Foto: Pedro Godoy/Prefeitura de Itapevi

Não ao retorno das aulas presenciais no SESI e SENAI

Que o capitalismo não consegue dar conta de nenhuma crise que ele mesmo cria e para isso utiliza os trabalhadores para socorrer uma economia exclusiva dos grandes bancos e empresários, não é nenhuma novidade. Mas com o caos levantado pelo avanço da pandemia da Covid-19 são escancarados de forma arbitrária os verdadeiros interesses desse sistema egocêntrico e mortal. Se não bastasse a falta de organização e métodos eficientes para diminuir os impactos provocados em grande escala pelo coronavírus, os governos agora impulsionam uma avalanche sobre as escolas, pressionam pela volta às aulas e abrem margens para um sucateamento da educação pior do que sempre existiu.

O Sistema S abrange, entre outras, as instituições de ensino SESI (ensino básico) e SENAI (ensino técnico), e há anos o poder privado se estende ainda mais sobre algo que inicialmente era parte fundamental de direito gratuito para as famílias dos trabalhadores industriais. Em tempos de pandemia, o SENAI anunciou retorno às aulas presenciais no mês de agosto, mesmo sem uma vacina comprovada e, infelizmente, com os casos de contaminação só aumentando. Com as ditas “normas de segurança” (um álcool em gel e uma máscara), a instituição empurra dezenas de jovens estudantes de volta às salas de aula pequenas e apertadas, ignorando a situação alarmante que se estende ao transporte público e, de forma grosseira, disponibiliza um “termo de responsabilidade”, endereçado ao responsável legal do jovem a carga de culpabilização caso ele se contamine no processo que permeia o caminho de casa ao ambiente escolar. Caso o aluno se recuse a participar dessas aulas, por motivo justificado, ficará em atraso.

O mesmo termo de responsabilidade se faz obrigatório ao funcionário do SENAI que, ao se negar assinar, corre o risco de ser demitido. Infelizmente o profissional não tem direito de decidir se mantém o ensino à distância ou se inicia as aulas presenciais, sendo esse profissional grupo de risco ou não. Após vídeo-chamadas, onde todos são alertados sobre as normas de segurança, ao entrar nas escolas técnicas não é isso que se vê. Pode-se ver professores e alunos sem máscaras andando pelo prédio e até dentro das salas-de-aula, funcionários e alunos que se arriscam e arriscam a saúde de seus colegas e familiares. Ao serem alertados, vê-se a insistência numa normalidade, em grande medida mantida devido ao posicionamento do próprio governo, que não atende nem mesmo as recomendações da OMS.

Pressionando a direção e a coordenação do SENAI – que se sentiram ameaçadas pelo desemprego – a administração do Sistema S garantiu a volta às aulas presenciais devido a uma brecha existente. A atividade que o SENAI desenvolve é conhecida como “educação não regulada”, portanto, não responde a nenhuma secretaria de educação, conselho estadual de educação ou qualquer órgão relacionado às atividades educacionais reguladas. Assim, Paulo Skaf e demais gestores do Sistema S sentiram-se livres para arriscar, dentro do contexto de flexibilização da quarentena no setor de serviços em geral.

Na mesma linha, o SESI enfrenta um horrível e avassalador sucateamento das escolas onde, em algumas unidades, milhares de funcionários, desde a limpeza até a direção, foram demitidos de posições que ocupavam há anos, e os professores lutam dia após dia com pressões desumanas para cumprir as normas e metas das aulas remotas, assim como os alunos em suas casas, com um ensino limitado mascarado de tecnológico e futurístico. Além disso, unidades no estado do Mato Grosso foram fechadas devido ao corte de verba federal, provocando remanejamento de profissionais e corte nas vagas. Se a intenção é um olhar para a educação sistemática e cultural, há um equívoco enorme em acreditar que retornando ao presencial, de forma pressionada e sem medidas cientificamente comprovadas, vai se obter algum benefício educacional.

Educação é um direito para todos – ou deveria ser, já que há respaldo dentro das políticas educacionais brasileiras, mas sabemos que no capitalismo tudo se torna meramente mercadológico – e deveria ser fornecido com qualidade, mas, mais uma vez, vemos qual o real interesse das pessoas à frente dessas grandes organizações: lucro da maneira que for possível, mesmo que precise obrigar jovens estudantes, professores e funcionários a colocarem suas vidas e de terceiros em risco frente a uma pandemia de um vírus ainda preocupante. Se a intenção é dar continuidade aos ensinos e aprendizados dos estudantes, de forma coerente e humana, deve-se investir em meios para que os alunos e professores consigam desenvolver em suas casas os seus respectivos trabalhos, com foco primordial na qualidade e saúde mental.

Somos contra o retorno presencial em qualquer seguimento do sistema educacional. Não há necessidade de colocar a população filha da classe trabalhadora nesse momento de volta às salas-de-aulas. Não há infraestrutura e/ou preparação que organizações médicas digam ser seguras, nem nas públicas e tampouco nas instituições particulares. Dentro da conjuntura atual, pouco temos visto a articulação de sindicatos contra o que tem sido imposto aos alunos e trabalhadores da área da educação. Acreditamos que a pressão deles seja fundamental nesse momento tão delicado e instável, mas as entidades voltadas à rede privada de educação têm se ausentado da situação. Ressaltamos nossa posição pela estatização de todo o Sistema S e sua integração ao regime público de educação e cultura. Por uma educação pública, gratuita e para todos.

Não à volta às aulas presenciais no SESI e SENAI enquanto durar a pandemia.

Sem vacina, sem aulas presenciais.