Marxismo e Ciência Moderna: A dialética da Natureza

Durantes os quatro dias da Universidade Marxistas Internacional 2020 os militantes da Esquerda Marxista, seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) estão empenhados em disponibilizar em nossa página breves relatos dos 16 temas tratados na Escola. O objetivo é estimular nossos leitores a aprofundar o conhecimento sobre nossas posições e a juntarem-se a nós na construção da CMI. Para sua localização procure pelo dia e o tema que deseja fazer a leitura.

Nesse segundo dia da Universidade Marxista Internacional  um dos temas foi a live voltada para a investigação da dialética da natureza, pedra angular do pensamento revolucionário, que foi mais claramente teorizada por Friedrich Engels.

Ben Curry da Grã-Bretanha representante da Socialist Appeal introduziu o tema ao debate. Curry buscou demonstrar a importância de uma compreensão profunda da dialética da natureza para a ciência. Esse método materialista prioriza o movimento do real em detrimento da consciência e demonstra como a matéria tem em si mesma os fundamentos de seu movimento, que se refletem para a história da sociedade influenciando as mudanças dialéticas da estrutura social.

Com uma análise repleta de detalhes, Curry buscou demonstrar a maneira como a ciência durante a ascensão da classe burguesa, em seu processo revolucionário de destituição da ordem feudal, forneceu o suporte teórico para a legitimação do avanço capitalista frente ao antigo regime, em termos ideológicos, deslegitimou o Direito Divino e o domínio da Igreja Católica e, em termos técnicos, deu sustentação ao desenvolvimento da indústria com as descobertas científicas.

Por outro lado, esse avanço representou o início da própria decadência da ciência burguesa. Afastando-se do materialismo presente em seus primeiros autores e caindo no misticismo subjetivista, a moderna ciência passou a apodrecer junto com seu sistema. Sem uma base concreta da realidade, a pesquisa científica decaiu em produtividade e passou cada vez mais a reforçar os preconceitos presentes no imaginário da sociedade capitalista.

Presa em perspectivas reducionistas e estáticas da natureza, a ciência burguesa não pode perceber o movimento dialético da realidade, que como aponta Curry, já estava presente em autores da antiguidade do mundo grego e encontrou paralelo até mesmo nos postulados científicos da evolução das espécies de Darwin. Sem esse arcabouço teórico, os cientistas ligados ao establishment são incapazes de enxergar uma saída aos seus problemas teóricos e sociais e acabam por se agarrar ao pessimismo em relação ao futuro da humanidade.

Por fim, Curry traz um panorama geral da evolução da história natural, demonstrando como o movimento, a contradição e a progressividade são aspectos fundamentais da transformação material e que em seus avanços e recuos permitiram o florescer e aprimoramento da humanidade enquanto algo completamente novo no planeta.

Na sequência, os demais participantes buscaram demonstrar como a ciência moderna envolvida no sistema capitalista e na busca por uma “rigorosa” investigação empírica acaba por cair em um misticismo, por aceitar os fatos isolados e abrir margem ao sobrenatural. Dessa maneira, cercada por formalismo e abstrações, essa ciência reafirma o status quo e se integra à lógica de lucro a todo custo do capitalismo.

Subjugando os problemas de saúde pública e a necessidades humanas ao lucro dos capitalistas e que, portanto, não representa os interesses da classe trabalhadora que precisa de um método científico que considere o caráter verdadeiramente histórico da realidade, sem cair em um idealismo que em nada representa as potencialidades de transformação do proletariado unido.