Publicamos aqui o editorial da edição nº.16 do Jornal Luta de Classes, de 5 de Novembro de 2008.
Uma das conseqüências de qualquer crise é desacreditar os seus comandantes incapazes. É o que vai acontecer aqui e em todo o mundo e que de certa forma já se expressou nas eleições dos EUA e do Brasil.
Obama foi eleito gritando “Mudança e Esperança”. Obama representa a burguesia imperialista, mas na falta de um partido da classe trabalhadora nos Estados Unidos foi através dele que se expressou a vontade de mudar a vida que o povo carrega. Isto é uma imensa ilusão (leia o artigo de Serge Goulart “Barack Obama e a Crise Imperialista”).
E o que diz Lula? O que apreendeu com tudo isso?
No dia das eleições americanas, Lula declara que espera que o próximo presidente dos EUA vá debelar a crise financeira internacional logo após as eleições. “Não é possível que quem ganhar essa eleição vai deixar a crise durar um ano, pois assim a economia não agüenta. Portanto, as pessoas têm de tomar medidas rápidas”. Assim, rápido, tranqüilo, pois como se sabe é tudo uma questão de vontade de um homem.
Lula mostra que não entende a crise, nem o capitalismo, nem mesmo a economia política vulgar. Como é possível resolver “a maior crise desde 1929”, segundo Alan Greenspan e o próprio ministro de Lula, Guido Mantega, com um simples ato de vontade no quadro do capitalismo e sem tomar medidas revolucionárias?
E continua na linha de que no Brasil não tem crise e que tudo depende da vontade das pessoas declarando: “Vamos trabalhar com empresários brasileiros para que eles não parem suas obras. Alguns setores exportadores perderão um pouco e terão de procurar novos mercados. Mas temos um potencial de mercado interno que poucos países têm, com uma sociedade ávida para comprar geladeiras, carros, casas”. É um escândalo ouvir isso de um presidente eleito pelos trabalhadores.
A Vale do Rio Doce deu férias coletivas. A Ford deu férias coletivas para todas suas fábricas. A GM fez o mesmo. As empresas Aracruz, a Sadia e a Votorantim Celulose e Papel perderam bilhões em um mês. A Sadia, teve prejuízo de R$ 760 milhões. A Aracruz, maior fabricante de celulose de eucalipto do país, perdeu R$ 1,642 bilhão. O prejuízo da Votorantim Celulose e Papel foi de R$ 586 milhões. Dezenas de grandes empresas já anunciam redução de investimentos e mesmo demissões em massa. Até a gigantesca Petrobrás anuncia “reavaliação de investimentos em 2009”.
Todo mundo sabe o que isso significa e vai significar para a classe trabalhadora. Uma monstruosa crise se estende sobre o planeta como conseqüência da sobrevivência do regime capitalista muito além do que já deveria ter vivido. Só a traição do stalinismo e da social-democracia pôde manter este cadáver como um zumbi, um morto-vivo, exalando pestilência sobre a humanidade para regozijo de meia dúzia de bilionários.
Frente à irresponsabilidade do governo para lidar com a crise do ponto de vista dos trabalhadores é obrigação da CUT e dos sindicatos, dos petistas que querem continuar fiéis à sua classe e dos marxistas, organizar a resistência contra este desastre. Nenhuma demissão, estabilidade no emprego. Empresa quebrada deve ser ocupada e estatizada sob controle dos trabalhadores.
A ocupação de 130 empresas metalúrgicas pelos trabalhadores, em outubro, no Uruguai, exigindo aumento salarial mostra a disposição de luta da classe operária internacional. E como não há capitalismo num só país, ao contrário do que pensa Lula, também o socialismo será internacional ou não será socialismo.