Foto: Domínio Público

Músicos do Theatro Municipal aprovam paralisação em 17 de julho

Seguindo uma longa tradição de crises, o modelo de gestão compartilhada por Organizações Sociais (OS) nos presenteia com mais um caso notável de sua ineficiência. Como foi ventilado por mais de um grande jornal, neste ano de 2023, pairou sobre as cabeças dos cantores do Coro Lírico, um dos seis corpos artísticos integrados ao Complexo do Theatro Municipal de São Paulo, a ameaça de demissão em massa por parte da Sustenidos, OS atualmente responsável por gerir o Theatro. Devido ao alarde dos músicos ameaçados nas redes sociais e a consequente repercussão na imprensa, a Sustenidos recuou da decisão, porém é preciso dizer: este é um recuo temporário. Os repasses de verba anuais à empresa, é claro, não são corrigidos de acordo com a inflação e, como já explicamos em nosso artigo Contra a Privatização das Casas de Cultura, essa estratégia da Prefeitura é premeditada. Diante da situação, a Sustenidos se recusa a negociar com os músicos, categoria cujo impacto sobre a folha de pagamento é o mais expressivo, e com o Sindicato dos Músicos Profissionais do Estado de São Paulo (Sindmussp) o dissídio deste ano, assim como o acordo coletivo que o acompanha: tendo vencido o acordo anterior em março, os músicos do Theatro Municipal seguem trabalhando sem ter sequer uma proposta de reajuste por parte da Sustenidos, a qual ameaça, inclusive, retomar o projeto de demissões, caso a Secretaria Municipal de Cultura, atualmente sob gestão de Aline Torres (MDB), não corrija o valor do repasse e o efetue em tempo hábil para sanar o rombo de R$ 13,3 milhões previsto pela empresa.

Contudo, a intransigência da gestão contribuiu para a mobilização da categoria, que decidiu, em assembleia de quórum expressivo e com imensa maioria de votos a favor, por paralisação no dia 17 de julho, segunda-feira, em protesto contra o persistente descaso da Sustenidos. É importante ressaltar: enquanto categoria, os músicos de orquestra tendem a ser bastante desunidos e desorganizados politicamente, algo decorrente de diversas particularidades de seu métier, como as inúmeras horas de estudo solitário investidas em seus instrumentos e no repertório; portanto, uma decisão como essa é realmente digna de nota, pois demonstra disposição de luta. Mas nem por isso devemos deixar de fazer a seguinte observação: a paralisação ou dia de greve, enquanto tática de pressão sobre o empregador, é muito menos efetiva do que a greve propriamente dita. Tanto a greve quanto a paralisação são táticas que escancaram aos demais trabalhadores quem produz, de fato, a riqueza ou, no caso, garante as apresentações do Theatro.

Diante disso, parte da força desta paralisação pode ser perdida, devido ao dia escolhido para sua realização, dia no qual a maior parte dos músicos costuma estar de folga, o que não impõe, a princípio, grandes perdas à empregadora Sustenidos. Compreendemos o comprometimento dos músicos com o público, o qual não desejam prejudicar no processo de suas reivindicações, e com a arte em geral. Contudo, na presente situação, é preciso compensar o baixo impacto da paralisação na programação do Theatro com o maior alarde possível, a fim de expor publicamente a conduta da empresa diante do público, pois, ao desvalorizar os trabalhadores da cultura, dos quais os músicos são parte, a Sustenidos ataca o acesso da população à arte e à cultura como um todo, tratando-as como mera mercadoria cujo custo de produção precisa ser mitigado mais e mais.

Por isso, a próxima segunda-feira (17) deve ser um dia no qual todos os músicos se reúnam e elevem suas palavras de ordem, seja através de cartazes, de performances, da ocupação da escadaria do Theatro, ou de um cortejo em direção à Prefeitura ou à Secretaria Municipal de Cultura, em busca de uma denúncia ampla e contumaz da postura adotada pela OS e do máximo envolvimento por parte da população nesta causa, uma das mais nobres: o investimento público em arte e cultura.

Outro ponto importante para o sucesso das reivindicações dos músicos é conseguir o apoio das demais categorias do Theatro, aquelas representadas pelo Senalba, ao qual a Sustenidos até apresentou algum tipo de proposta de reajuste, e pelo Sinddança, cuja situação negocial desconhecemos. Apesar das peculiaridades de cada situação, certamente todos têm sofrido com problemas semelhantes, e uma paralisação unificada das três entidades seria certamente muito mais poderosa, justamente porque interromperia de fato as atividades do Theatro no dia em questão. Construir a unidade entre as diferentes categorias do Theatro é fundamental para o sucesso não apenas dessa luta como para o de lutas futuras, pois o modelo de gestão compartilhada é incapaz de garantir a manutenção da qualidade dos empregos por ele operados. Ou melhor: já constitui em si mesmo um desmonte, tendo por objetivo principal tirar do mapa da cultura a figura do funcionário público dotado de plenos direitos trabalhistas.

Por isso, encerramos com o alerta: é inevitável! No fim de toda pauta econômica há de emergir uma pauta política: é preciso lutar pelo fim da gestão compartilhada e expulsar o componente privado da administração do patrimônio público. Sem arrocho salarial! Pelo reajuste dos salários (já defasados) dos músicos do Theatro Municipal! Por equipamentos culturais públicos, sob controle dos trabalhadores!