Nem Lagoinha, nem Josie, nem Hamamoto – Em Caieiras, vote nulo!

Em 6 de outubro acontecerá o primeiro turno das eleições municipais. Na cidade de Caieiras, em São Paulo, três candidatos de partidos burgueses concorrem à prefeitura: Dr. Roberto Hamamoto (PSD), Gilmar Lagoinha (PL) e Josie Dártora (PV). Queremos apresentar uma avaliação geral da situação política em Caieiras, buscando dialogar com a juventude e os trabalhadores que estão se radicalizando e compreendendo que nosso principal inimigo é o capitalismo, apresentando uma posição comunista para as eleições municipais em Caieiras.

Nos últimos anos, a cidade de Caieiras não foi palco de grandes lutas da classe trabalhadora, com exceção dos funcionários públicos municipais. A baixa mobilização de trabalhadores das grandes empresas e indústrias da cidade, ligadas à produção química, papeleira e plástica, dentre outras, está relacionada ao cenário geral em que as direções sindicais – incluindo as que se posicionam à esquerda – têm traído suas bases, deixando direitos e conquistas históricas serem retiradas pelos grandes empresários e investidores, sem a menor mobilização ou resistência. Nesse cenário, quando tem acontecido mobilizações importantes, elas surgem a partir das bases e não por iniciativa das direções sindicais ou partidárias.

Na última campanha salarial (2024), o Sindicato dos Químicos São Paulo, filiado à CUT e abrangendo trabalhadores de Caieiras, Embu, Embu-Guaçu e Taboão, garantiu um reajuste de 1% acima da inflação, para salários até R$ 10.077,72. Na prática, um aumento real muito baixo, uma vez que a maioria dos pisos salariais no setor será de pouco mais de R$ 2.000,00.

No setor químico, houve uma queda de 16% do faturamento líquido de 2023 em comparação com 20221. No final de agosto, Federações de Indústrias encaminharam uma carta a Alckmin (PSB), vice-presidente e Ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, pedindo o aumento de impostos de importação para 65 produtos químicos e petroquímicos2. Para as Federações patronais, essa medida tem como objetivo principal aumentar os preços de importados no setor e melhorar a competitividade e ganhos da produção química brasileira no mercado interno, uma vez que o aumento dos impostos nos produtos importados deve ser repassado aos preços dessas mercadorias.

Se a situação de retração na produção do setor químico nacional continuar, é possível que isso aumente cada vez mais a necessidade dos patrões e investidores de esmagar os salários já rebaixados dos trabalhadores do setor em detrimento do lucro. Além disso, um cenário de baixo aproveitamento industrial e diminuição da produção, pode levar ao fechamento de parques industriais e postos de trabalho.

Na categoria de papeleiros, importante produção industrial da cidade, o piso salarial gira em torno de R$ 2.250,00. Por outro lado, o lucro líquido da Cia. Melhoramentos, por exemplo, saltou de R$ 1,5 milhões em 2022 para R$ 7,9 milhões em 2023, segundo dados da própria indústria3. Em outras palavras, não houve melhoras significativas nos salários de base da indústria em comparação com o aumento do lucro líquido. Esse crescimento vem junto do aumento do investimento no setor de celulose. Ao mesmo tempo, o STI Caieiras (Sindicato dos Trabalhadores Papeleiros de Caieiras), filiado à Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), não tem mobilizado grandes lutas da categoria.

Não é possível prever quais serão os desdobramentos nos setores citados, mas o horizonte mais provável é a intensificação da luta entre a necessidade de ampliar os lucros dos patrões e a necessidade dos trabalhadores defenderem melhores condições de vida e emprego.

Como explicamos em outros artigos e documentos, greves e paralisações de servidores públicos cresceram no último período. Isso está relacionado, dentre outros fatores, aos congelamentos salariais sofridos durante o governo Bolsonaro (PL) e aos ataques aos serviços públicos, que não cessaram com a chegada de Lula (PT) à presidência. Em Caieiras, as mobilizações de servidores públicos foram as principais expressões de luta dos trabalhadores nos últimos anos.

