Uma análise econômica de que o Brasil está quebrando!
Quando Luis Inácio Macunaíma da Silva garantiu há pouco tempo que no Brasil a crise global não passaria de uma marolinha, ele estava sendo sincero. Acreditava no que estava afirmando. O problema é que ele vê a realidade econômica (e erra sempre) de acordo com a vertente mais vulgar da economia política dos capitalistas, conhecida nas faculdades de economia como teoria econômica neoclássica, essa maçaroca ideológica do liberalismo econômico preferida por cem por cento dos capitalistas e por nove entre dez dos seus mais renomados economistas.
Nessa vertente vulgar (ou popular) da Economia Política o mandamento básico é que o consumidor individual – e seus variáveis níveis de consumo – é o soberano e determinante da dinâmica da economia. O presidente brasileiro, deslumbrado com tudo que tem cheiro de patrão, acha isso uma maravilha de pensamento. Então, quando a crise chega, o que fazer? Muito simples: incitar fanaticamente os consumidores a não parar de comprar, assim a produção também não pararia e pronto, a crise desapareceria, ou melhor, não passaria de uma marolinha. É claro que neste incitamento ao consumo não pode faltar (e não faltou) o saque aos recursos públicos pelo sistema bancário e grandes empresas globais, tudo em nome de uma imaginária expansão do crédito ao consumo e outras reais (embora invisíveis) falcatruas entre o Estado e os mui competentes e inovadores empresários amantes do liberalismo econômico.
“Porque o Brasil não quebra”
Embora a situação econômica nacional já estivesse se agravando perigosamente desde o mês de setembro de 2008, essa idéia de marolinha verde-amarela era veiculada até poucos dias atrás com a maior cara de pau pela mídia capitalista. Em matéria de capa (“O Brasil e a Crise: dez razões para otimismo”) a maior revista semanal do País veiculava, por exemplo, uma enorme matéria de propaganda de supostas virtudes do liberalismo capitalista no Brasil:
“Seis meses depois da eclosão do turbilhão econômico que varreu Wall Street, com reflexos no mundo todo, a fase mais aguda da crise pode estar chegando ao ‘fim do começo’ sem que os prognósticos mais funestos tenham se abatido sobre o Brasil. A economia brasileira já sofre, e sobre isso não há dúvida. Mas é consenso que o Brasil será um dos países menos afetados. Concordam com esse diagnóstico organizações como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a OCDE, a organização econômica dos países ricos. Com a ajuda de alguns dos melhores economistas do país, VEJA escolheu as dez principais razões de otimismo, resumidas e classificadas por sua solidez. A reportagem avança com um alerta sobre o calcanhar-de-aquiles da economia brasileira, o descontrole do gasto público de péssima qualidade, e se completa com uma coluna também otimista do economista Maílson da Nóbrega, com o sugestivo título ‘Porque o Brasil não quebra’.” (Revista Veja, 04/03/2009, edição 2012)
As dez principais razões de otimismo resumidas e classificadas pela revista por sua solidez se desmancharam no ar menos de uma semana depois desta edição e do visionário artigo (“Porque o Brasil não Quebra”) de Maílson da Nóbrega, um desses legítimos representantes daquela vertente vulgar da Economia Política citada acima.
Porque o Brasil está quebrando
Na semana seguinte àquela apologia da Veja às virtudes liberais da economia nacional, o País acordou assustado deste torpor ideológico com notícias verdadeiramente catastróficas da produção e do emprego, referentes ao quarto trimestre (outubro-dezembro) de 2008, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 3,6% no trimestre, o que corresponde a uma taxa anualizada de quase 15%. Nos EUA, onde pretensamente a crise estaria atingindo mais pesadamente, essa taxa anualizada foi de 6,3%, menos da metade da ocorrida no Brasil. Essa parada mais profunda no Brasil no terceiro trimestre se explica também pela velocidade relativamente mais elevada da expansão nos trimestres anteriores. Veremos melhor esse processo no próximo boletim, comparando a quebra brasileira com as da China, Índia e Rússia (Brics).
O resultado mais catastrófico divulgado pelo IBGE foi aquele referente à queda da Indústria de 7,4% durante o 4º trimestre de 2008. Foi a maior queda em doze anos. Em termos anualizados, a queda foi de 30%. Mesmo levando em consideração que esta queda é registrada em cima de uma forte base anterior de expansão, essa medida é verdadeiramente catastrófica. O setor das manufaturas apresentou uma queda mais elevada ainda (9,2%) que aquela catastrófica média da Indústria como um todo.
Mais catastrófica que a queda da Produção ainda foi a queda de 9,8% dos Investimentos industriais. No trimestre anterior (Julho-Setembro) ocorreu uma expansão desses investimentos na ordem de 8,4%. Esses dados de fratura exposta da produção e investimentos industriais sinalizam melhor que qualquer outro indicador a perspectiva catastrófica para a totalidade da economia no decorrer deste ano de 2009. Em nosso próximo boletim analisaremos com mais dados qualitativos e com mais profundidade essa realidade de quebra da economia nacional.
* Este texto foi publicado no boletim Crítica Semanal da Economia.