Depois de meses criticando os rumos da educação brasileira, elegendo dezenas de delegados pelo país rumo ao 54º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), o grupo “Levante Popular da Juventude” (LPJ) orientou sua delegação a votar a mesma análise de conjuntura apresentada pela atual direção da entidade, a UJS. A situação ocorreu no último sábado (6/6), durante a votação de resoluções da Plenária Final do evento.
Depois de meses criticando os rumos da educação brasileira, elegendo dezenas de delegados pelo país rumo ao 54º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), o grupo “Levante Popular da Juventude” (LPJ) orientou sua delegação a votar a mesma análise de conjuntura apresentada pela atual direção da entidade, a UJS. A situação ocorreu no último sábado (6/6), durante a votação de resoluções da Plenária Final do evento.
A votação ocorreu depois de um intervalo determinado pela mesa coordenadora do evento. Durante esse meio tempo, negociações ocorriam pelos bastidores. Ao retomar os trabalhos, a confusão estabeleceu-se na delegação da frente de grupos chamada Campo Popular, capitaneada pelo LPJ. Quando os dirigentes do grupo levantaram seus crachás, vários delegados permaneceram com os mesmos abaixados ou os ergueram envergonhados, sem entender.
Especula-se que acordou-se a transferência de 50 delegados da União da Juventude Socialista (UJS) – braço jovem do PCdoB, que dirige a UNE desde 1992 – para o Campo Popular, de modo a inflar esse último e ultrapassar em votos o principal agrupamento de oposição da UNE, a Oposição de Esquerda. O resultado final do evento endossa essa versão, pois a chapa “Campo popular que vai botar a UNE pra lutar” obteve 724 votos, enquanto a chapa “Oposição de Esquerda” terminou o evento com o resultado de 704 votos. Isso em nada contribui para formar lideranças estudantis capazes de conduzir a UNE à luta, pelo contrário.
Consequências do reformismo
Independente da confirmação dos termos do acordo, os estudantes levados pelo LPJ haviam acabado de ter uma lição prática das consequências do reformismo. Reconhecendo nos governos Lula e Dilma representações da vontade popular, os documentos e panfletos dessa organização apresentam uma série de propostas e críticas que de modo algum rompem com o curso da política de colaboração de classes praticada desde 2003.
Portanto, não surpreende que seus dirigentes tenham orientado os jovens a eleger uma resolução de defensa do governo Dilma. Para justificar a atitude, agitaram o espantalho de um iminente golpe de direita e de uma “onda conservadora”. Além disso, a referida resolução escondia a privatização da Petrobrás e o abandono da bandeira histórica de soberania nacional dos recursos da nação. Isso sobre a cortina de fumaça do “regime de partilha do Pré-Sal”, dos “75% dos royalties do Pré-Sal para a educação” e do “investimento de 10% do PIB no setor”.
Porém, nem os termos aprovados pela resolução, nem as posições políticas do LPJ, representam o espírito dos que compunham sua delegação, semelhante ao que se passava com os delegados dos outros grupos do Campo Popular, como as correntes petistas Articulação de Esquerda e O Trabalho. Pode-se afirmar a mesma coisa sobre a base da UJS e dos outros grupos ligados a essa. Os cerca de 8 mil estudantes vindos de vários cantos do país viveram as manifestações de junho de 2013. Estão claramente contra o Planalto e toda representação institucional. Viveram na pele a repressão policial e midiática, o estelionato eleitoral e as limitações do Estado burguês.
Confusão na base do LPJ
Por isso faz-se completamente compreensível a confusão instalada na bancada do Campo Popular no momento da votação da resolução de conjuntura. Esse sentimento poderia ter se convertido em indignação e, por consequência, em disposição de encontrar o canal para desaguar a fúria contra a adaptação do LPJ e o papel governista dos grupos que compõem a direção da UNE.
Apenas a delegação “Público, Gratuito e Para Todos” tentou explicar a situação para esses jovens e ajudar a base do LPJ. Com isso conseguiu abrir diálogo com vários delegados que desejam ao retornar do congresso realizar uma revisão das defesas feitas em suas universidades.
Sem a intensão clara de dirigir-se a esses jovens, por parte das outras grupos da Oposição de Esquerda, o episódio passou batido para a maioria dos delegados, diante das performances musicais e as frases de aparência radicais promovidas pelos dirigentes do LPJ.
Contribuiu o clima de sectarismo instalado no evento, estimulado e reproduzido pela maioria das agremiações, de situação e de oposição. Quando ocorreu a votação da referida resolução, ao invés de explicar para os delegados do Campo Popular o erro a que haviam sido orientados, uma das canções formuladas dizia: “Pelegada maluca, pelegada maluca! Fechou com a UJS e está achando que é de luta!” Isso em nada ajudou a esclarecer a situação para aqueles jovens que, apesar de terem votado um documento governista, não compactuavam com seu teor.
Diálogo sem sectarismo
Sem condenar os jovens que foram orientados a votar na resolução de conjuntura da direção da UNE, a campanha “Público, Gratuito e Para Todos” e a Esquerda Marxista desejam abrir diálogo com todo apoiador do LPJ ou do Campo Popular. Propõem debater a necessidade de a UNE retomar como base sua Carta de Princípios, aprovada no Congresso de Reconstrução de 1979, o qual definia como tarefa a luta por educação pública, gratuita e para todos. Além disso, apresentam a discussão do fim do pagamento da dívida pública interna e externa – que hoje consome anualmente cerca de 43% do orçamento da União – como meio de destinar todos os recursos necessários para a educação.
Estabelecer um debate fraterno e sem sectarismo com esses jovens faz parte do combate necessário não apenas para construir um movimento estudantil com as posições corretas em cada universidade, mas também para preparar a juventude capaz de retirar o atual grupo que dirige a UNE e conduzi-la novamente para uma posição de transformação social.