Nova eleição no Amazonas e a posição do PSOL

No dia 4 de maio, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu pela cassação do então governador do Amazonas, José Melo (PROS), por compra de votos nas eleições de 2014. Como determina a lei eleitoral, um novo pleito foi marcado para o dia 6 de agosto, com campanha a partir do dia 20 de junho.

A brecha aberta pela cassação trouxe de volta ao jogo político as velhas oligarquias que há décadas disputam e se alternam no poder do estado. Amazonino Mendes (PDT), prefeito de Manaus por três vezes e governador do Amazonas em dois mandatos, é um dos nomes confirmados na disputa.

Outra figura certa é o senador Eduardo Braga (PMDB), ministro de Minas e Energia no governo Dilma, ex-governador do Amazonas e ex-prefeito de Manaus. Ele recebeu o curioso apoio da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), mesmo tendo encampado o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A histórica fica ainda mais interessante quando sabemos que o seu vice, Marcelo Ramos (PR), já foi do PCdoB, passou para o PSB, flertou com a REDE e terminou nos braços de um cacique do qual ele já foi crítico ferrenho.

O PT, por sua vez, lançou o nome do deputado estadual José Ricardo como candidato em uma chapa puro-sangue que já nasce dividida devido à forte rejeição de seu vice, Sinésio Campos, até mesmo entre a militância petista.

O pastor-empresário Silas Câmara era o pré-candidato do PRB, mas inesperadamente decidiu retirar sua candidatura durante e convenção partidária. Outros nomes confirmados são a ex-apresentadora de TV Liliane Araújo (PPS), o ex-vereador e ex-deputado federal Marcelo Serafim (PSB), a ex-deputada federal e ex-superintendente da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Rebecca Garcia (PP), e o presidente da Câmara Municipal de Manaus, Wilker Barreto (PHS). PCB e PSTU decidiram não lançar candidatos para a eleição suplementar.

Coligação com a REDE

Em um cenário fortemente dominado por figuras da política burguesa, era de se esperar que o PSOL trouxesse uma alternativa socialista e com bases na classe trabalhadora para a disputa. No entanto, a presidência do diretório estadual (corrente Unidade Socialista), alegando falta de recursos financeiros e de deputados eleitos para participação nos debates televisivos, optou desde os primeiros instantes pela coligação com a REDE como vice do deputado estadual Luiz Castro.

Tendências de esquerda do PSOL, dentre elas a Esquerda Marxista, fizeram frente à proposta e combateram a coligação com a REDE em todas as oportunidades antes e durante a convenção. Mesmo assim a proposta da direção do PSOL Amazonas foi homologada no dia 12 de junho, com indicação do delegado de polícia João Victor Tayah, e no dia 16 a convenção da REDE terminou o serviço e tornou a chapa REDE-PSOL realidade.

Essa não é a primeira vez que o PSOL busca apoio de partidos burgueses ou pequeno-burgueses. Nas eleições municipais do ano passado, alianças com PV, PDT, e a própria REDE foram realizadas em Belém (Edmilson Rodrigues), Salvador (Fábio Nogueira), Florianópolis (Elson Pereira) e Santarém (PA) (Márcio Pinto).

É grande a pressão para que o PSOL se adapte ao sistema. É o que temos visto ocorrer internacionalmente com as alternativas de esquerda que aparecem e crescem a partir da falência política dos partidos reformistas tradicionais. O exemplo mais escandaloso é o do Syriza, na Grécia, que ganhou as eleições com um discurso contra a austeridade, criticando a capitulação do Partido Socialista (PASOK) e seis meses depois também traiu vergonhosamente os trabalhadores.

O caminho do PSOL

O PT, o partido sem patrão nascido das grandes greves de metalúrgicos do ABC paulista, rendeu-se à conciliação de classes e hoje jaz descartado e traído pela burguesia a quem decidiu servir por mais de uma década.

A única maneira do PSOL traçar um caminho diferente do PT e despontar como um partido que de fato represente as massas trabalhadoras brasileiras, responsabilidade histórica que mais cedo ou mais tarde virá à tona diante da crise que se aprofunda, é manter sua independência política, financeira e de classe.

Não basta estar ausente das listas de corrupção e não aceitar doações de empreiteiras ou multinacionais, é preciso rechaçar completamente qualquer união com partidos burgueses e pequeno-burgueses sem base na luta de classes. Isso inclui partidos supostamente “progressistas” como a REDE, que não tem uma única linha sobre socialismo em seu manifesto e já mostrou profundas ligações com bancos e grandes empresas como o Itaú e a Natura.

Qualquer outro caminho levará inevitavelmente ao mesmo fim que teve o PT e tantos outros partidos que um dia representaram gloriosamente a luta dos trabalhadores e hoje estão condenados a um papel secundário e subalterno no sistema político burguês.

A Esquerda Marxista, enquanto corrente do PSOL, defende essa independência e não tem acordo com coligações como a que foi aprovada para a eleição no Amazonas. Nossa luta é para que o PSOL se torne um partido de trabalhadores de massa, classista e independente pronto para aglutinar os batalhões pesados da classe trabalhadora em sua luta contra o sistema podre que mostra sinais cada vez maiores de esgotamento.