Por vários mandatos, o Sinserpuca (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Caieiras) foi dirigido por uma chapa que estava adaptada aos diferentes governos municipais. Na verdade, o sindicato dos servidores servia como um “puxadinho” para os mandos e desmandos das diferentes gestões da prefeitura. Isso começou a mudar de forma mais significativa a partir do ano de 2021. Com a pandemia, diferentes setores de servidores públicos, principalmente na saúde, na educação e na segurança pública, começaram a sofrer maiores pressões para a prestação de serviços cada vez mais precarizados. Além dos cortes de investimentos nos serviços públicos, um dos maiores ataques que os servidores sofreram foi o congelamento dos salários e planos de carreira – com o congelamento do tempo de serviço – ambos estabelecidos pelo governo Bolsonaro (PL). O fim da pandemia e o retorno à “normalidade” trouxe a necessidade de defender e ampliar direitos e lutar pela melhora nas condições de trabalho.

No caso da saúde e da educação, os pontos principais foram os salários abaixo do piso nacional. Na saúde, especificamente, o governo federal ainda estava discutindo uma proposta de lei que organizasse o piso da enfermagem. Essa situação criou um clima de maior atenção dos servidores públicos da saúde, que estavam absolutamente sobrecarregados com as demandas que a pandemia trouxe. No caso do magistério, a prefeitura seguia sem pagar o valor proporcional do piso da categoria, estabelecido em Lei Federal.

A partir de mobilizações em âmbito federal, a enfermagem conquistou o piso salarial, por meio de Lei e destinação de recursos próprios e complementares para seu fim. Enquanto isso, no final de 2023, por meio de mobilização e luta da categoria do magistério, os professores municipais conquistaram o piso salarial proporcional no município. Em outro artigo explicamos as principais lições desse movimento.

Durante todos os processos que se desenvolveram desde a pandemia até o final de 2023, a antiga direção do Sinserpuca atuou como um freio para as lutas dos servidores públicos municipais, inclusive buscando dispersar o movimento com posições contra as paralisações do magistério.

Apenas no primeiro semestre de 2024, com a aplicação de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), em vigor desde setembro do ano anterior e que afetou a remuneração de parte dos servidores – dentre eles, que os dirigiam o sindicato – é que a direção sindical passou a atuar buscando “mobilizar”. Uma Assembleia elegeu representantes para tratar desse assunto e parte dos servidores públicos realizou dois dias de paralisação com demandas como o reajuste salarial e melhores condições de trabalho. O processo gerou muita confusão entre os próprios servidores, principalmente, devido ao papel que jogou a direção sindical, abrindo espaço para que a luta dos servidores fosse apropriada por diferentes vereadores do município, que buscavam apenas divulgar suas candidaturas no ano eleitoral.

Como explicamos em outros documentos, a crise do capital está levando ao acirramento da luta de classes, fazendo com que a pressão pela base possa ser maior do que as direções burocráticas dos sindicatos e partidos possam sobreviver. Em Caieiras, as últimas conquistas foram alcançadas por meio da mobilização dos trabalhadores e das trabalhadoras pela base. Em alguns casos, essas direções burocratizadas podem ser varridas pela pressão dos trabalhadores. Foi o que ocorreu com a antiga direção do Sinserpuca, que foi derrotada nas últimas eleições sindicais. No entanto, ainda não é momento de comemorar, pois, até o momento, a nova direção do Sinserpuca não tem demonstrado grandes diferenças com a antiga gestão.

Nas assembleias, reuniões e atos, em contato com os servidores públicos municipais e a população caieirense, sempre buscamos dialogar sobre a necessidade da independência financeira e política – o que significa, dentre outras coisas, não depender dos prefeitos em nenhum sentido, inclusive alugar um espaço próprio que não seja cedido pela prefeitura. Além disso, buscamos apresentar nossas ideias e propostas, ajudando a dar coesão e direção para o movimento.

Uma questão importante, sobre a qual a nova direção do Sinserpuca deveria se pronunciar, é em relação às candidaturas para prefeitura de Caieiras. Porém, em vez disso, a direção sindical tem apresentado uma linha “apolítica”, colocando-se “nem esquerda, nem direita”, que, em geral, só leva à confusão e não beneficia ninguém, exceto quem já está no poder.

Como comunistas, nossa posição é clara: nenhum voto para os partidos da burguesia! Nem Lagoinha, nem Josie, nem Hamamoto: voto nulo! Nas últimas eleições municipais, explicamos:

Se olharmos atentamente o resultado da eleição municipal de 2020, que levou à vitória Lagoinha com 50,13% dos votos válidos, podemos compreender melhor o significado desse resultado. Na verdade, Lagoinha obteve 22.616 votos contra 18.478 de Gerson, uma diferença de 4.138 votos, o que mostra que a margem foi muito pequena. No entanto, o que impressiona é a quantidade de votos brancos (2.573), nulos (4.910) e abstenções (15.366), que somaram 22.849 votos. Em outras palavras, mais gente deixou de escolher um candidato do que votou no atual prefeito! Como isso é possível?”

