Não ao desmonte do Banco do Brasil. Resistir e impor uma derrota ao governo Bolsonaro!

No dia 11 de janeiro, o Banco do Brasil (BB) anunciou por meio de comunicado ao mercado um novo programa de reestruturação, fechamento de unidades e demissão em massa.

A medida prevê a desativação de 112 agências, 7 escritórios e 242 postos de atendimento, além de relocalização de 85 unidades e fim do atendimento ao público nos guichês de caixa em outras 145 agências (que serão transformadas em “Lojas BB”). Além disso, abriu um novo programa de demissão voluntária, como intuito de atingir 5 mil bancários.

Essa “reorganização da rede de atendimento” deve trazer uma economia anual estimada com despesas administrativas de R$ 353 milhões em 2021 e R$ 2,7 bilhões até 2025.

Com essas medidas, milhares de trabalhadores serão afetados em todo o Brasil, a começar pelos caixas executivos, que não poderão mais incorporar a gratificação mensal (“quebra de caixa”) e só farão jus a ela proporcionalmente, nos dias em que forem efetivamente acionados para trabalhar nos guichês de caixa, cuja decisão depende do administrador da dependência, numa espécie de trabalho intermitente institucionalizado internamente e muito semelhante à figura do “caixa-minuto” da Caixa Econômica Federal.

Outros trabalhadores serão levados a aderir ao Programa de Adequação de Quadros para tentar encontrar uma vaga na mesma função em outra localidade (e até mesmo em outro estado) para manter o nível salarial, como numa dança das cadeiras de festa infantil, em que sempre sobram crianças sem assentos. Só que nesse caso, estamos falando de milhares de bancários que não encontrarão vagas e serão rebaixados ao nível inicial da carreira, mesmo após anos de dedicação na função de assistente ou gerente. Ou seja, o banco trata os trabalhadores como números, ou como peões em um tabuleiro, pois não se importa com os impactos que mudanças tão bruscas como essas podem causar na vida, no dia a dia das pessoas.

Aliás, o nível inicial na carreira do BB passará a ser denominado genericamente de “agente comercial”, em vez de escriturário ou auxiliar administrativo: um ato simbólico, mas que diz muito sobre qual tipo de trabalho, cada vez mais, o bancário será chamado a exercer daqui para a frente, relacionado definitivamente ao cumprimento de metas de vendas de produtos financeiros do que ao atendimento das demandas da população. E esse é o fator de maior adoecimento da categoria, pois o receio de não conseguir atingir as metas (e, portanto, o medo de perder o cargo ou a remuneração variável), leva ao sofrimento psíquico, ansiedade, stress, burnout etc.

Não ao desmonte! Não à privatização!

Trata-se de um verdadeiro processo de desmonte do BB, que visa prepará-lo para a privatização, conforme o intuito do ministro da Economia, Paulo Guedes, que em uma reunião ministerial no dia 22 de abril de 2020, tornada pública posteriormente, disse:tem que vender essa porra logo!

O governo Bolsonaro, conforme analisamos em diferentes artigos nesse site, busca acelerar e aprofundar todas as medidas de ataque aos trabalhadores e de entrega das estatais à iniciativa privada que já estavam em andamento nos governos anteriores. Tudo para atender os interesses do capital financeiro internacional, cortar gastos públicos e reduzir o valor da força de trabalho no Brasil (e, portanto, aprofundar a exploração dos trabalhadores). Assim foi na reforma trabalhista e no ajuste fiscal, iniciados por Dilma (PT) e levados à frente por Michel Temer (MDB), como também na questão da previdência, que vinha sofrendo ataques por parte dos governos FHC, Lula, Dilma, que Temer tentou, mas não conseguiu levar à frente uma reforma, para ser aplicada logo em seguida por Bolsonaro/Paulo Guedes em 2019.

