Martinelli em sua antiga cela. Ele escapou da prisão no momento do golpe de 64, mas sempre lembrou com tristeza da falta de resistência: “Foi a minha maior decepção como revolucionário" / Foto: Regina de Grammont/RBA

Martinelli, o líder ferroviário que não se rendeu

O líder sindical ferroviário Raphael Martinelli morreu, aos 95 anos, neste domingo (16/2), em São Paulo. Durante sua longa trajetória de militância, esteve em Bauru em várias oportunidades. Em 2012 foi homenageado pela Câmara Municipal de Bauru, que concedeu o título de Cidadão Bauruense, proposta do então vereador Roque Ferreira, militante da Esquerda Marxista.

Martinelli fez parte do conselho administrativo do Núcleo de Preservação da Memória Política, fundado em 2009 por ex-presos políticos da ditadura. Nos últimos anos, foi advogado do Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil e membro fundador e presidente emérito do Núcleo dos Irredentos.

Trajetória

Martinelli nasceu em São Paulo, na Lapa, em 16 de outubro de 1924. Começou a trabalhar aos 12 anos. Antes de entrar na ferrovia, trabalhou na Vidraçaria Santa Marina e na Indústria Metalúrgica Tupi. Em 1941, ingressou na companhia São Paulo Railway, onde fez carreira e profissionalizou-se como ferroviário. No início da década de 1950, tornou-se líder sindical da categoria.

Foi candidato a deputado federal em 1958 pelo Partido dos Trabalhadores do Brasil (PTB). Entre os anos de 1959 e 1961, cumpriu seu primeiro mandato como presidente da Federação Nacional dos Ferroviários. Foi membro do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e, já no contexto da ditadura civil-militar (1964-1985), após sua saída do “Partidão” (Partido Comunista Brasileiro, o PCB), participou da fundação da Ação Libertadora Nacional (ALN) ao lado de Carlos Marighela e Joaquim Câmara Ferreira, em 1967.

Por conta de sua militância, já havia sido preso em 1955 como líder sindical dos ferroviários. Atuando na clandestinidade, foi perseguido e preso novamente no ano de 1970. Durante pouco mais dos três anos em que ficou preso, passou por outros centros de repressão como o DOI-CODI/SP e DEOPS/SP, onde foi submetido a torturas. Nesse período, destacou-se como um dos militantes mais velhos, com quase 50 anos de idade, prestando auxílio aos mais jovens.

Na década de 1980, com o processo de redemocratização, formou-se bacharel em Direito e participou da fundação da CUT e do PT. Na década de 1980 participou do Movimento da Unidade Ferroviária (MUF) que tinha como objetivo recuperar os sindicatos ferroviários das mãos dos interventores e pelegos. Em 2001, foi um dos fundadores do Fórum dos ex-Presos e Perseguidos Políticos do estado de São Paulo, instituição em que atuou por muitos anos como presidente.

Um militante operário sincero. Ferroviário cuja trajetória de vida e de lutas deve ser conhecida e lembrada por todos que lutam em defesa da classe trabalhadora. Martinelli, presente!