou, e em seguida, a polícia começou a atirar bombas de gás lacrimogêneo e a disparar tiros de bala de borracha. Um editorialista da Folha, que estava presente no ato, relatou esse momento. E se alguém ainda tiver dúvidas, basta conferir a matéria exibida pelo Bom dia SP.

No Rio de Janeiro, o jovem entregador, Jorge Hudson, de 27 anos, participou de ato contra a violência policial em frente à sede do governo e ganhou destaque na mídia no momento em que um PM apontou um fuzil para a cabeça de Jorge. A ironia não está apenas no fato do ato ser contra a violência policial, mas também porque é uma resposta aos assassinatos recentes cometidos pelas polícias nas favelas cariocas, entre eles, o de João Pedro, de apenas 14 anos. Além disso, havia uma clara inspiração nos atos que tomam os EUA desde a semana passada.

O que a PM fez ao tratar Jorge como um inimigo,  foi apenas confirmar como ela vê e como age com os moradores dos bairros proletários. Como afirmou Jorge:

A gente sempre vê as mesmas coisas: preto e favelado abordado dessa forma. É a mesma forma que tratam a gente na comunidade. Agora as pessoas estão vendo o que eu vejo há 27 anos. Viram 1% da truculência que a gente sofre, é complicado.

Doria e Bolsonaro unidos na defesa do capital

O fato é que Doria e Bolsonaro sempre estiveram do mesmo lado, o lado do capitalismo. A principal diferença entre eles, é que Doria é mais hipócrita, basta ver o tweet do governador de São Paulo em resposta à ação da PM na Avenida Paulista:

A integridade física de quem foi preservada na Paulista? Como alguém pode proteger pessoas dando tiros e lançando bombas nelas?

Mesmo as ações de Doria durante o início da pandemia – de realizar uma quarentena fajuta, divulgada pela mídia como fruto da sensatez de Doria etc. –, começam a se aproximar mais das propostas de Bolsonaro. A pressão dos empresários locais, pela reabertura de shoppings, academias e pequenos comércios, resultou na flexibilização das medidas de isolamento social de SP em um momento em que cientistas afirmam que a curva da contaminação pela Covid-19 no Brasil está em franco crescimento.

Esses dois senhores, governador e presidente, representam duas faces da mesma moeda. São representantes da burguesia, submissos aos interesses do imperialismo, porém, possuem táticas e formas distintas para lidar com situações.

Uma das falas de Jorge Hudson à imprensa expressa bem o momento político que vivemos e explica a preocupação tanto de Doria quanto de Bolsonaro:

As morte nas favelas, eu não aguento mais. Lá (nos Estados Unidos) foi um caso, tipo assim, que vai acontecer agora, mas que vão tomar as providências. Aqui não são tomadas. Setenta tiros numa casa, 80 tiros num músico. Não vou esperar uma bala atingir minha filha na comunidade. Se eu não for protestar, vou aceitar isso calado.” (G1, 2/6)

Enquanto bolsonaristas, protofascistas, a escória mais atrasada da sociedade se manifesta pedindo golpe militar, fechamento do Congresso, do STF, reabertura total para “salvar a economia” etc., o próprio presidente da República aparece em seus atos e PM apenas assiste. 

Mas, quando a maioria da população que está farta de viver com medo de ser assassinada pela PM, que é impedida de praticar qualquer tipo de isolamento social porque os interesses dos patrões valem mais que a vida dos trabalhadores, aí a PM aparece disparando bombas, dando tiros e apontando fuzil para a cabeça de trabalhador. Ou seja, atuam para proteger a escória e para impedir que essa raiva contida das massas se exploda e se transforme em uma insurreição como a que acontece nos EUA.

Ao fim e ao cabo, como podemos ver, Doria e Bolsonaro não são tão diferentes assim. Caberá à classe trabalhadora, quando tomar as rédeas da sociedade em suas mãos, oferecer o mesmo fim para esses senhores.