Lula percebe o sentimento das massas e condena o massacre sionista em Gaza

A burguesia está em polvorosa. Lula foi declarado persona non grata por Netanyahu após afirmar que o genocídio palestino promovido por Israel é sem precedentes na história, com exceção, de acordo com Lula, do momento em que “Hitler resolveu matar os judeus”.

A crise instaurada no Itamaraty é acompanhada de perto pela grande imprensa, porta-voz da classe dominante, que defende descaradamente o Estado sionista de Israel, mente e distorce as informações sobre esse massacre a todo o momento.

Mas, o que motivou essa declaração de Lula? A conjuntura internacional pode nos ajudar a entender melhor o que se passa, já que Lula, com anos de experiência adquiridas ao longo de sua história de militância sindical e partidária, é mais sensível, possui uma melhor capacidade de perceber a opinião pública do que muitos governantes da atualidade. E qual é uma das principais características do momento atual se não as massivas mobilizações que se alastram por toda a Europa e pelos Estados Unidos em solidariedade ao povo palestino?

O que está acontecendo em Gaza está em choque direto com a opinião pública geral e Lula sabe disso. Não é por acaso que uma parte da esquerda sai em sua defesa acriticamente. Entretanto, apesar da crítica de Lula ao massacre, ela não é acompanhada de ações que já deveriam ter sido tomadas pelo governo brasileiro desde o início do bombardeio e invasão à Gaza, entre elas, o rompimento de relações com Israel.

A fala de Lula durante a entrevista realizada no último domingo (18) carrega um sentido geral justo e que ajudou a reanimar o combate pela causa palestina em todo o mundo, mas é preciso considerar o contexto completamente distinto do que foi a Segunda Guerra Mundial.

Além disso, na mesma entrevista, Lula fez a defesa reacionária da solução de dois Estados, na qual a Palestina fica confinada em Gaza e Cisjordânia. Criticou os países, entre eles EUA e Reino Unido, que vetaram o financiamento à agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), mas “esqueceu” de dizer que esses mesmos países imperialistas são aliados históricos do Estado sionista de Israel.

O Estado de Israel foi criado a partir da atuação do movimento sionista, originário no século XIX, que não só possui uma ideologia reacionária semelhante ao nazismo em diversos aspectos como alianças foram realizadas ao longo da história entre o movimento sionista e o nazifascismo. Para entender realmente o que se passa, precisamos retomar, mesmo que rapidamente, alguns aspectos importantes da história do Estado de Israel, de seus apoiadores e aliados.

Criado em 1947, quando as Nações Unidas realizaram a partilha da Palestina, com apoio das principais potências imperialistas da época e pela União Soviética de Stalin, o Estado de Israel tem sua história marcada pelos massacres e expulsão dos palestinos de suas terras. Para compreender esse processo em sua totalidade é preciso remontar o fim do século XIX e início do século XX, antes mesmo da partilha, quando os sionistas já haviam tomado à força três quartos da terra pertencentes aos palestinos. A situação se agravou desde então e, em 15 de maio de 1948, “quando o Estado de Israel foi formalmente proclamado, o exército sionista e a milícia apoderaram-se de 75% da Palestina, expulsando do país 780 mil palestinos”.

Quem conta essa história em detalhes, baseando-se em farta documentação, é o militante trotskista norte-americano de origem judaica, Ralph Shoenmann, em “A História Oculta do Sionismo”. O objetivo do sionismo nunca foi meramente colonizar a Palestina. “O que distingue o sionismo dos demais movimentos coloniais”, explica Shoenmann, “é a relação entre os colonos e o povo a ser conquistado. O movimento sionista tem como objetivo declarado não somente explorar o povo palestino, mas também dispersá-lo e expropriá-lo”. E mais adiante, afirma:

“Como os nativos americanos, os palestinos eram considerados um povo que sobra. A lógica era eliminá-los. A solução seria promover um genocídio.”

Não são raros os relatos como do comandante da Haganah (milícia sionista que, posteriormente, se tornou o núcleo das Forças de Defesa de Israel), Zvi Ankori, ao descrever cenas bárbaras ocorridas durante o processo de expulsão dos palestinos:

“Vi genitálias arrancadas e ventres de mulher arrebentados (…) Foi simplesmente um assassinato.”

