Lições sobre a Revolução Russa: relato do Acampamento Comunista Internacionalista 2024

Nos dias 4 a 6 de outubro tivemos na cidade de Campo Limpo Paulista, em São Paulo, um evento vitorioso: o Acampamento Comunista Internacionalista 2024. Foram dias de aprendizado, troca de conhecimento e de experiências com camaradas de diversos lugares do país e do mundo. Pela manhã de sábado (5), como uma das opções de mesa, discutimos “o que foi a revolução russa e como defendê-la?” com o informe do camarada Chico Aviz.

Um recorte histórico de um período complexo é uma tarefa demasiado difícil para se fazer em alguns minutos, além do mais, consideremos as deturpações e falácias que a burguesia investe constantes energias em promover e defender. Historiadores e acadêmicos defensores da ordem burguesa procuram, em sua maioria, negar a participação efetiva do Partido Bolchevique na liderança da revolução.  Por isso, ter clareza sobre esse período e se apropriar dos conhecimentos produzidos pela humanidade é tarefa fundamental para Juventude Comunista Internacionalista (JCI).

O título do informe são perguntas que já de início foram respondidas e utilizadas como introdução para destrinchar o tema. Abordando, inclusive, questões mais básicas, tais como: “o que configura uma revolução?” e “em quais condições se abre na história uma situação revolucionária?”, o informe respondeu às perguntas fundamentais para compreender a atuação do Partido Bolchevique como fator subjetivo decisivo na liderança do movimento.

Comumente no ambiente acadêmico para fins “didáticos”, professores referem-se a esse período como a “União Soviética comunista”. Outros, caracterizam as revoluções como “estouros revolucionários espontâneos” que resultariam nas consequências alcançadas mesmo sem a presença do Partido Bolchevique. Na “História da Revolução Russa”, Trotsky explica:

“Os que saem derrotados de uma Revolução raramente se inclinam a reconhecer o seu verdadeiro nome porque este, apesar de todos os esforços dos reacionários exasperados, apresenta-se na memória histórica da humanidade com a auréola de uma libertação de velhas cadeias e preconceitos.”

Não à toa quando se fala de revolução russa a burguesia utiliza-se de um dos seus principais instrumentos  de dominação — a ideologia. Dificilmente jovens terão nas escolas estudos do que realmente ocorreu na Rússia no início do século XX. Apresentar recursos para que a classe trabalhadora possa analisar dialeticamente a realidade é uma tarefa comunista.

Em dado momento, Chico fez um apontamento indicando que uma das reivindicações de Lênin e do Partido Bolchevique foi de que as bibliotecas fossem públicas e de acesso livre. Isto é um dos fatores que evidencia a preocupação do partido em formar com profundidade a classe trabalhadora. Enquanto muitos afirmavam que a consciência política fluiria espontaneamente se fosse mostrado para os trabalhadores que eles são explorados, Lênin já apontava como tarefa fundamental o desenvolvimento da consciência política destes trabalhadores.  

Os militantes do Partido Bolchevique passaram mais de 20 anos antes da revolução se formando e educando ativistas na teoria marxista, ou seja, um partido disciplinado e teoricamente reforçado não é construído do nada, exige esforço, paciência, leituras e participação ativa nos acontecimentos políticos. 

A Revolução Russa foi compreendida como um primeiro passo para revolução internacional e emancipação da humanidade, e não um final em si mesma.  No entanto, o isolamento causado pelas derrotas das revoluções em países vizinhos a sufocou, abrindo espaço para o surgimento e fortalecimento da burocracia stalinista.

A compreensão fundamental de Lênin é de que a Revolução Russa era a primeira etapa da revolução mundial. Essa é a ideia fundamental das teses da Revolução Permanente:

“O triunfo da revolução socialista é inconcebível nos limites nacionais. Uma das causas essenciais da crise da sociedade burguesa reside em que as forças produtivas por ela criadas não podem se conciliar com os limites do Estado nacional. De onde surgem as guerras imperialistas por um lado e a utopia dos Estados Unidos burgueses da Europa por outro. A revolução socialista começa no terreno nacional, desenvolve-se na arena internacional e completa-se na arena mundial. Assim, a revolução socialista torna-se permanente num sentido novo e mais amplo do termo: só está acabado com o triunfo definitivo da nova sociedade sobre todo o nosso planeta.”

As inscrições contribuíram muito para qualidade da discussão, fortificou o ânimo ver tantos jovens comunistas falando em voz firme e alta, sobre os ensinamentos e análises aprendidos no informe. A sensação que transpareceu, pelo menos para mim, é de que o informe alcançou o objetivo de ser um convite aos estudos mais aprofundados das revoluções na Rússia, desta maneira, evitando falácias e mentiras contadas pela burguesia e pelos defensores das ideias stalinistas.

Muitos de nós iniciamos a vida militante com um conhecimento raso sobre o funcionamento da sociedade. Muitos de nós começamos militar enxergando a realidade a partir da ótica burguesa. No entanto, tivemos um quadro orientador capaz de tirar nossas dúvidas, capaz de debater com profundidade assuntos importantes e direcionar nossos estudos através de indicações de obras.

Devemos nos formar para receber, de maneira ainda mais elevada do que fomos recebidos, os novos militantes que irão ingressar nossas fileiras. Devemos nos preparar para dirigir um partido marxista com influência de massas capaz de levar uma situação revolucionária até suas últimas consequências. Reivindicamos o legado do Partido Bolchevique para construir uma organização consciente, disciplinada e combatente da classe trabalhadora, onde a teoria e a prática não se separam, mas formam um todo único. 

A juventude é peça chave para construção de um partido forte, nossa empolgação, energia e vontade ficou evidente no Acampamento Comunista Internacionalista 2024. Para finalizar, me empresto das palavras que o camarada Chico usou para encerrar o informe:

“Viva a Revolução Russa! Viva o Partido Bolchevique! Pela Revolução Permanente!”