Foto: Mercado Livre/Divulgação

Magazine Luiza, Mercado Livre e as cotas raciais: indicadores sociais, lucro e divisão dos explorados

Embora a pandemia tenha aprofundado espantosamente o número de desempregados no Brasil (no último período o país acumula um número de mais de 14 milhões de trabalhadores sem colocação), o percentual majoritário de negros dentro desse universo é muito anterior ao quadro que se apresenta na crise sanitária.

Nos dados apresentados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do quarto trimestre de 2020, os Negros estão no topo dos trabalhadores deslocados do mercado, os números levantados dão conta do seguinte quadro: a taxa de desemprego geral ficou em 13,3%, atingindo 17,8% entre os pretos, 15,4% entre os pardos e 10,4% de brancos.

As dificuldades da população negra para acessar e concluir o ensino formal é historicamente conhecida e vem desde a abolição da escravidão. Por um longo período, essa foi uma das justificativas para a falta de qualificação e consequentemente para o acesso dos negros ao mercado de trabalho. Entretanto, mesmo depois da implementação de políticas governamentais que “abriram” espaço para a formação desses trabalhadores, o quadro de desemprego não tem se alterado para quem é preto, porque efetivamente no sistema capitalista as vagas de trabalho continuam tendo classe e cor. Nesse cenário a mulher negra representa o maior contingente de desempregados, ficando atrás dos homens e mulheres brancos e ainda dos homens negros, agregando outras barreiras para a sua colocação.

Esse quadro geral inicial nos permite constatar uma vez mais que racismo e machismo hierarquizam as desigualdades, dividindo os explorados. Mas qual é a saída? Processos seletivos de vagas exclusivos para negros garantem o real combate ao racismo e ao machismo presentes no sistema capitalista?

Empresas como Magazine Luiza e Mercado Livre têm adotado essa prática e há por parte de alguns grupos a falsa sensação de que esse tipo de iniciativa calcada nos princípios das chamadas ações afirmativas, podem resolver o problema da desigualdade, do racismo e da superexploração que são características natas do sistema econômico vigente.

O Mercado Livre acaba de anunciar que para o ano de 2021 contratará 7,2 mil novos trabalhadores, e que desses, 2.500 serão negros. Na superfície do discurso vendido pelos empresários, essas contratações irão aumentar a igualdade racial dentro da empresa. A verdade é que enquanto o racismo não for combatido a partir de uma perspectiva de classe, absolutamente nada mudará na dinâmica que determina a exploração do trabalho da maioria pela minoria. O sistema de cotas, seja qual for, não trata das causas dessa ferida social, o racismo é e continuará sendo um dos pilares de sustentação do capitalismo que continuará se beneficiando desse elemento enquanto não for posto abaixo.

O sistema de cotas e a busca de indicadores sociais pela burguesia

O Mercado Livre nasceu em 1999, na Argentina, e atualmente opera em 18 países, o faturamento da empresa no terceiro trimestre de 2020, cresceu para US$ 1,116 bilhões.  O salário médio de um trabalhador varia de aproximadamente R$ 1.090 para líder de equipe a R$ 268.981 para gerente de atendimento. Obviamente que a maior parte da mão de obra absorvida por essas empresas por sistemas de cotas, não se enquadrará nos maiores salários, não há a menor ilusão nisso. Sabemos também que a aparente absorção desses trabalhadores para o mercado, não significa nem de longe, a garantia de condições dignas de vida. A miséria que assola a nossa classe não será saciada com esmolas e a derrota do racismo não virá com as vagas do Mercado Livre ou qualquer congênere que o valha.

Medidas como essas são úteis para a burguesia, já que ajudam a melhorar seus indicadores sociais, a manter seus lucros e, ao mesmo tempo, dividir aqueles que necessitam de um emprego. A burguesia não pode resolver o problema do desemprego, já que o capitalismo necessita do exército de reserva para intensificar a exploração dos assalariados, que são pressionados a aceitaram o rebaixamento de seus salários sob o risco de perderem seus emprego para um dos milhões de desempregados que podem aceitar qualquer pagamento para realizar a mesma função.

A classe trabalhadora não quer contrapartida social em forma de migalhas, ela quer igualdade de condições e o direito a usufruir de tudo o que é por ela produzido por meio da emancipação total da humanidade de todo julgo da exploração da classe dominante. Não há sistema de cotas na face da terra nem empreendedorismo negro, que irão reverter os planos de austeridade dos governos, a retirada de direitos trabalhistas, a precarização, as privatizações dos serviços públicos, a repressão e as diversas formas de violência e opressão que adoecem e matam diariamente milhares de trabalhadores no mundo. O racismo transformou há séculos homens em mercadoria e é ele que continua jogando homens e mulheres negros para os piores postos de trabalho, o que consequente leva aos piores locais de moradia, ao adoecimento, encarceramento e morte igualmente assustadores.

A lógica de que para que poucos tenham muito é preciso que a maioria não tenha nada é a lógica da perversidade do capitalismo, e é essa lógica que a nossa classe precisa quebrar. Há ânimo para isso! A mudança histórica que tanto desejamos está na conquista de uma sociedade sem classes e a mola propulsora desse novo mundo se chama Socialismo.

Conforme as palavras do camarada Roque Ferreira, que foi dirigente do Movimento Negro Socialista (MNS), vítima recente da Covid-19:

“Os setores que negam peremptoriamente o combate de classe na luta antirracista, por mais empolado que seja seu discurso, por mais fraseologias rebuscadas que utilizem em suas digressões e teses acadêmicas para justificar suas posições, sabem que todas as concepções pós-modernas, as políticas racialistas que negam a luta de classes, estão a serviço da ordem e da exploração do sistema capitalista.”

Por isso o MNS, continua combatendo incansavelmente pela construção da unidade da classe trabalhadora nas lutas do dia a dia, cujo maior estrato é a população negra, essa é a tarefa central dos que não se renderam à ordem escravocrata e racista. Para ter emancipação é preciso ter revolução.