O objetivo era claro, eliminar e, ao mesmo tempo, espalhar o terror para criar uma fuga em massa dos árabes palestinos. Ralph Shoenmann comprova suas afirmações com as declarações dos próprios sionistas, como a de David Ben-Gurion, primeiro chefe de Estado de Israel:

“Quando nos convertermos em uma força com peso, como resultado da criação de um Estado, aboliremos a partilha e nos expandiremos para toda a Palestina. O Estado será somente uma etapa na realização do sionismo e sua tarefa é preparar o terreno para nossa expansão. O Estado terá de preservar a ordem, não através da pregação, mas sim com as metralhadoras.”

A aproximação dos sionistas com o fascismo de Mussolini e o nazismo de Hitler também são expostas por Shoenmann. Os relatos vão desde a criação de esquadrões do movimento juvenil dos Sionistas Revisionistas Betar por Mussolini, que substituíram suas camisas pretas típicas dos fascistas pelas marrons dos bandos de Hitler a partir do momento em que os esquadrões passaram a ser chefiados por Menachem Begin, que viria a se tornar primeiro-ministro de Israel de 1977 a 1983.

Em mais uma demonstração da aproximação do movimento sionista com o nazismo, a Federação Sionista da Alemanha declarou seu apoio ao Partido Nazista por meio de um memorando de 21 de junho de 1933, posição que se mantida pelo Congresso da Organização Mundial Sionista, no qual uma resolução contra Hitler foi rechaçada.

Em 1937, o criador da Hanagah, Vladimir Evgenevich Jabotinsky, enviou um agente seu a Berlim para oferecer espionagem ao Serviço de Segurança das SS. Seu objetivo? Receber em troca as fortunas judias em posse da Alemanha para serem usados na colonização sionista, na expulsão dos palestinos de suas terras.

Mas a colaboração sionista com o nazismo vai mais longe e pode nos ajudar a compreender por que qualquer relação dos massacres em Gaza com o Holocausto preocupa tanto Israel:

“Os sionistas (…) encaravam qualquer esforço para resgatar os judeus europeus [do Holocausto] não como o cumprimento do seu objetivo político, mas sim como uma ameaça para todo o seu movimento. Se os judeus da Europa fossem salvos, eles desejariam ir a qualquer outro lugar, e a operação de resgate não teria nada a ver com o projeto sionista de conquistas a palestina.”

Além de colaborar diretamente com o nazismo para garantir a ocupação da Palestina, os sionistas sabotaram os esforços para oferecer refúgio nos Estados Unidos e na Europa Ocidental aos judeus perseguidos pelos nazistas.

Os fundadores do Estado de Israel e sua classe dominante nunca foram solidários às vítimas do Holocausto, pelo contrário, foram os cúmplices.

Conhecer a história do sionismo e da criação de Israel é fundamental para compreensão do que realmente acontece hoje na Palestina. Os porta-vozes da burguesia falam do “conflito entre Hamas e Israel”, quando na verdade o que vemos é a continuidade da política sionista de extermínio do povo palestino. Fala-se muito da crise diplomática do governo brasileiro e pouco das mais de 29 mil mortes em Gaza, dos mais de 70 mil feridos no “conflito” que tem como alvo escolas, hospitais e que não poupa mulheres, crianças nem idosos. Apaga-se a história e mentem sobre quem são os agressores, fingem que não sabem das relações do sionismo com os regimes que hipocritamente condenam hoje.

Imagem: Yairfridman2003, Wikimedia Commons

Lula acena para a esquerda e caracteriza corretamente o massacre que está acontecendo em Gaza, mas faz a defesa reacionária dos dois Estados.

Aos que se indignam com o massacre em Gaza, com a hipocrisia da mídia, da classe dominante, do imperialismo, explicamos: não basta se indignar. É preciso organizar a luta pela derrubada do regime responsável não só por esse massacre, mas por todos os mais de 110 conflitos armados que matam jovens e trabalhadores ao redor do mundo. É preciso um partido revolucionário que seja capaz de levar a classe operária ao poder e construir uma sociedade comunista.

Você é comunista? Então organize-se!