Nada mudou desde então, pelo contrário, o cenário eleitoral da cidade só piorou. Recentemente, chegou a aparecer nas redes sociais um vídeo com supostas ameaças de morte dirigidas à candidata  do PV. É necessário compreender que essa situação, tal como o tiro em Trump nos EUA, são apenas o reflexo da degeneração do sistema capitalista e do regime “democrático” burguês, que nada mais é do que a ditadura de um punhado de grandes empresários, banqueiros e investidores, enquanto a classe trabalhadora não tem de fato o poder de decidir por nada nas urnas.

Com relação à Lagoinha, quando foi eleito como prefeito, explicamos:

“[…] Lagoinha é apenas mais um governo burguês que substituiu outro governo burguês, o de Gerson, que foi a continuidade de Hamamoto. Desde o início não era possível esperar qualquer coisa boa da atual gestão da prefeitura.”

De fato, apesar de muito marketing e tinta azul – talvez o “maior feito” da atual gestão seja pintar toda a cidade de azul – nada de significativo mudou na vida dos trabalhadores de Caieiras nos últimos quatro anos. A situação na educação está caótica, como ficou demonstrado nas últimas manifestações dos professores municipais, em 2021, 2022 e 2023. Nenhum dos problemas fundamentais foi resolvido, pelo contrário, as salas de aula estão mais cheias e as escolas estão mais deterioradas, sem estrutura, sem equipamentos e com falta de funcionários. Diversas escolas e equipamentos públicos, que precisavam de pequenos reparos, foram “reinaugurados” no município para dar conta de propagar a falsa ideia de que novos prédios estavam em construção. Sequer o problema do transporte público municipal, que em suas promessas de campanha seria resolvido, foi levado adiante. Ou seja, a gestão Lagoinha não deixou nenhuma marca concreta na cidade, com exceção dos diversos tons de azul espalhados no município.

Outro candidato, Hamamoto (PSD), teve duas gestões (2009-2016), seguida pela de seu vice-prefeito, Gersinho (2017-2020). Como explicamos, a gestão de Gersinho (MDB) foi a continuidade da gestão de Hamamoto, que ficaram marcadas pelos ataques contra os servidores públicos, com direito à utilização do cassetete da Guarda Civil Municipal e frases icônicas como: “quem não está satisfeito é só passar no RH e pedir as contas!”.

As curiosidades não param por aí… Para desenhar o nível das candidaturas à prefeitura, basta dizer o seguinte: o vice-prefeito do atual prefeito, Dr. Cleber Furlan (PSB), rompeu com Lagoinha no primeiro ano do mandato4, fato publicamente conhecido. Agora, está como vice-prefeito na chapa de Hamamoto, enquanto Gersinho, que foi vice-prefeito de Hamamoto, está como vice de Josie Dártora, apoiada publicamente por Kiko Celeguim (PT). Essa é uma ilustração muito interessante de como é a “democracia”!

O mais surpreendente, nesse cenário, são as posturas dos maiores partidos que reivindicam a classe trabalhadora na cidade: PT e PSOL. O PT apoiará Josie Dártora, que já passou pelo DEM e pelo PSDB, agora migrou para o Partido Verde, buscando ajudar a costurar a coligação com diversos partidos da burguesia. Enquanto isso, o PSOL abdicou de lançar uma candidatura própria, que pudesse dialogar com a população caieirense, para apoiar a candidata.

Não é nenhuma novidade! Há muitas eleições, tanto o PT como o PSOL têm se aliado com todo tipo de partido, mesmo da direita e extrema-direita, para fazer prevalecer seus interesses eleitoreiros em detrimento dos interesses dos trabalhadores.

Vale ressaltar que Josie Dártora está como vereadora na câmara municipal de Caieiras há anos, de onde saiu o atual prefeito, Lagoinha. A câmara dos vereadores de Caieiras, hoje, não conta com nenhum mandato que de fato possa ser utilizado e se apoiar na classe trabalhadora, pelo contrário, são todos de partidos da burguesia. Isso explica porque nenhum projeto relevante para a população trabalhadora caieirense é levado adiante.

