Publicamos entrevista com o companheiro Pedro Santinho, coordenador do Conselho de Fábrica da Flaskô (Fábrica Ocupada) que conta como foi a ocupação do ministério do trabalho em São Paulo e fala dos próximos passos da luta.
JLC: Há dois meses ocorreu o Tribunal Popular que condenou o governo Lula a retirar a intervenção na Cipla e Interfibra e a salvar a Flaskô (saiba mais aqui). A recente ocupação do Ministério do Trabalho em São Paulo (saiba mais aqui) está relacionada aos encaminhamentos decididos nesse Tribunal Popular?
Pedro: Diretamente. Uma das decisões que foi tomada é adotar as medidas para salvar a Flaskô. Por isso, após 3 meses de silêncio do governo (saiba mais aqui), decidimos vir ao Ministério do Trabalho exigir a adoção imediata de medidas para salvar a Flaskô (no mesmo site, ver artigo “Trabalhadores e apoiadores da Flaskô ocupam Ministério do Trabalho em SP). Neste momento estamos encaminhando a primeira das decisões com a intermediação do MT que é a negociação com a CPFL (companhia de energia elétrica), em uma situação muito difícil, pois sabemos que a única saída duradoura para as fábricas ocupadas e em particular a Flaskô é o governo assumir a fábrica, a estatizando sob o controle dos trabalhadores, inclusive como sugeriu em 2005 o BNDES.
JLC: E o que nos diz sobre os resultados e encaminhamentos?
Pedro: Estamos também nos preparando para a reunião em Brasília, pois um dia antes da ocupação do MT em SP, houve uma reunião do Movimento Nacional das Fábricas Ocupadas chamada pela CUT com um representante do governo para tratar da negociação da intervenção, e foi encaminhada uma nova reunião para 7 de Outubro com o Ministro da Previdência para tratar da questão. Penso que a realização do Tribunal Popular e a unidade que conquistamos no movimento operário na luta pelo fim da intervenção e em defesa da Flaskô já são uma vitória. Fizemos o governo recuar um passo e nos receber. E por isso mesmo sabemos que devemos manter nossa mobilização para continuar resistindo e em conjunto com a CUT, os trabalhadores sem-terra, os trabalhadores sem-teto, ampliar a pressão para alcançarmos nossas reivindicações.
JLC: E qual a situação da Flaskô hoje?
Pedro: Uma situação muito difícil. Desde o início, quando ocupamos a fábrica, todos sabíamos que seria uma dura luta. Estávamos com 3 meses de salários atrasados, sem nenhum grama de matéria prima e a fábrica toda parada. O que fizemos nestes anos foi o resultado da força de todos os operários da fábrica e, mais do que isso, a prova de que se podemos manter a produção naquela situação poderíamos muito mais se as fábricas fossem estatizadas e iniciado um verdadeiro planejamento no conjunto da economia de acordo com os interesses dos trabalhadores. Mas o que vimos foi o Lula enviando dinheiro às multinacionais e para a especulação financeira, criando uma ciranda especulativa de crédito. E houve muito dinheiro para fechar fábrica, para salvar multinacionais, como a Volks, como a Buscar, e tantas outras. Hoje mais do que nunca fazemos um chamado à CUT, e a todo o movimento operário: precisamos da mais ampla unidade para fortalecer nossas organizações de classe, para defender a trincheira que é a luta das fábricas ocupadas, em particular hoje manter a Flaskô aberta e funcionando, pois sabemos que a crise internacional se desenvolve, se aproxima e os patrões vão fazer o que sempre fazem: cuspir os operários como bagaço de laranja como fizeram na Flaskô, na Cipla e Interfibra e a única saída será ocupar as fábricas e manter a produção sob nosso controle!