Foto: Johan Nilsson

Manifestantes expulsam da Suécia líder racista

Na quinta-feira, 14 de abril, nas cidades de Norcopinga e Lincopinga (localizada na província de Ostrogócia), no sul da Suécia, manifestantes foram às ruas protestar contra a visita do dinamarquês Rasmus Paludan, líder de extrema direita que defende a deportação de imigrantes e a criminalização do Islamismo. O político realizaria eventos nos bairros de expressivas comunidades muçulmanas, inclusive com demonstrações de queima do Corão, livro sagrado do islão, em plena praça pública, impulsionadas por transmissões ao vivo nas redes sociais do seu partido. Contudo, Paludan experimentou a fúria dos trabalhadores da Suécia, dispostos a enfrentá-lo, e, após o conflito dos manifestantes com a polícia, o seu show se tornou inviável.

Estava agendado para o dia seguinte mais um evento de Paludan na Suécia, no Sveaparken, um parque em Orebro, na província de Nerícia, na região da Gotalândia. Com diversos manifestantes revoltados com a anuência criminosa da polícia, os protestos se repetiram. Agora, mais impacientes, os manifestantes colocaram fogo em, no mínimo, 4 veículos da polícia e deixaram pelo menos 4 policiais feridos. O político ultrarreacionário novamente não pôde suportar a pressão; a revolta dos militantes nas ruas impôs mais uma vez o cancelamento do evento. Os motins foram determinantes para que ele recuasse e cancelasse o evento agendado. E a indignação não parou por aí: as manifestações se repetiram durante todo o final de semana em várias localidades do país. Essa onda de protestos apavorou os governantes e a polícia sueca, que nada fez contra os crimes abomináveis de Paludan (pelo contrário, fazia uma espécie de guarda de proteção para viabilizar seus comícios). Pelo menos 44 manifestantes foram presos e 14 ficaram feridos, dentre os quais muitos muçulmanos. No entanto, isso não ficou barato. Ao todo, 26 policiais também ficaram feridos e 20 viaturas da polícia foram totalmente destruídas. Derrotado, na segunda-feira (18), Paludan resolveu retornar à Dinamarca.

O comandante de operações especiais Jonas Hysing, numa coletiva de imprensa, deu uma entrevista reveladora ao declarar: “Muitas coisas sugerem que a polícia era o alvo, e não os organizadores do evento”. Além disso, Anders Thornberg, chefe de polícia da Suécia, afirmou que teriam tentado matar os policiais. Isso torna o caráter das manifestações ainda mais preocupante para os governantes e, sobretudo, para a burguesia sueca e europeia, que ficaram com uma enorme pulga atrás da orelha. Os capitalistas perderam grande parte do seu sossego. Os trabalhadores suecos percebem cada vez mais que a burguesia e o Estado andam de mãos dadas para mentir e oprimir, jogando nas costas das classes e etnias mais vulneráveis o pagamento da conta das crises provocadas pelo capitalismo.

A primeira-ministra da Suécia, eleita em novembro, Magdalena Andersson, líder do Partido Operário Social-Democrata da Suécia e títere do rei Carlos XVI Gustavo da Suécia, escreveu uma carta direcionada aos veículos de comunicação, cuja parte do conteúdo diz: “Vou deixar bem claro, aqueles que atacam a polícia sueca, atacam a sociedade democrática sueca. Os perpetradores devem ser presos, processados e cumprir uma pena na prisão”. E acrescentou:

“Nos últimos dias, testemunhamos cenas terríveis em muitas cidades da Suécia. Os policiais que desejavam celebrar a Páscoa com suas famílias em um ambiente pacífico foram forçados a proteger as leis e a liberdade de expressão, arriscando suas vidas”.

Andersson chamou de “liberdade de expressão” todas as iniciativas racistas, anti-islâmicas e xenófobas de Paludan, mas, ao se referir aos trabalhadores furiosos, desesperançosos de uma atitude do Estado que de fato pudesse solucionar os problemas sociais dos muçulmanos e imigrantes, ela promete ser implacável na punição.

Mas quem é Rasmus Paludan?

