#NossaLutaÉdeClasse

A hashtag #meuvotoserafeminista, que ganhou as redes sociais nas últimas eleições permanece como uma das principais estratégias de mobilização de parte das mulheres organizadas à esquerda e por isso merece nossa atenção. Essa iniciativa, segundo o seu site, “continuará como campanha permanente, considerando que a luta pela representação política das mulheres continuará sendo necessária”. Essa ação é organizada pela “ColetivA Feminista Suprapartidária PartidA”, assim mesmo, tudo no feminino, porque assim não resta dúvidas – nem para a gramática – que o objetivo é demarcar um território, cheio de “desconstruções” e novos “discursos”. Mas esvaziado daquilo que deveria ser a sua essência, o recorte de classe e a necessidade da unidade de homens e mulheres da classe trabalhadora para a luta contra o atual sistema, o capitalismo.

Dentre as “principiAs” da “ColetivA PartidA”, destacamos a defesa da necessidade de impulsionar candidaturas de mulheres na política institucional em todo o país, pois isso por si só representaria uma mudança de paradigma na lógica do poder que conduziria a uma radical democracia feminista.

Mas de que raios de democracia feminista estão falando? Democracia feminista é algo à parte da democracia burguesa? Como se opera tal democracia no moldes do capitalismo? É espantoso como não só os ditos coletivos, mas os partidos de esquerda e suas tendências de diferentes campos, estão impregnados pelo identitarismo, por uma ideologia pequeno burguesa anti-marxista, que os levam a adotar o discurso do “voto feminista”. Movimentos com essa perspectiva só servem para reforçar a ilusão de que a participação nos processos eleitorais, ditados pelas instituições burguesas, podem garantir por si só que a representatividade feminina se reverta em mudanças objetivas na realidade concreta de milhares de mulheres e jovens brasileiras.

Nesse sentido, essa campanha busca justificar-se na baixa representação política das mulheres, observando que o Brasil ocupa 152º lugar na paridade entre homens e mulheres na política, sendo o pior resultado entre os países da América Latina.

Se houvesse uma hipotética garantia de que, apenas com a paridade entre mulheres e homens nesse modelo de estado atual, as desigualdades e todas as formas de opressão seriam suprimidas, nós do Movimento Mulheres pelo Socialismo engrossaríamos esse coro, mas como essa possibilidade é definitivamente nula, chamamos e chamaremos sempre o voto de classe.

No que tange ao governo Bolsonaro, de acordo com postagem de 4 de dezembro do movimento #meuvotoserafeminista, o grande problema está na composição dos 20 ministros do primeiro escalão, onde somente uma é mulher.

Todavia cabe aqui uma pequena menção a quem é essa mulher: Tereza Cristina (DEM – MS), ministra da agricultura, é uma fidedigna representante da bancada ruralista. Ora bolas, não é preciso grande esforço para concluir que o que menos conta aqui é o gênero da referida ministra, mas antes e, sobretudo, os interesses que ela representa, caindo por terra qualquer correlação entre gênero e bandeiras de luta. Infelizmente o “protagonismo feminino” na vida pública tem nos rendido imensos dissabores mundo afora, juntando-se aí os nomes de Dilma Roussef, Cristina Kirchner, ou Michelle Bachelet, que mesmo sendo governantes consideradas da “esquerda”, ao darem sustentação ao atual regime, também cumpriram o papel de perpetuar a opressão sobre o sexo feminino. Já Marine Le Pen, Angela Merkel, Hillary Clinton e Tereza May, como mulheres fielmente representantes de sua classe, cumpriram à risca todas as medidas necessárias para a sobrevivência do capitalismo. Um dos maiores exemplos nesse quesito foi Margaret Thatcher no Reino Unido que mesmo depois de suas medidas reacionárias contra a classe trabalhadora britânica e internacional nos anos 1980, que causou o desemprego de quase 4 milhões de trabalhadores, teve um filme produzido em sua homenagem sugerindo que ela seria uma heroína feminista, negando descaradamente o ódio que as mulheres da classe trabalhadora sentem pela Dama de Ferro e tudo o que ela representa.

Mesmo com a história nos dando demonstrações concretas de que a questão fundamental não é de representação de gênero, o coletivo PartidA, seguindo a mesma toada, em postagem de 13 de novembro, apresenta um ‘Perfil das Prefeitas no Brasil (2017-2020), resultado de uma pesquisa produzida pelo Instituto Alziras. Ali claramente as mulheres são chamadas a elegerem prefeitAs em 2020, colocando a luta feminista como a principal trincheira contra Bolsonaro.

Definitivamente, a nossa organização contra a saraivada de ataques a que trabalhadores e juventude estarão expostos no governo Bolsonaro não pode esperar até 2020.

A violência cotidiana a que estão submetidas as mulheres na nossa sociedade, sejam elas negras, brancas, LGBT, hétero, mães, com companheiro ou sem companheiro, deve ser combatida, mas não poderá ser resolvida somente através da chamada “representatividade” feminista nas câmaras.

Dessa forma, essa campanha expõe as diversas contradições a que o sistema capitalista nos coloca todos os dias. Além disso, desagrega jovens e trabalhadoras e perde uma oportunidade ímpar de educar o conjunto da classe dentro de seus métodos históricos de combate, alimentando as ilusões de que uma vitória de gênero, por si só, poderá representar um avanço para a sociedade nos marcos do capitalismo.

Então, qual é a saída? Certamente não é o oportunismo eleitoral ou o reformismo, que já se mostraram contrarrevolucionários na história de lutas da classe trabalhadora. Se é verdade que milhares de mulheres e jovens engrossam os movimentos feministas de diversos matizes no Brasil e no mundo, é verdade também que as direções deveriam ter o papel determinante de não fomentar falsas ilusões dentro desse sistema com a cantilena da “construção de políticas públicas onde a vida de toda mulher e seus direitos sejam coletivamente respeitados e valorizados” ou “na retomada da democracia pelo feminismo”. Isso definitivamente é um engodo.

As mulheres não são elementos isolados na nossa sociedade, assim como não o são os negros e os LGBT’s. As transformações sociais que necessitamos para toda a humanidade dependem da organização da classe trabalhadora com vistas à revolução desse modelo de sociedade. É preciso que as jovens e mulheres trabalhadoras se organizem e estejam mobilizadas em torno das suas reivindicações transitórias, como a luta contra a violência, o direito ao aborto e à educação; contra o machismo, racismo e homofobia, entendendo a relação dessas lutas com as lutas históricas da classe trabalhadora, como a luta contra o desemprego, a retirada de direitos, a reforma do ensino médio, a reforma da previdência e trabalhista e a precarização dos serviços públicos.

É partindo dessas lutas concretas, com o objetivo de unificar jovens e trabalhadores, que o Movimento Mulheres pelo Socialismo repudia qualquer campanha que incite a divisão entre as mulheres e os homens da nossa classe, utilizando do oportunismo eleitoral e do identitarismo para adiar os combates do presente em troca das ilusões nas urnas.