Em outras palavras, tanto o PT como o PSOL continuam seu caminho de traições contra a classe trabalhadora, visando apenas os resultados eleitorais e sem apresentar nenhuma alternativa a esse sistema! Os falsos alarmes sobre combater o fascismo e a extrema-direita só têm servido para que esses partidos justifiquem suas alianças e fortaleçam a coalizão nacional de Lula, em torno de salvar o capitalismo.

O PSOL em Caieiras ainda tenta ao menos explicar a necessidade de eleger vereadores de esquerda, contraditoriamente, não lançou nenhum candidato para o cargo. O PT tem quatro candidatos concorrendo no município. Ainda não está claro se o PSOL apoiará algum dos candidatos do PT.

Lagoinha e Josie lideram a disputa pela prefeitura em Caieiras. Alguns consideram melhor continuar com o atual prefeito, outros acreditam que somente Josie tem condições de derrotá-lo. Porém, a realidade é que nem Lagorinha, nem Josie e muito menos Hamamoto representam alguma mudança positiva para os trabalhadores e as trabalhadoras de Caieiras.

Independentemente de quem sair vitorioso para a gestão da prefeitura e de como será formada a nova bancada de vereadores, que nos últimos mandatos não contou com nenhum vereador de esquerda, não devemos esperar nada, seja do prefeito ou prefeita, seja da câmara de vereadores. As conquistas dos trabalhadores de Caieiras deverão ser conquistadas nas ruas, com a luta organizada, tal como o exemplo dos professores municipais demonstrou.

Interessante notar que, em uma pesquisa de julho deste ano, quando perguntado aos entrevistados: “se as eleições para Prefeito de Caieiras fossem hoje, em quem o(a) Sr(a) votaria?”, sem mencionar candidatos, quase 60% não sabia ou não respondeu! E mais de 7% disse que ninguém, branco ou nulo! Embora o cenário mude ao mencionar os candidatos, com o atual prefeito em primeiro lugar nas pesquisas, os resultados de nenhum, branco ou nulo continuam acima de 7% e mais de 6% não sabe ou não respondeu. Mas, o que isso significa?

Temos discutido em nossos documentos de análise da situação política que a classe trabalhadora e a juventude têm se afastado das eleições, porque cada vez mais estão deixando de enxergar o processo como algo que pode, de fato, trazer melhoras para sua vida. Na realidade, esse sentimento não está errado, pois as eleições burguesas são um terreno da classe inimiga,que demonstra as oscilações da luta de classes de forma distorcida.

O que é necessário em Caieiras – bem como em toda a região do chamado CIMBAJU (Consórcio Intermunicipal dos Municípios da Bacia do Juqueri), que engloba as cidades de Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato, Mairiporã e Cajamar – é apresentar uma alternativa para a classe trabalhadora, revolucionária e de luta, de combate ao sistema capitalista e de defesa dos interesses dos trabalhadores. Essa é a tarefa que a OCI ajuda a realizar, participando das diversas lutas de nossa classe.

Se você quer ajudar a construir uma alternativa comunista e revolucionária, que possa de fato ajudar as conquistas da classe trabalhadora, entre em contato conosco pela nossa campanha: Você é comunista? Organize-se!

Referências:

1 MEIRELLES, Matheus. Indústria química deve encerrar 2023 com queda no faturamento de 16%, diz associação. CNN Brasil, 14 dez. 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/industria-quimica-deve-encerrar-2023-com-queda-no-faturamento-de-16-diz-associacao/

2 FONTES, Stella. Em carta ao governo, federações de indústrias defendem elevação da tarifa de importação de químicos. Valor Econômico, 29 ago. 2024. Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/08/29/em-carta-ao-governo-federacoes-de-industrias-defendem-elevacao-da-tarifa-de-importacao-de-quimicos.ghtml

3 Melhoramentos registra novo aumento de EBITDA em 2023. Melhoramentos. Disponível em: https://www.melhoramentos.com.br/melhoramentos-registra-novo-aumentode-ebitda-em-2023-e-se-preparapara-proxima-fase-em-2024/

4 ‘Lagoinha só assina, quem manda em Caieiras é Kiko Celeguim’, diz vice-prefeito. Conexão Juquery, 23 jul. 2021. Disponível em: https://conexaojuquery.com.br/lagoinha-so-assina-quem-manda-em-caieiras-e-kiko-celeguim-diz-vice-prefeito/