Convocação de reservistas para a Guerra na Ucrânia evidencia fragilidade do capitalismo russo

Há sete meses da entrada das tropas russas na Ucrânia, Putin anuncia mobilização “parcial” de 300 mil reservistas para a frente, inicialmente aqueles mais capacitados com treinamento e experiência militar. Ainda assim, há fuga em massa do país; as imagens e vídeos mostram despedidas devastadoras de pais, irmãos e filhos de suas famílias; homens embarcando completamente embriagados; praças fechadas para aglomerações; a polícia realizando prisões ostensivas de quem ousa falar uma palavra de protesto, e ainda assim há protestos.

Os marxistas compartilham do ódio contra as hordas nazifascistas em batalhões ucranianos e os hipócritas da OTAN. Mas desde início afirmamos que Putin não é capaz de “desnazificação” nenhuma. Caracterizamos esta guerra como uma guerra entre o imperialismo dos Estados Unidos, seus vassalos da OTAN de um lado, e do outro a classe dominante russa que luta para defender seus próprios interesses econômicos, em particular aquela ligada ao setor energético e militar.

Quando na Rússia existia um estado operário, a União Soviética, sob o comando de Leon Trotsky, fundou-se o Exército Vermelho. Na luta contra os reacionários do Exército Branco, apoiado por mais de uma dezena de países, incluindo o imperialismo britânico, os vermelhos mobilizaram mais de cinco milhões de soldados.

Então, na Guerra Civil, Trotsky viajava pela linha de frente em seu trem blindado, e os nomes dos comandantes eram respeitados pela classe trabalhadora e tornaram-se lendários: Voroshilov, Budyonny… Na Segunda Grande Guerra, mesmo sob a direção burocrática de Stalin, 34 milhões de soviéticos lançaram-se na luta e destruíram os exércitos de Hitler até os confins de Berlim.

O regime da restauração capitalista na Rússia, Putin e seus vassalos não têm a firmeza e a moral do suporte da classe trabalhadora. Mesmo que as tropas russas ainda ostentem a Bandeira da Vitória e a Foice e o Martelo, são incapazes de ganhar os corações e mentes de que sejam 170 mil tropas inicialmente mobilizadas “voluntariamente” para lutar na Ucrânia. Muito menos podem esperar disso dos 300 mil jovens trabalhadores retirados de suas crianças e companheiras para lutar pelos interesses dos capitalistas russos.

Se na Guerra Civil e na Segunda Grande Guerra os trabalhadores se mobilizaram em milhões, foi para defender as conquistas da Revolução Russa de 1917. Não há para os trabalhadores nenhuma razão clara para se voluntariarem para a atual guerra na Ucrânia. Há hordas neonazistas que oprimem os russos e ucranianos no Donbass, mas também Putin comanda um regime reacionário, que não pretende restaurar a União Soviética como alarma a mídia capitalista ocidental. Esse regime estabelece uma relação de domínio regional semelhante a que possuía o Império Russo dos czares.

Marx disse que a história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. No começo do século 20 o Império Russo possuía uma pequena indústria, localizada nas regiões das principais cidades, a maioria da população vivia no campo em relações semifeudais; o exército russo era também, digamos assim, uma potência de uma era passada, mas considerado retrógrado para as guerras que estavam por vir.

O país que Putin oprime, saqueado e devastado pela restauração capitalista, também possui uma economia fundamentalmente sustentada por commodities, pela agricultura, pelo setor de petróleo e gás e por uma indústria de armamentos e um exército herdados de uma era passada. O reacionarismo e violência de seu regime, expressam o tanto que sua classe dominante está condenada pelas engrenagens da história, pois de um lado é incapaz de competir com imperialismo moderno, e de outro sente o sopro da classe trabalhadora na nuca.

Embora não seja possível obter estatísticas oficiais, sabemos que durante a guerra, os relatórios de baixas têm um peso enorme no moral, e a internet tem sido para as forças ucranianas e ocidentais um excepcional aliado. Há um verdadeiro show de luzes e explosões, dos “modernos” helicópteros de combate K-52, e dos caças Sukhoi de quinta geração sendo derrubados pelos stinger manpads (mísseis terra-ar), operados com as mãos por soldados ucranianos e enviados aos milhares por ajuda do imperialismo. 

Enquanto os chechenos em Mariupol exibiam fuzis equipados com miras ópticas, sem nenhuma destreza, diga-se de passagem, agora os trabalhadores recrutados à força de regiões distantes dos grandes centros na Rússia recebem para treinamento velhos fuzis AK enferrujados.

O capitalismo russo é incapaz de realizar metade do que a União Soviética poderia. Não é capaz de desenvolver os meios de produção, de mobilizar os trabalhadores, ou conquistar a simpatia dos povos dos territórios que pretende anexar. Seu último recurso é fechar as torneiras de gás para a Europa, e manter as tropas em campo, mesmo que ao custo de dezenas de milhares de vidas. O governo russo espera uma oportunidade melhor para negociar com o imperialismo alemão, francês, e quem sabe assim, minimizar as perdas de sua incursão mal calculada. É disso que se trata.

Lukashenko da Bielorrusia, disse dia 26 de setembro, em encontro com Putin, sobre os trabalhadores russos que estão deixando o país para não serem recrutados: “deixei-os fugir! Você tem milhões para mobilizar! Quem quer fugir que fuja. Depois, quando voltarem, você só terá que decidir o que fazer com eles.”.

Há um trecho do livro Dr. Jivago em que um bolchevique está marchando com o exército czarista para a Primeira Grande Guerra: “muitos estavam usando seu primeiro par de botas, quando elas estiverem gastas, começará a revolução”.

Talvez Lukashenko e Putin não consigam prever em sua arrogância, mas mais provável é que não tenham saída nenhuma que lhes seja completamente conveniente. Esta guerra é mais uma expressão da incapacidade e da impossibilidade da burguesia continuar dominando enquanto classe: são os trabalhadores que terão que decidir o que fazer com Putin e Lukashenko!

Também as revoltas de Donetsky e Lugansky, e até mesmo na Crimeia só foram possíveis porque a classe operária dessas regiões se mobilizou contra os fascistas que perseguiram a esquerda e queimaram a sede dos sindicatos de Odessa. Os referendos debaixo da mira de fuzis para anexação russa, ou a retomada desses territórios pelos ucranianos não irão deter a luta de classes.

A guerra na Ucrânia demonstra como os trabalhadores são apenas bucha de canhão para a classe dominante. Seja o déspota Putin, Zelensky ou Biden, a palavra de ordem dos marxistas é que a classe trabalhadora derrube a sua própria classe dominante! Somente sob o socialismo é possível garantir a auto-deteminação e a amizade dos povos, uma bandeira vermelha sobre Moscou, uma bandeira vermelha sobre Kiev!