Londres é o Haiti?

Wanderci Bueno

                                          
Três dias de violências e enfrentamentos entre manifestantes e a polícia nas ruas de Londres. Os manifestantes protestam contra o assassinato de Duggan, um negro de 29 anos, pai de 4 filhos, muito popular no bairro onde morava, região da periferia de Londres, habitada por muitos emigrantes que trabalham na cidade em diferentes tipos de serviços que agora com a crise estão ficando desempregados. Lá como aqui e no Haiti, a onda de protestos é atribuída a bandidos, arruaceiros e baderneiros. A culpa certamente será atribuída aos pobres, em geral negros ou gente vinda de várias partes do mundo, gente marginalizada e perseguida pela nobreza e pela burguesia inglesa.


A policia metropolitana de Londres é tida como polida e respeitosa, verdadeiros lordes da repressão cujos atos de violência já levaram até morte de um brasileiro no metro londrino. A Scotland Yard mata respeitosamente, e certamente confundindo o negro que morreu com um bandido, educadamente meteu um imperial balaço em Mark Duggan na quinta feira da semana. O povaréu do bairro se reuniu no sábado em frente à polícia de Tottenham, esta pacatamente quis dispersar os manifestantes dando gentis cacetadas. O povão reagiu, com paus, pedras e molotovs. A onda de protestos espalhou-se para outras regiões de Londres, incendiando edifícios e saqueando lojas.

Theresa May, ministra do interior, afirmou que os causadores dos distúrbios são criminosos. Confesso que não sabia que na Inglaterra, na periferia de Londres, tinha tanto criminoso assim, e que estavam todos livres até serem presas mais de 200 pessoas e certamente dentre as quais nenhum bandido.

O desemprego, o racismo, a crise capitalista, a concentração de riquezas, para a finíssima burguesia londrina, nada tem que ver com a explosão das massas. As massas é que são culpadas e principalmente os negros, assim como em Nova York, em Cidade Soleil e no Rio de Janeiro. A diferença entre lá e aqui é que o Caverão londrino usa metralhadoras com balas de borracha à luz do dia e grandes cacetetes, fala inglês e fuma cachimbo com fumo Irlandês, mas de noite na periferia a munição é real. O Caverão daqui usa metralhadoras e escopetas com balas reais e seus porretes são de madeira, fala carioquês das praias, fuma maconha e pedras de craque.

As ruas dos subúrbios de Londres ficaram com a cara do Haiti. Saques e incêndios.


Distúrbios explosivos como os que ocorrem em Londres, demonstram cabalmente a falência e a impotência dos partidos ingleses que não conseguem dar vazão ao descontentamento cada vez maior das massas e em especial da juventude.

Levantes como este indicam que os debaixo não suportam mais a dominação dos de cima, mas também indicam que enquanto não existir um partido revolucionário, uma organização de massas marxista, outros distúrbios poderão ocorrer, explosivos, e só farão aumentar a onda de repressão contra as organizações da juventude e dos trabalhadores. Há que combater para ganhar os jovens para as bandeiras da revolução, organizando os comitês de auto defesa contra as tropas da repressão, há que organizar a luta pela tomada dos sindicatos e das organizações estudantis das mãos dos dirigentes conservadores e da burocracia trabalhista.

Saques não resolvem! Mas o protesto é justo! Mas há que ser dirigido contra o coração do capital: a burguesia e a nobreza.

2 comentários

  1. muito bom !

  2. Ótimo texto. Em poucas linhas você explicou dez vezes mais do que a Rede Globo em uma semana de cobertura.