Uma ação nacional em Brasília combinada com ocupações nos estados obriga o governo a atender reivindicações.
Os três mil integrantes do Acampamento Nacional pela Reforma Agrária, do MST e da Via Campesina, que estavam acampados em Brasília desde o dia 10, decidiram encerrar o acampamento em 19 de Agosto, mantendo o estado de mobilização nos estados para cobrar do governo os compromissos assumidos com a pressão da jornada de lutas.
As ocupações em todo o Brasil
Em 12 de Agosto, apoiando o Acampamento Nacional pela Reforma Agrária, organizado pelo MST e a Via Campesina e precedendo as manifestações unitárias contra a crise que se realizaram dia 14, milhares de integrantes do MST marcharam em diversos estados e realizaram ocupações de locais governamentais exigindo a Reforma Agrária.
Em Roraima, cerca de 800 manifestantes ligados ao MST, ao MMC (Movimento de Mulheres Camponesas), à CPT (Comissão Pastoral da Terra), à Fetag e aos sindicatos de professores acamparam na sede do Incra, em Boa Vista.
Na Bahia, cerca de 600 integrantes do MST ocuparam a superintendência do Incra, em Salvador.
No Pará, 850 trabalhadores do MST ocuparam a sede do Incra em Belém. Um dia antes, os sem-terra ocuparam a delegacia do Ministério da Fazenda em Belém depois de sete dias de marcha de 200 quilômetros pela rodovia Belém-Brasília.
No Rio Grande do Norte, cerca de 600 sem-terra ocuparam a sede do Incra em Natal.
Em Pernambuco, cerca de 150 famílias do MST também ocuparam a sede do Incra em Petrolina.
No Ceará, 200 sem-terra ocuparam o Incra em Fortaleza. Foram realizados manifestações em mais três municípios do Ceará.
Em Goiás, cerca de 2 mil integrantes do MST e do Fórum Estadual pela Reforma Agrária fizeram ato na Assembléia Legislativa em defesa da reforma agrária e da educação, saúde e assistência técnica nos assentamentos do Estado.
Em São Paulo, mais de mil trabalhadores rurais da marcha do MST fizeram um ato em frente ao TRF (Tribunal Regional Federal). Além disso pararam vias importantes durante marcha até a capital e realizaram ato solene na Assembléia Legislativa de SP em comemoração aos 25 anos do movimento.
Em Santa Catarina, o MST participou de ocupação de área de 200 hectares, em Florianópolis, em protesto contra a área cedida pelo governo do Estado para dois grupos empresariais do ramo de hotelaria.
No Mato Grosso do Sul, cerca de 850 sem-terra marcharam até Campo Grande.
No Rio Grande do Sul, cerca de cem integrantes do MST ocuparam o escritório do Incra em São Gabriel. Outros 700 manifestantes ocuparam a fazenda Southall e mais 300 pessoas ocuparam o prédio da prefeitura do município.
Em São Gabriel, os 250 sem-terra que ocuparam a prefeitura do município foram tratados como está se tornando normal no RS. Os Sem Terra, além de apoiar o Acampamento Nacional pela Reforma Agrária, queriam denunciar a falta de direitos básicos para 400 famílias assentadas na região. A resposta à manifestação foi violenta: Retirada truculenta dos manifestantes pela Brigada Militar que deixou 50 pessoas feridas; 15 delas tiveram que ser atendidas em hospital.
Importante vitória
Os militantes do MST voltam para seus estados com o gosto bom de vitórias arrancadas pela luta com mobilizações e ocupações.
Na reunião com os sem-terra, em Brasília, o governo federal garantiu que a atualização dos índices, que não ocorria desde 1975, será publicada em 15 dias. Com isso, o Incra poderá desapropriar propriedades improdutivas, que não estavam disponíveis para reforma agrária porque eram utilizados parâmetros de 30 anos atrás.
Os ministérios do Planejamento e da Fazenda liberaram o orçamento previsto para a aquisição de terras pelo Incra, que estava contingenciado em R$ 338 milhões.
Na Fazenda Nova Alegria, no norte de Minas Gerais, cerca de 1.180 hectares serão desapropriados para o assentamento de 50 famílias que foram vítimas do Massacre de Felisburgo – em que morreram cinco trabalhadores rurais em 20 de novembro de 2004.
“O atendimento de parte de nossa pauta é uma conquista da mobilização do acampamento e dos estados nesta jornada, mas ainda são insuficientes para solucionar as necessidades dos trabalhadores rurais acampados e assentados”, segundo Marina dos Santos, da Coordenação Nacional do MST.
E conclui: “Permaneceremos em estado de alerta e mobilização. Se os acordos não forem cumpridos ou as pautas pendentes não avançarem, voltaremos às ruas”.
Está provado. A organização e a mobilização é que conquistam as reivindicações. É a luta que faz a lei.