A cada dia o aparato repressivo do estado e suas policiais aumentam a brutalidade e a violência contra a juventude em todo país. Essa repressão é aterrorizante nas periferias e as suas principais vítimas são os filhos da classe trabalhadora, em especial os jovens negros. O perfil de criminoso já desenhado pelos capachos da classe dominante no século XIX sustentou o conceito de ‘raça’, identificando os extratos mais pobres, que correspondiam especialmente à população negra, como aqueles que deviam ser ‘eliminados’ por apresentarem risco à sociedade.
O perfil do criminoso durante décadas motiva o sistema criminal, amparado pelo estado capitalista que produz em ritmo acelerado a criminalidade. Essa lastimável conduta sustenta o conceito de ‘raças’ que imprimiu o ódio racial responsável por inúmeros genocídios históricos e serve para a divisão dos explorados sem quaisquer limites pelo capitalismo. A polícia, entretanto, é o braço estatal que mais serve à classe dominante, impondo o ódio racial em nome da falsa ‘paz social’. O racismo se aperfeiçoa, se tornando a cada dia a forma mais repugnante de divisão social.
Na noite do último sábado, 30/11, ao encerrar de forma truculenta um baile Funk no Pier da Enseada de Suá no Espírito Santo, a Polícia Militar promoveu cenas explícitas de racismo às dezenas de jovens no Shopping Vitória/ES. A juventude que foi ‘expulsa’ de um baile por policiais que alegaram ‘haver denúncias de brigas’, amedrontada se refugiou no Shopping, mas foi ‘surpreendida’ novamente pela PM que de forma asquerosa humilhou esses jovens, aglomerando-os no chão e expondo-os aos comandos clássicos da força repressiva: fila indiana, mãos na cabeça, corpos sem roupa. A ‘missão’ seria proteger os lojistas e consumidores ameaçados pelos ‘suspeitos criminosos’. Porém a ‘missão de paz’ e a farsa promoção da segurança foi desmascarada pela própria assessoria de comunicação do Shopping Vitória que descartou a ocorrência de um arrastão no interior do estabelecimento e afirmou que nenhuma loja foi roubada ou danificada.
A ação truculenta da PM foi criticada inclusive por lojistas e consumidores que relataram agressões: “Vi um policial dando um soco, de baixo para cima, em um garoto”; “o clima ficou mais tenso ao serem vistos policiais entrando armados no shopping”; “Parte dos que estavam sendo revistados era menores de idade. Vi um garoto sendo jogado no chão por um policial”. Mirst Sants ativista do movimento negro do Espírito Santos declarou sobre a ocorrência:
“A Polícia chegou rapidamente e saiu prendendo todo e qualquer jovem que se enquadrasse no ‘padrão funk’. Fez com que descessem em fila indiana e depois os expôs à execração pública, sentados no chão com as mãos na cabeça. E isso tudo apesar de negar que tenha havido qualquer arrastão, “exceto na versão alarmista dos frequentadores”. Se chegou a haver algo parecido com uma tentativa de ‘arrastão’ ao que parece é impossível saber. Para alguns dentre os presentes, a negativa da PM teve como motivo “preservar a reputação do shopping como templo de segurança”. Se assim foi, a foto acima, com os jovens sentados no chão sob vigilância, e o vídeo abaixo, mostrando-os sendo forçados a descer em fila indiana sob a mira da Polícia, se tornam ainda mais graves como exemplos de arbítrio, violência e desrespeito aos direitos humanos. E isso só se torna pior quando acontece ainda sob os aplausos dos ‘consumidores’…”
O abuso de poder impulsionado pelo racismo evidenciou que a PM rezou a cartilha da criminalização que não escusa em reprimir a juventude pobre e negra. Entrevistado o Secretário de Segurança Pública do Estado, André Garcia, tentou razoar o inexplicável afirmando não ter havido abuso: “Havia um tumulto e algumas pessoas relataram furtos na praça de alimentação. A polícia agiu corretamente. A intenção era identificar quem invadiu o shopping”. Na mesma entrevista, quando explorado os ‘abusos’ evidenciados nas demonstrações de imagens e vídeos da situação ele aflora as contradições e finalmente afirma que o critério das ditas ‘abordagens’ depende do ‘perfil’ e das ‘circunstâncias’: “Quando se encontra uma atitude suspeita, a abordagem é uma ação normal. A polícia está autorizada a fazer isso. A população tem que entender”.
O Movimento Negro Socialista repudia a ação vergonhosa da Polícia Militar do Espírito Santo, que sem qualquer motivo humilhou dezenas de jovens negros, com evidente abuso de poder, promovendo cenas de racismo explícito que devem ser combatidas por todos os movimentos sociais e exige respostas das entidades governamentais. O poder repressivo promove a degeneração humana impulsionando a prática do racismo e impõem um combate revolucionário que só pode ser vitorioso quando travado pela unidade de todos os trabalhadores e da juventude na luta contra o capitalismo e todas as suas mazelas.