Foto: Agência Amazônia Real

Nova onda de Covid-19 em Manaus: no capitalismo não há saída

Após ser destaque nos noticiários do mundo todo com suas valas comuns, câmaras frigoríficas para cadáveres e até mesmo falta de caixões, o Amazonas vive um aumento ainda maior nos casos de Covid-19. Somente nos primeiros dias de 2021 morreram mais pessoas do que na soma de meses inteiros de 2020 e o frágil sistema de saúde do estado volta a entrar em colapso.

A curva de casos voltou a subir já em dezembro, que encerrou como um dos meses com mais mortes do ano passado. Somadas, a política absolutamente inócua do governo Wilson Lima (PSC) para conter novas contaminações e as festas de fim de ano parecem ser as principais responsáveis por esse aumento. No entanto, é preciso entender que o cenário para o desastre já estava preparado muito antes do Natal ou do Ano Novo.

Desde o início da pandemia, o Amazonas foi um dos estados mais afetados no Brasil. Entre os meses de março e abril o governo chegou a fechar o comércio e restringir algumas atividades na capital, mas em momento algum Manaus viveu um lockdown de verdade. A indústria, principal motor econômico da cidade, permaneceu funcionando normalmente sob o olhar complacente do sindicato de metalúrgicos dirigido pelo PT. Ao mesmo tempo, milhares de trabalhadores não essenciais continuaram se aglomerando no transporte público lotado e em locais de trabalho que não oferecem qualquer proteção.

Pressionado pela burguesia local, o governo decretou a reabertura das atividades econômicas muito antes do que poderia ser considerado seguro. Para honrar compromissos com fornecedores, o governo também retornou as aulas presenciais e rifou a vida de milhares de trabalhadores da educação, alunos e seus familiares. Para completar, a gestão de Wilson Lima é, além de inepta, corrupta, como ficou provado no esquema de compra de ventiladores mecânicos superfaturados no auge da primeira onda.

Além de não ter realizado lockdown, em nenhum momento o Amazonas fez testes em massa na população, rastreamento de casos ou qualquer outra medida cientificamente comprovada para frear a contaminação. Os esforços se limitaram à criação de mais leitos clínicos e de UTI no estado, juntamente com a distribuição de equipamentos para as cidades do interior (que não contam com nenhum leito de UTI).

Só que a Covid-19 não é uma doença que se combate com mais leitos, uma vez que a capacidade de propagação do vírus é muito maior do que a capacidade dos governos de aumentar a estrutura hospitalar ou contratar mais profissionais de saúde. O resultado é o que vemos agora: crescimento de casos e mortes em escala jamais vista.

Além do sistema público, os maiores hospitais privados de Manaus anunciaram em suas redes sociais não terem mais capacidade de realizar novas internações. Em alguns deles, nem mesmo casos de urgência estão sendo atendidos se não forem de Covid-19 e os pacientes estão sendo encaminhados para os prontos-socorros da rede pública. Na última semana, dois hospitais entraram com ações na justiça para garantir o fornecimento de cilindros de oxigênio, cujos estoques estão baixíssimos e já começam a se esgotar em diversas unidades.

Foto: Prefeitura de Manaus
O número de óbitos é tão grande que as funerárias já não dão conta da demanda e famílias estão esperando até dois dias para enterrar seus mortos. A resposta do prefeito recém-eleito David Almeida (Avante) é cavar mais sepulturas, já que segundo ele “não há necessidade de um lockdown”.

Em uma tentativa vergonhosa de enganar a população e encenar algum tipo de atendimento adequado, a prefeitura também distribui os ineficientes “kits covid” cuja capacidade de evitar ou diminuir os sintomas da doença não foram comprovados por qualquer estudo científico sério e que têm sido usados pelo governo Bolsonaro como Santo Graal contra a pandemia. Após recente visita do ministro Eduardo Pazuello, o Ministério da Saúde enviou um ofício à prefeitura de Manaus dizendo ser “inadmissível” a não prescrição de cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina das unidades do município.

Enquanto os poderes batem cabeça por aqui, no Japão foi identificada uma nova variante do vírus Sars-Cov-2 em viajantes que passaram pelo Amazonas. Segundo estudos preliminares, essa variante pode ser mais contagiosa e tornar ainda mais fácil a reinfecção do que as variantes recentemente encontradas na Grã-Bretanha e África do Sul.

Mas essa mutação não é obra do acaso. Cada infecção dá ao vírus uma nova chance de evoluir e adquirir características que o tornem mais resistente. O que pode ser melhor para sua evolução que uma cidade com mais de 2 milhões de habitantes que recebe um grande número de viajantes do Brasil e de outros países e onde a doença jamais foi controlada? Eis o presente sombrio que a prefeitura de Manaus e o governo do Amazonas, em cumplicidade com o governo federal, dão ao mundo.

A verdade é que o capitalismo não é capaz de oferecer qualquer resposta eficiente a essa pandemia em Manaus ou qualquer outro lugar. Para os patrões, pouco importa a vida ou a saúde dos trabalhadores desde que seus lucros estejam garantidos. Em um país com 14 milhões de desempregados, cada trabalhador que morre pode ser facilmente substituído por salários e condições de trabalho ainda menores.

É preciso acabar com esse sistema podre que nos sacrifica em nome dos interesses de uma minoria de parasitas e exploradores. Somente uma economia planificada sob controle dos trabalhadores é capaz de movimentar facilmente recursos materiais e humanos para garantir a segurança e a saúde de todas as pessoas, bem como atendimento médico e até mesmo a vacinação universal e gratuita. É preciso derrubar Bolsonaro e todo o seu governo com mobilizações de massa, sem esperar por impeachment ou qualquer outra saída institucional que só existe para manter intactas as estruturas da democracia burguesa.