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Mato Grosso do Sul: Governo pressiona pela volta às aulas presenciais

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O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) começou o ano declarando que “virou a página de 2020” e que “estamos com as contas em ordem”. Mas será que as contas de Azambuja somam os 3.241 mortos de todo o estado, a subnotificação de Covid-19 por falta de testes ou a falta de vacinas?

Na primeira quinzena de fevereiro de 2021, a capital Campo Grande acumulava um total de 1.414 óbitos por coronavírus desde o início da pandemia e mais de 72.883 casos confirmados. Em todo o Mato Grosso do Sul morreram 851 pessoas apenas neste ano e foram contabilizados 1.185 novos casos de contaminação. Mesmo com essa situação lamentável, os governos Azambuja e Trad se recusaram a garantir o direito ao isolamento dos trabalhadores, seguindo o exemplo do governo negacionista de Bolsonaro.

Enquanto os trabalhadores são obrigados a arriscar suas vidas e de suas famílias diariamente pegando ônibus lotados para trabalhar em serviços não essenciais, a Secretaria de Estado de Educação (SED) está pressionando para que as escolas estaduais voltem às atividades presenciais. A secretária de educação da rede estadual, Maria Cecília Amêndola da Motta, afirma que as instituições de ensino estão prontas para receber os alunos com o argumento de que “o cinema, o shopping, o mercado” estão funcionando. A SED pretende estabelecer o regime híbrido de ensino.

O ensino híbrido faz o revezamento dos estudantes entre aulas online e presenciais com a escola em lotação de 50%. A promessa do governo é seguir todas as medidas de segurança mesmo com a quantidade reduzida de alunos. Segundo o protocolo de volta às aulas da SED, os banheiros devem ser limpos a cada duas horas, as salas de aulas descontaminadas a cada turno e deve-se medir a temperatura de todos que entrarem na escola. Mas conhecendo a realidade das salas de aula do ensino público, sabemos ser impossível cumprir tais medidas, já que a infraestrutura das escolas era precária antes mesmo da pandemia.

Segundo a Federação  dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), há um desfalque de 1.200 trabalhadores administrativos para limpeza e manutenção. As salas de aulas não têm ventilação adequada e faltam materiais de higiene básica. O protocolo prevê que os estudantes fiquem 15 minutos sem máscara dentro das salas durante a merenda e não há funcionários suficientes para monitorar tudo isso.

Sem contar a jornada dos professores que será dobrada, pois terão que planejar uma aula presencial e outra para o modelo a distância. A rede estadual de Mato Grosso do Sul possui mais de 9 mil professores convocados, ou seja, trabalhadores em condições de completa instabilidade, podendo ser dispensados a qualquer momento e que a cada novo ano letivo precisam procurar uma vaga de emprego. Além de tudo isso, o governador reduziu o salário dos convocados em 33% em 2019.

Os funcionários da rede estadual de ensino foram convocados para o retorno das atividades presenciais no dia 4 de fevereiro e há denúncias de que desde então seis pessoas já foram infectadas pelo coronavírus em Campo Grande, entre professores e funcionários, e alguns ainda estavam esperando o resultado do exame.

Não é apenas a vida de estudantes e trabalhadores da educação que está em jogo. Em Mato Grosso do Sul, 12.500 professores e cerca de 210 mil estudantes irão circular para chegar até seu local de estudo e trabalho. Isso vai afetar diretamente a vida de milhares de trabalhadores e suas famílias, expostos a centenas de milhares de novas probabilidades de contágio em ônibus, nos comércios e muito possivelmente nos hospitais, que funcionam nos limites de suas capacidades desde o ano passado.

O prefeito de Campo Grande, Marcos Trad (PSD) – que só foi reeleito no ano passado porque não enfrentou nenhuma oposição séria (sendo apoiado inclusive pelo PCdoB) e porque somou pontos com a classe operária ao determinar uma quarentena mais restrita no início da pandemia –, logo cedeu à pressão dos empresários e reabriu a cidade completamente, vendendo a ideia da nova normalidade.

Além disso, desde o início da pandemia os governos estão sofrendo pressões dos grandes grupos privados de ensino pela volta às aulas presenciais. A prefeitura já concedeu autorização para que retornem as universidades, faculdades, cursos pré-vestibulares, cursos técnicos, Ensino Médio e Ensino Fundamental na rede particular da capital sul-mato-grossense. Devido à movimentação do sindicato local, a prefeitura informou que as aulas na rede municipal retornam presencialmente em junho.

Mas no ritmo de vacinação em que estamos, primeiro com Bolsonaro atrasando deliberadamente a vacinação e depois com idosos com mais de 80 anos sem poder receber a segunda dose pelo atraso na produção e entrega da vacina pelo Instituto Butantan, não há nenhuma previsão de quando adolescentes e crianças serão vacinadas.

A Fetems se ocupou em fazer uma pesquisa com 8.173 profissionais da educação, que apontou que 92,29% da categoria disseram não concordar com o retorno presencial antes da vacinação. Mas apesar de a federação informar estar em campanha para o retorno das aulas presenciais só com vacina, até agora não deu sinal de greve para a defesa da vida de seus trabalhadores, caso estes sejam obrigados a voltar para a sala de aula. Tem também insistindo ser possível um retorno seguro, pedindo para que o governador vacine os profissionais da educação para que isso aconteça. Mas os estudantes e seus familiares terão que retornar sem a garantia de serem vacinados antes? Precisamos defender o retorno das aulas presenciais somente quando houver vacina para todo mundo.

Independente das direções dos sindicatos e partidos de “esquerda” que não estão mobilizando uma necessária greve geral para impedir que o retorno das aulas presenciais aconteçam, devemos trabalhar para construir um forte movimento com os trabalhadores e a juventude contra o retorno das aulas presenciais sem a vacina para todos, pressionando a Fetems, os Sindicatos Municipais dos Trabalhadores em Educação (SIMTEDs), o Sindicato Campo-Grandense dos Profissionais da Educação Pública (ACP), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) a unificar as lutas no Mato Grosso do Sul e no resto do Brasil. É preciso defender uma greve geral da educação contra o retorno às aulas presenciais e pôr abaixo o governo Bolsonaro.

  • Aulas presenciais só com vacina para todos!

  • Exigimos lockdown e garantia de condições de vida para os trabalhadores!

  • Vacina para todos já!

  • Abaixo o governo Bolsonaro!

PUBLICADO ORIGINALMENTE EM LIBERDADEELUTA.ORG