O conceito de ‘raça’ comprovado cientificamente inexistente e construído para estabelecer as ‘bases biológicas’ que legitimaram a dominação capitalista europeia, é utilizado como instrumento de promoção à segregação de classe e quando chega aos extremos da degeneração humana, pode motivar atitudes de pessoas e grupos que não merecem apenas o desprezo, mas o combate revolucionário dos movimentos sociais.
O conceito de ‘raça’ comprovado cientificamente inexistente e construído para estabelecer as ‘bases biológicas’ que legitimaram a dominação capitalista europeia, é utilizado como instrumento de promoção à segregação de classe e quando chega aos extremos da degeneração humana, pode motivar atitudes de pessoas e grupos que não merecem apenas o desprezo, mas o combate revolucionário dos movimentos sociais.
Em Brusque/Santa Catarina, um panfleto[1] lançado nas redes sociais e divulgado na imprensa no início do novembro, declara ‘morte’ aos baianos que migraram em busca de trabalho na cidade. O grupo diz que o município foi ‘invadido’ pelos baianos e que os ‘homens justos e honestos’ precisam ‘limpar’ a cidade da ‘praga’ baiana.
O panfleto apócrifo intitulado “Aviso para os Baianos” declara que há um grupo organizado retendo informações sobre os baianos que não sabem se comportar como um povo ‘ordeiro’. Diz o panfleto: “Baianos, vocês conseguiram deixar nosso povo revoltado. Tomem cuidado e tratem de mudar de comportamento urgente. Vamos ELIMINAR vocês, isso mesmo, vamos MATAR os ruins e acabar com essas pragas. Nosso grupo, composto por 28 pessoas, onde 11 estão ansiosos para começar a matança, nem queríamos publicar esse aviso, porém, a maioria decidiu avisar antes. Nossa Brusque será de novo uma cidade boa para se viver, CUSTE O QUE CUSTAR”.
O grupo declara ainda ter apoio da polícia: “Fiquei feliz ao comentar com dois policiais sobre essa carta (antes de ser publicada) para saber a opinião deles e os dois disseram assim: ‘Finalmente acordaram, é bom mesmo que alguém faça alguma coisa para acabar com esses alienígenas porque 90% dos casos envolvem baianos. Não diga a ninguém nosso nome’, eu disse tudo bem”. Na imprensa, entretanto, a polícia diz estar investigando, mas nada fala dos policiais citados na carta: “É muito cedo para dizer se foi uma brincadeira de mau gosto ou se foi efetivamente uma ameaça. Estamos investigando a origem da carta, quem a fez circular e quem a escreveu, de qual site teria partido, como foi inserida na rede”.
As ameaças e a disseminação do ódio começaram revestidas de ‘brincadeira’ quando já era pauta de muitos grupos nas redes sociais, um site de humorista denominado ‘desciclopédia’[2] publicava meses antes do panfleto: “Atualmente a cidade está sendo invadida por uma cambada de bandidos de outros estados, na maioria pobres fudidos, desempregados e Baianos. É que o brusquense gosta de escolher trabalho e nenhum está á sua altura por isso prefere viver de seguro desemprego e os empresários da cidade precisam da mão de obra destes “bandidos” trabalhadores.”
As declarações disseminam o ódio e se sustentam no falso moralismo próprio da burguesia que historicamente ditou seus ‘bons costumes’ para impor a ‘paz social’, mesmo que para isso, tenha de queimar em praça pública os que afrontam sua ditadura moral. Diante da morte declarada, os baianos se dividem e uns atacam os outros como se defendendo da inquisição imposta. O regionalismo que se pinta racista e intolerante, se encaixa feito luva na missão do imperialismo capitalista, promovendo divisões extremamente perigosas, pois na divisão da maioria sustenta o domínio de uma minoria que sentada assiste a ‘desordem’ organizada.
Já em Joinville/SC, há poucos meses o jornalista Claudio Loetz, publicou em uma página de economia no jornal “A Notícia”, uma coluna citando dados do vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Santa Catarina (ABRH-SC), em tom de total naturalidade que “o perfil ideal de trabalhador procurado é homem, branco, de 25 a 35 anos de idade” e as 7 mil vagas em aberto nas empresas de Joinville “em parte não são preenchidas porque os candidatos não tem as habilidades e competências necessárias”.
Este idêntico cenário que já motivou horrores históricos, sempre motivados pela ideologia de ‘raças’, grupos ou mesmo o nacionalismo que discrimina e oprime os diferentes povos. Em 1865, no sul dos Estados Unidos, surgia um grupo majoritariamente formado por jovens denominado Ku Klux Klan, que trajados com roupas brancas e capuzes saiam pelas ruas (montados a cavalo) perseguindo e assassinando negros com uma crueldade nazi-fascista. O grupo divertia-se aterrorizando os negros que eram sempre denunciados de preguiçosos, incapazes e naturalmente inferiores, devendo servir somente à escravidão.
Os ataques se estendiam a todos que protegiam os negros, especialmente professores que lecionavam em escolas situadas em bairros majoritariamente negros. A falsa ‘brincadeira’ dos “jovens Klan” como intitulava a burguesia e seus capachos, atingiu proporções sem qualquer controle e, com conivência estatal, que não agia como devia mesmo sendo evidente o crescimento dos grupos com a filiação de milhares de jovens, somando 5 milhões de associados espalhados pelo país inteiro. Com o intenso processo de imigração pós-guerra os estrangeiros passaram a ser perseguidos, além dos comunistas que eram considerados escória, assim como homossexuais, prostitutas, mães solteiras, católicos ou qualquer um julgado nocivo e eliminável.
O Movimento Negro Socialista (MNS) declara repúdio a esta situação existente em Brusque e conclama todos os movimentos a combater toda forma de repressão e discriminação, que remonta as trágicas lembranças dos genocídios históricos que massacraram milhares de pessoas em todo mundo e convoca todos a lutar pela verdadeira emancipação, na luta por uma nova sociedade, onde ‘sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres’ (Rosa Luxemburgo).
Abaixo a intolerância ao povo baiano em Brusque!
Abaixo toda forma de discriminação racial!
Pela defesa e solidariedade entre povos!
Pela união da classe trabalhadora!