No último domingo, dia 10/07, o camarada Gustavo Ortega faleceu. Perdemos um combatente da Esquerda Marxista no Espírito Santo, perdi um querido amigo. Conheci o Gustavo como estudante do curso de Letras Português da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), com a sensação de o estar reconhecendo. Cheguei a comentar “acho que já te conheço”, ao que ele respondeu que fazia um trabalho como DJ e já havia organizado muitas festas, inclusive a lendária “Pindorama”, que muito agitou a noite capixaba. Creio que nos aproximamos a partir de uma discordância, quando me confrontou no curso de “Literatura Brasileira 2: narrativa”, que ministrei entre os anos de 2018 e 2020.
Isso se deu quando afirmei ser impossível dentro do modo de produção capitalista qualquer forma de acabar com as opressões de raça, gênero e mesmo de qualquer forma de produção realmente sustentável. Os diálogos são bastante áridos na universidade quando se ataca as teorias pós-modernas supostamente pós-hegelianas como multiculturalismo, decolonialismo, pós-colonialismo entre outras que se desdobraram nos Estudos Culturais. Apontar os erros grosseiros de Spivak, Homi Bhabha, Sturat Hall, Goldberg, Heloísa Buarque de Holanda entre outros significa sua morte acadêmica.
Levantou certa polêmica a discussão sobre a libertação dos escravos e a formação social brasileira, quando chegávamos no conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis, e a discussão em torno do pensamento do sociólogo e crítico literário Roberto Schwarz e demais críticos da Formação da Literatura Brasileira. A maioria torcia o nariz quando afirmava que o imperialismo americano usava teorias como a de Foucault para fomentar a divisão da classe trabalhadora. A coisa se intensificou quando nos embrenhamos no romance “Parque Industrial” de Patrícia Galvão, a Pagu.
As discussões entre mim e Gustavo foram sempre bastante respeitosas, embora em alguns momentos bastante calorosa. Ao findar dos cursos que fez comigo, quando o encontrava ele era sempre muito doce e quando avistava minha companheira não deixava de dizer: “Manda um abraço lá pro professor”. Aliás nunca deixou de me chamar assim, mesmo quando ingressou na organização.
Fato é que dois anos mais tarde Gustavo me procuraria me dizendo que aquelas coisas que havia dito, que inicialmente lhe pareciam apenas um contrassenso, haviam lhe ajudado a compreender a realidade à sua volta. Foi então que começamos um diálogo mais próximo, em que tive o privilégio de o conhecer um pouco mais e pude ver que o interesse pelas ideias do marxismo era acompanhado de uma ânsia e angústia que o transbordavam, uma revolta incontida que eu supunha se dirigir contra seu próprio ego na impotência de transformar a realidade medíocre. Minha luta, portanto, era fazer ele ver que essa energia deveria ser usada na construção de um partido revolucionário, que poderia sim transformar radicalmente a realidade.
Nesse caminho o convidei para a participar do I Seminário Nacional em Defesa da Educação Pública Gratuita e Para Todos e foi aí que ele se apaixonou pela ideia da revolução e pela organização, algo lhe acendeu uma centelha que viria a resultar em seu recrutamento como militante da Esquerda Marxista. Nesse curto período em que Gustavo militou a nosso lado, colaborou em importantes intervenções públicas e atividades presenciais que ajudaram a construir nosso Comitê Regional no último período.
Foi uma honra conhecê-lo, ser seu professor e companheiro na organização. Continuaremos na luta, camarada Gustavo, resignados na construção do instrumento fundamental para destruir esse mundo calhorda e sob seus escombros construir um outro, cheio de poesia, música e potência de felicidade.
Saudações revolucionárias e um saudoso abraço do “professor”!