 Rasmus Paludan tem 40 anos, é um político xenófobo de direita nascido na Dinamarca.  Com cidadania sueca, pretende se candidatar na Suécia com pautas de extrema direita como a xenofobia e o racismo. Ele começou sua carreira de pautas anti-imigrantismo num partido dinamarquês chamado Venstre, que se dizia “liberal de esquerda” e reivindicava a criminalização do Islã e a deportação dos não dinamarqueses. Uma das pautas do partido é querer permitir o casamento apenas entre dois dinamarqueses ou entre um dinamarquês e um “europeu ocidental”. Uma outra proposta é expulsar do país todos os imigrantes “não ocidentais”, mesmo os que já possuem cidadania dinamarquesa ou que tenham nascido no país na condição de descendentes. Em 2009, Paludan concorreu ao Parlamento Europeu pelo partido June Bevaegelsen, e, em 2016, entrou no partido autodenominado conservador e liberal Nye Borgerlige (“Novo Civil”), de onde foi expulso em fevereiro de 2017 por defender o uso das armas contra os imigrantes. Em julho do mesmo ano criou um canal no YouTube e fundou o partido Stram kurs (“Curso de Transmissão”). Sob suspeitas de fraudes nas coletas de declaração dos eleitores na tentativa de atingir a quantidade mínima necessária sua participação eleitoral, o partido concorreu nas eleições gerais de 2019. Contudo, não atingiu sequer os 2% para que pudesse eleger ao menos um representante no parlamento dinamarquês.

O Stram Kurs se refere aos imigrantes como “os inimigos estrangeiros”, usando os refugiados e muçulmanos como bodes expiatórios para todos os problemas, dividindo-os dos dinamarqueses e colocando uns contra os outros. O partido chamou a atenção dos dinamarqueses por promover atos queimando o Corão em praças públicas e, ao mesmo tempo, realizando transmissões ao vivo nas redes sociais.

Sem sucesso na Dinamarca, Paludan agora tenta investir todas as suas cartas fora do seu país de origem, vislumbrando obter êxito eleitoral no país “vizinho” Suécia (separada da Dinamarca apenas por uma faixa de 4 km nas águas do Estreito de Categate). Porém, os enormes protestos por toda a Suécia fizeram o demagogo adiar os seus planos, ao menos por enquanto.

Lição

O que ocorreu nos últimos dias na Suécia foi uma lição dos trabalhadores suecos de como enfrentar o sistema combatendo pela autonomia dos trabalhadores. A ira das massas que não querem mais respeitar os limites impostos pelo Estado, muito menos a polícia reacionária da Suécia que protege as iniciativas racistas e xenófobas, tomou conta do país como uma avalanche. A paciência se esgotou e o medo é cada vez menor de usar sua autodefesa como único recurso imediato capaz de fazer valer seus direitos e os princípios democráticos conquistados ao longo de décadas de luta.

O Partido de Esquerda da Suécia (Vänsterpartie), que em 1917 sofreu uma cisão com o Partido Social-Democrata Sueco por parte dos militantes apoiarem a Revolução Russa, tem 21 dos 349 parlamentares na câmara federal. Porém, no seu site oficial, não se vê nos artigos de destaque uma vez sequer a palavra capitalismo. Quando realizamos uma busca no site do partido, o artigo mais recente com a palavra revolução (rotation) foi publicado no ano passado; a palavra aparece no final do artigo uma única vez, como uma nota de rodapé. No seu canal do Twitter nenhuma imagem ou menção aos atos do fim de semana. Curiosamente resolveram parar de postar no dia 15 de abril, quando as manifestações começaram e até o dia 18, segunda-feira, não há nenhuma menção. Um silêncio estrondoso e escandaloso.

Esse é mais um exemplo de que não há solução alguma dentro do sistema capitalista. Os suecos já percebem isto e, progressivamente, tentam, da sua maneira resistir aos ataques que o capital lhes impõe. Nem mesmo a reforma do absolutismo feudal, que pariu a monarquia constitucional sob o véu da democracia burguesa, consegue mais disfarçar as intenções reacionárias e racistas da monarquia capitalista. Para libertar todos os trabalhadores da Suécia, independente de sua nacionalidade, se faz necessária a luta pelo socialismo, pondo abaixo o capitalismo e tomando para si os meios de produção, que pressionam os trabalhadores cada vez mais após a onda de imigrações dos últimos anos decorrente das guerras, invasões e massacres provocados pela burguesia internacional por meio da OTAN. Apenas um partido revolucionário, marxista, leninista e trotskista, construído pelas tradições bolcheviques, com um programa que reivindique um governo dos trabalhadores, poderá libertar todos os trabalhadores na Suécia da opressão da monarquia podre e de sua burguesia aliada.