O plano de Bolsonaro/Guedes de privatizar o BB é uma continuidade da política dos governos FHC, Lula, Dilma e Temer Imagem: Reprodução
No caso do BB, já é o terceiro grande programa de reestruturação em menos de oito anos. Em 2013, o Plano de Funções sob o governo Dilma que cortou cargos e remunerações, desmontou unidades e criou outras. Em 2016, meses após o impeachment, sob o governo Temer, uma onda de fechamento de postos de trabalho e desligamentos em massa, através de planos de antecipação de aposentadorias e demissões incentivadas. Agora, em 2021, Bolsonaro “recompensa” os bancários do BB – que arriscam suas vidas em meio à pandemia no trabalho presencial ou que assumiram os custos do trabalho em home office do próprio bolso – com mais esse programa de reestruturação e demissão em massa!

Resistir e impor uma derrota a Bolsonaro!

Os bancários do BB estão no limite! Já não aguentam mais tantos ataques e estão dispostos a resistir e impor uma derrota ao governo Bolsonaro para defender suas conquistas. Há um sentimento de revolta generalizado na base da categoria com mais essa reestruturação e sinais de organização espontânea dos próprios trabalhadores. A palavra está agora com as entidades sindicais.

É preciso que a Contraf/CUT apresente um calendário nacional de mobilizações e paralisações e que as entidades sindicais de cada cidade e região convoquem assembleias (presenciais ou remotas) para dar vazão e organização a toda essa insatisfação acumulada e, caso o banco se mantenha irredutível em sua decisão, organizar uma greve geral dos trabalhadores do BB, que pode ser facilmente estendida a toda categoria bancária, haja vista as demissões em massa que estão ocorrendo nos bancos privados e todo o sufoco pelo qual os colegas da Caixa Econômica Federal estão passando.

A mobilização dos bancários deve se ligar também à luta dos trabalhadores da Ford, da Mercedes Benz, da Sony, da Yoki, em um movimento unitário, em escala nacional desde a base de cada categoria, em defesa dos empregos, dos direitos e pela estatização sob controle dos trabalhadores, com passeatas, piquetes, ocupações e outros métodos próprios da classe trabalhadora, única classe capaz de parar a produção no capitalismo e de organizar uma nova sociedade, sem explorados nem exploradores, uma sociedade socialista.

Mas, para que isso possa acontecer, é preciso pôr abaixo o governo Bolsonaro agora e constituir um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais, para decidirmos coletivamente os rumos do país, no interesse da maioria da população e não como é hoje: um sistema que privilegia uma minoria de bilionários, que se apropria de toda a riqueza produzida pelos trabalhadores do Brasil e do mundo, enquanto bilhões de seres humanos são privados de tudo.

  • Não ao desmonte do Banco do Brasil! Fim das reestruturações e demissões!
  • Em defesa do BB público, 100% estatal, sob controle dos trabalhadores!
  • Por uma campanha nacional em defesa dos empregos, dos direitos e pela estatização sob controle dos trabalhadores!
  • Ocupar! Resistir! Produzir!
  • Fora Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais!

Em tempo: o atual presidente do BB, André Brandão, indicação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e que fez o anúncio da reestruturação ao mercado acaba de pedir demissão, como se fosse um soldado que implantou uma bomba e saiu correndo para se esconder antes da detonação.

Brandão substituiu Rubens Novaes em setembro de 2020 e já não está mais no comando da instituição. A avaliação da imprensa é de que Bolsonaro não teria gostado das medidas de fechamento de unidades do banco por temer um desgaste político em meio à eleição dos presidentes da Câmara e do Senado.

Esse fato só demonstra o quanto o governo é frágil politicamente, pois é incapaz de sustentar uma decisão por receio de um desgaste entre deputados e senadores, além de evidenciar suas divisões internas. Porém, trata-se de uma divisão não sobre o que fazer, mas quando. Para o presidente Bolsonaro, seria preciso avaliar melhor o momento para se fazer a reestruturação e lotear a presidência do BB e outros cargos públicos para conseguir aliados antes, mas é evidente que ele é favor de dar andamento ao processo de privatização do BB.

Tal situação somente reforça o que foi escrito no artigo acima, de que é possível resistir e reverter esse ataque. Aproveitar a crise entre os de cima e fazer o governo Bolsonaro recuar da reestruturação, através da mobilização independente dos trabalhadores. Derrotar a reestruturação através da luta de classes significa também torná-la mais difícil de ser realizada no futuro, pois o governo pensaria duas, três, quatro vezes antes de mexer novamente com os bancários.