No momento em que a ecologia passa a ser marketing para o capital, Marina busca o reconhecimento de novos companheiros para legitimar sua candidatura: o ‘empresariado verde’.
A candidatura de Marina Silva altera o tabuleiro das eleições presidenciais. A senadora pode tirar votos do PT e embaraçar a polarização entre Serra (PSDB+DEM) e Dilma (herdeira do governo de coalizão com a burguesia).
Sua candidatura é um obstáculo eleitoral para o PT e um presente para a direita. Ela comunicou as razões de sua ruptura com o PT numa carta de desfiliação:
“(…) é o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido (PT) (…), mas sim o do encontro com os diferentes setores da sociedade dispostos a se assumir, (…) como agentes da luta por um Brasil justo e sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores (…) que sinalizará um novo padrão de desenvolvimento (…)”.
O Partido Verde e suas alianças
Com uma trajetória de esquerda, organizadora do PT no Acre, identificada com os oprimidos da Amazônia, negra e de sobrenome “Silva”, Marina precisa explicar ao povo que tipo de “justiça”, “valores“ e “padrão de desenvolvimento” ela espera encontrar no PV, um partido declaradamente capitalista que possui entre seus “fundamentos” o “direito à iniciativa privada, no âmbito econômico” (site do PV). Que “setor da sociedade” (classe social) ela espera descobrir num partido que participa dos governos Serra e Aécio (PSDB) e Kassab (DEM)?
Que tipo de conceito de “sustentabilidade ambiental” Marina acredita ter um partido que apoiou a reeleição de Blairo Maggi (PR-MT), maior plantador de soja do mundo? Ou que participa do Governo Cassol (PPS) em RO, que apóia incondicionalmente a construção das insustentáveis hidrelétricas no Rio Madeira?
Como plataforma política, nenhuma reivindicação operária. Marina anuncia a ética e a causa ecológica como suas bandeiras primeiras, faz isso para se apresentar como uma candidata acima da luta de classes e livre das contradições das relações sociais capitalistas. Substância que se dissolve no ar quando lembramos que o PV tem na sua direção senhores como Sarney Filho. Tudo indica que a política de Marina hoje não é mais a luta pelos interesses dos trabalhadores e sim tentar reciclar a velha política da velha classe dominante brasileira, tarefa não menos difícil do que fazer o Rio Amazonas correr ao contrário.
Marina como Ministra: nem de esquerda, nem ecológica
Ela deixou o governo em Maio de 2008 fazendo todos acreditarem na sua “coerência” e firme combate com a preservação do meio ambiente. Mas essa imagem fabricada pela mídia contrariou frontalmente os fatos. Pois com uma política oportunista de “disputar o governo por dentro” contra os ministros dos partidos patronais, Marina não fez mais do que confundir o povo emprestando uma aparência ecológica a um governo comprometido com o agro-negócio.
Foi ela a primeira ministra que Lula anunciou para sua equipe e serviu muito bem aos seus planos de pintar com um verniz de esquerda sua coalizão com a burguesia.
Durante seu ministério, os transgênicos foram liberados, o IBAMA foi dividido, aprovou-se a transposição do Rio São Francisco, deu-se a largada para construção de mega usinas no rio Madeira e realizou-se uma das maiores operações de privatização da Amazônia com as concessões privadas das Florestas Nacionais.
Vejamos seu próprio balanço na sua carta de desfiliação do PT:
“Tive a honra de ser ministra do Meio Ambiente do governo Lula e participei de importantes conquistas, das quais poderia citar, (…) a criação do Instituto Chico Mendes [Lei que fragmentou o IBAMA em dois órgãos] e do Serviço Florestal Brasileiro [Lei que privatizou as Florestas Nacionais]”.
Marina “se viu obrigada” a sair do governo diante do decreto da MP que aumentou de 500 para 1.500 hectares as áreas na Amazônia repassadas sem licitação aos latifundiários, medida jurídica que possibilita a maior operação de legalização da grilagem depois da Lei de Terras de 1850 (ver artigos sobre isso aqui). Mas antes disso, no entanto, ela mesma já havia dado a largada da privatização das Florestas Públicas. Sendo assim, a “MP da Grilagem”, anunciada por ela como uma de suas divergências com Lula, na verdade não passou de uma conseqüência da política que ela própria ajudou a implementar.
Num próximo artigo examinaremos mais profundamente as conseqüências concretas das leis que privatizaram as Florestas Nacionais (Lei 11.284/06) e que fragmentou o IBAMA (Lei 11.356/07). Medidas as quais Marina anunciou que teve a “honra” de ajudar Lula aprovar.
* Na foto, Marina Silva cumprimenta seu novo partidário, Guilherme Leal, presidente da Natura.